O relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Tortura, Nils Melzer, denunciou que a vida de Julian Assange, fundador do WikiLeaks, está sob risco iminente diante das constantes torturas psicológicas a que vem sendo submetido na prisão de segurança máxima de Belmarsh – reconhecida como a “Guantánamo inglesa”.
“Acumulativamente, esta prática profundamente arbitrária conduz a uma superestimulação nervosa constante que, segundo mostra a experiência, pode provocar um colapso circulatório, uma crise nervosa ou inclusive a morte. Sem rastro de sangue. Se trata de uma tortura branca”, sublinhou o relator da ONU. Conforme Melzer, desde a última vez em que visitou o ativista na prisão já pôde perceber o debilitamento de várias das suas habilidades cognitivas e que, de forma ilegal, o estão impedindo até mesmo de contatar seus advogados norte-americanos.
Igualmente preocupado pelas condições impostas a Assange, seu amigo, o jornalista Vaughan Smith alertou que, na véspera do Natal, o fundador do WikiLeaks lhe telefonou para pedir socorro. “Nos contou a mim e a minha esposa como estava morrendo lentamente em Belmarsh, onde é mantido em confinamento solitário durante 23 horas por dia e, frequentemente, sedado”, disse Smith, ressaltando que “o procedimento de extradição começa em fevereiro e ele necessita desesperadamente de nosso apoio”.
Após permanecer sete anos como exilado político na Embaixada do Equador em Londres, Assange foi entregue em 11 de abril do ano passado pelo governo de Moreno à polícia britânica. Logo após a detenção do ativista, os Estados Unidos formalizaram uma acusação por uma hipotética “conspiração” e, no dia 23 de maio, lhe indiciaram por 17 novos “crimes”, entre os quais “violação da Lei de Espionagem”, que poderiam redundar numa condenação de até 175 anos de prisão.
SOLIDARIEDADE A CHELSEA MANNING
Da mesma forma, alertou Nils Melzer, a ex-analista de inteligência do Exército, Chelsea Manning, está sendo submetida a tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, “uma medida de coerção aberta e progressivamente severa”, que expõe claramente “todos os elementos constitutivos da tortura”. Presa em 16 de maio após ter se recusado a testemunhar contra o WikiLeaks, Manning foi jogada no Centro de Detenção de Alexandria, na Virgínia, e está enfrentando multas diárias de US$ 1.000.
“A prática da privação coercitiva da liberdade por desrespeito civil envolve a inflição intencional de sofrimento mental e emocional progressivamente severo para fins de coerção e intimidação por ordem das autoridades judiciais”, informou o especialista em Torturas da ONU. Na avaliação de Melzer, este tipo de confinamento coercitivo prolongado tem redundado em lesões pós-traumáticas e “outras graves e persistentes consequências mentais e físicas para a saúde”. A prisão de Manning, reiterou, é uma “medida coercitiva severa no valor de tortura e deve ser interrompida e abolida sem demora”, pois é “incompatível com as obrigações internacionais de direitos humanos” dos EUA sob várias convenções internacionais.