
Recuo foi puxado pelo setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios e bebidas: -2,2% na comparação com outubro
As vendas do comércio varejista brasileiro recuaram 0,1% em novembro – mês tipicamente positivo para o setor por conta da proximidade do Natal e da Black Friday. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (15) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A queda interrompeu seis meses de aumento nas vendas do varejo, registradas após as intensas quedas nos primeiros meses de pandemia (chegou a despencar 16,6% em abril). De acordo com a pesquisa, foi justamente o setor de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios e bebidas – o único que manteve as vendas no período de isolamento – que puxou a queda na comparação em novembro: queda de -2,2% na comparação com outubro.
Além do desemprego recorde, a queda na renda das famílias e o corte pela metade do auxílio emergencial (reajustado por Bolsonaro em agosto), o IBGE aponta a alta inflação dos alimentos como principal causa para redução do consumo.
“Se olharmos, por exemplo, para a receita das empresas dessa área [hipermercados], houve um declínio de 0,8%. E a diferença entre a receita e o volume de vendas demonstra um aumento de custos. Mas, além disso, é comum que o consumidor, quando tem uma queda de renda ou do seu poder de compra, passe a comprar menos produtos que não são essenciais e a optar por marcas mais baratas”, apontou o gerente da pesquisa, Cristiano Santos.
O preço dos alimentos teve inflação média de 14% em 2020, relevaram os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), a inflação oficial do país, calculada pelo próprio IBGE. Dados do Dieese também apuraram que a cesta básica ficou mais cara em todas as regiões do país, chegando a comprometer mais da metade do salário do mínimo.
Nesta comparação, outros setores do varejo que tiveram resultados negativos importantes foram combustíveis e lubrificantes (-0,4%), móveis e eletrodomésticos (-0,1%).
No confronto com igual mês do ano anterior o varejo restrito cresceu 3,4% e acumula resultado positivo de 1,2%.
Varejo ampliado
Incluindo a venda de veículos e material de construção, o volume de vendas cresceu 0,6% em novembro sobre outubro. No acumulado do ano e nos últimos 12 meses, no entanto, há queda de 1,9% e 1,3%, respectivamente.
2021
De acordo com analistas econômicos, o cenário de 2021 é ainda mais complexo que do ano passado – já que o país começa o ano com mais de 14 milhões de desempregados e sem as medidas emergenciais e de estímulo aprovadas pelo Congresso Nacional.
“O varejo conseguiu apresentar expansão em 2020, especialmente em meio aos estímulos sustentados durante a pandemia. Mas, olhando para frente, existe a possibilidade de que a alta da inflação de alimentos e a redução do auxílio emergencial continuem trazendo um viés negativo para o setor”, avaliou a economista Lisandra Barbero ao G1.
Segundo ela, há indícios de que houve desaceleração também em dezembro, como a queda de 26% na venda de veículos novos e a perda de ritmo do Índice de Confiança do Comércio.