Finalmente – após Minneapolis ter ardido por duas noites – foi preso nesta sexta-feira (29) o policial Derek Chauvin, que sufocou até à morte o cidadão negro desarmado e algemado George Floyd mantendo o joelho sobre o pescoço da vítima por quase dez minutos, apesar da vítima suplicar que “não consigo respirar”. Crime covarde que fez a revolta explodir em Minneapolis, a maior cidade do estado de Minnesota, e em outras cidades dos EUA.
Declaração do procurador-geral na quinta-feira do condado em que fica Minneapolis, Mike Freeman, dizendo que o vídeo era “horrível” mas que “haveria evidência” de que não fora crime, provocaram uma erupção de indignação, que chegou até ao incêndio do 3º Distrito Policial, que fica a poucos metros do local do assassinato, com os policiais tendo de fugir.
Agora Freeman está se gabando pela “rapidez” sem precedentes na acusação.
O próprio prefeito de Minneapolis, Jacob Frey, havia questionado o porquê do policial assassino ainda não estar na cadeia. “Se você tivesse feito isso, ou eu tivesse feito isso, estaríamos atrás das grades agora”, enfatizou então, ao cobrar a prisão.
No entanto, a acusação apresentada contra Chauvin é por homicídio culposo (sem intenção de matar) e assassinato em terceiro grau (quando o responsável pela morte atuou de forma irresponsável ou imprudente). Ou seja, busca atenuar o horripilante crime.
Após considerar a acusação e a prisão de Chauvin “bem vindas”, a família de Floyd reiterou que isso não era suficiente e exigiu que o policial seja enquadrado em homicídio em primeiro grau (com intenção de matar). Os familiares também querem que os outros três policiais, cúmplices no assassinato, sejam presos e levados a julgamento.
“Esperávamos uma acusação de assassinato em primeiro grau. Queremos uma acusação de assassinato em primeiro grau. E queremos ver os outros policiais presos. Pedimos às autoridades que revisem as acusações para refletir a verdadeira culpa deste oficial”, afirmou o advogado Benjamin Crump.
“A dor que a comunidade negra sente por este assassinato e o que reflete sobre o tratamento dos negros na América é crua e está se derramando nas ruas em toda a América”
“A dor que a comunidade negra sente por este assassinato e o que reflete sobre o tratamento dos negros na América é crua e está se derramando nas ruas em toda a América”, acrescentou Crump.
Até então, os quatro haviam sido inicialmente apenas suspensos, o que se transformara em demissão depois dos primeiros protestos nas ruas.
Policial há 19 anos, Chauvin tinha várias denúncias contra ele na corporação, inclusive um assassinato.
Floyd havia sido detido após o funcionário de uma mercearia chamar a polícia por causa de uma suposta tentativa de pagar compras com uma nota falsa de 20 dólares.
O prefeito Frey impôs um toque de recolher, que terá início às 20 horas e será mantido durante todo o final de semana. 500 soldados da Guarda Nacional serão deslocados para Minnesota a pedido de Tim Walz (democrata), governador de Minnesota, disse em uma conferência de imprensa emocional que a agitação que desestabilizou Minneapolis e St. Paul esta semana é o resultado de “gerações de dor, de angústia” sobre o racismo no policiamento. “Os incêndios ainda queimam em nossas ruas”, disse ele. “As cinzas são simbólicas de décadas e gerações de dor, de angústia.”
O legista oficial do condado de Hennepin asseverou que não fez “descobertas físicas que suportem um diagnóstico de asfixia traumática ou estrangulamento”. O médico legista sugeriu que as condições de saúde subjacentes levaram Floyd à morte. A família da vítima anunciou que vai recorrer a uma autópsia independente.
De acordo com a acusação oficializada, Chauvin manteve o peso do corpo sobre o joelho em cima do pescoço de Floyd por 8 minutos e 46 segundos. Não tirou o joelho depois que Floyd disse “Não consigo respirar” ou depois que ele gritou “Mamãe” e pronunciou “por favor”. Ainda de acordo com essa acusação, Chauvin não parou de pressionar com o joelho até quase três minutos depois que outro policial foi incapaz de encontrar o pulso de Floyd.