
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), pode achar que é muito lógico (ou muito “político”) vetar a lei que cria a praça Marielle Franco em Brasília, porque as finanças do DF são quase inteiramente dependentes do governo central.
Mas não é. Nem “político” e nem lógico.
Bolsonaro, certamente, passará – e os homens de bem ficarão. Do que estes se lembrarão no futuro (palavra que, nesse caso, pode significar apenas alguns meses ou uns poucos anos)?
Ibaneis Rocha foi presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Distrito Federal, onde presidiu a Comissão de Direitos Humanos – e, aliás, foi, também, diretor da OAB Nacional. Um homem de trajetória respeitável.
Entretanto, disse o governador, para fundamentar o seu veto ao nome de Marielle Franco, “não há relação entre o nome da vereadora e o Distrito Federal” e “a tradição é homenagear pessoas que tenham servido diretamente à comunidade do DF”.
Por essas razões os nomes de Tiradentes e Getúlio Vargas não poderiam patrocinar nenhum logradouro no Distrito Federal.
Entretanto, como Brasília se localiza no Brasil – e, até mesmo, é a sua capital – essas razões não existem.
O assassinato de Marielle Franco – e do motorista Anderson Gomes – foi um ato terrorista, covarde, infame, no deslanchar da campanha eleitoral para a Presidência da República, em 2018.
Posteriormente, a polícia prendeu o assassino direto de Marielle no mesmo condomínio em que residia Bolsonaro – e onde o assassino também morava, aliás, na mesma rua que o então candidato a presidente.
Foi desse condomínio – onde, nessa época, moravam Bolsonaro e o assassino – que o último saiu, em 14 de março de 2018, para tocaiar e atirar em Marielle.
Ela morreu com três balas na cabeça e uma no pescoço. Anderson, com três balas nas costas. Todas as balas vindas da mesma arma, uma submetralhadora alemã HK MP5. Assassinados aos 39 anos de idade, tanto um quanto outro.
As investigações prosseguem, para a descoberta dos mandantes.
São evidentes os motivos da escolha de Marielle para alvo desse atentado sórdido: era mulher, era negra, era politicamente “de esquerda”, e era lésbica.
Tudo o que os adeptos do bolsonarismo procuravam estigmatizar – e ainda procuram.
Em suma, era a vítima ideal, a vítima condensada, para o “terrorismo excitante” do fascismo, empenhado em chegar ao governo do país.
O crime foi tão bárbaro quanto o assassinato do deputado Giacomo Matteotti pela milícia de Mussolini. Ou, talvez, ainda mais bárbaro, ou mais escandaloso, pelas circunstâncias – nenhum dos assassinos de Matteotti morava no mesmo condomínio que Mussolini.
Mas, aqui, nos dispensamos de demonstrar que o assassinato de Marielle Franco teve importância nacional, mais do que já o fizemos. A Câmara Distrital – o parlamento do Distrito Federal –, que aprovou a lei criando a praça Marielle Franco, já fez isso.
Agora, é necessário derrubar esse veto. Que a Câmara Distrital cumpra o seu papel na História.
CARLOS LOPES