
O Senado dos EUA confirmou nesta quinta-feira (17) Gina Haspel como diretora da CIA. Indicada por Trump e aprovada uma semana antes pelo Comitê de Inteligência do Senado, Haspel é conhecida entre seus pares na Agência como “Gina Sanguinária” e “Rainha da Tortura”.
Haspel foi confirmada no Plenário do Senado por 54 a 45 votos. A composição atual do Senado é de 51 republicanos, 47 democratas e 2 independentes. Três senadores republicanos se opuseram a sua nomeação e a bancada republicana só entregou 48 votos, insuficientes, portanto. A “Rainha da Tortura” foi salva então pelos votos de seis senadores democratas.
A indicação de Gina Haspel foi repudiada desde o início por seu envolvimento direto com a prática de torturas perpetradas nos anos seguintes aos ataques de 11 de setembro, que incluíram waterboarding (afogamento).
Em 2002, Haspel supervisionou uma prisão secreta da CIA na Tailândia, onde sua “supervisão” incluia o acompanhamento direto das torturas. Além disso, Haspel destruiu anos depois as fitas que comprovariam os crimes de tortura, inclusive os seus, na Agência.
Os opositores de sua nomeação incluem mais de 100 almirantes e generais da reserva que assinaram uma carta contra sua indicação para a direção da CIA.
Mas a oposição ao nome de Haspel é ainda mais contundente entre aqueles que a conhecem mais de perto.
Segundo afirmou o ex-agente da CIA, John Kiriakou, que ficou preso por 23 meses durante o governo Obama por ter denunciado a tortura, em entrevista a Amy Goodman, do programa Democracy Now, “Gina e pessoas que como ela fizeram isso, [torturaram] acho, porque gostaram de fazê-lo. Torturaram apenas por causa da tortura, não por causa da coleta de informações”. Uma declaração recente de Haspel de que “não acredito na eficácia da tortura”, certamente reforça a percepção de Kiriakou sobre sua motivação para torturar.
Foi Kiriakou que, em dezembro de 2007, revelou em entrevista ao ABC New e depois ao New York Times que o então presidente W. Bush estava mentindo ao dizer que os EUA não torturavam e expôs que a tortura “era a política oficial do governo dos EUA e havia sido pessoalmente aprovada pelo presidente”.
O ex-agente lembrou ainda a condição de Haspel como protegida e chefe de gabinete de José Rodríguez, ex-vice-diretor de operações da CIA e ex-diretor do Centro de Contra-Terrorismo. Kiriakou afirma que foi José Rodríguez a incumbiu de destruir as evidências gravadas em vídeo da tortura de Abu Zubaidah. “Eu sabia o que estava acontecendo com Abu Zubaidah por causa da minha posição nas operações da CIA na época. Mantive minha boca fechada sobre isso, mesmo depois que eu deixei a CIA em 2004. Mas, em 2007, eu tinha tido o suficiente”.
Uma oficial da Reserva Naval dos EUA, a médica Sondra Crosby, especialista em tratamento de vítimas de tortura, sustenta que a nomeação de Gina Haspel como diretora da CIA deve ser revertida.
Crosby conduziu uma avaliação médica do prisioneiro Abdal Rahim al-Nashiri, torturado sob a supervisão de Gina Haspel no âmbito do programa de Interpretação, Detenção e Interrogatório (IDI) da CIA. De acordo com a oficial, o prisioneiro mostra “danos irreversíveis por tortura, que foi extraordinariamente cruel e destinada a quebrá-lo”.
Sondra Crosby disse ainda que o prisioneiro torturado sob supervisão de Gina é “um dos indivíduos mais traumatizados” que ela viu em seus 20 anos de experiência de trabalho com vítimas de tortura em todo o mundo.
Abdal Rahim al-Nashiri, de origem saudita, foi preso sob suspeita de ataque contra o destróier USS Cole Marinha dos Estados Unidos em 2000 e continua atualmente encarcerado na prisão de Guantánamo.