Lee mistura cena famosa de seu filme ‘Faça a Coisa Certa’ com imagens reais de estrangulamento por policiais racistas
O cinesta negro norte-americano Spike Lee postou um vídeo de um minuto e meio nas redes sociais em que alterna imagens das mortes dos cidadãos negros George Floyd (2020) e Eric Garner (2014) com cenas de 1989 de seu filme “Faça a Coisa Certa”, em que o personagem Radio Raheem é asfixiado até à morte por um policial branco, com um cassetete.
Intitulado “3 Irmãos”, o vídeo abre com a pergunta: “A história vai parar de se repetir?”.
A seguir, vêm as imagens do celular, de 2014, do camelô negro Eric Garner sendo preso em Nova York por policiais, um dos quais rapidamente aplica nele um mata-leão.
Em seguida, começa a saltar entre isso e a cena do confronto de 1989 de Faça a Coisa Certa – onde um policial se recusa a aliviar o estrangulamento com cassetete do personagem Radio Raheem (interpretado por Bill Nunn) – e incorpora as imagens recentes de um policial branco de Minneapolis asfixiando Floyd com o joelho.
A vida real repetindo a arte, e se repetindo nas súplicas, ignoradas, de “não consigo respirar”. O que vem levando a uma revolta de costa a costa dos EUA contra o racismo, a desigualdade e a impunidade.
Laureado cineasta, Lee é o diretor, ainda, entre outros, dos filmes “Malcom X” e “Infiltrado na Klan”.
Em entrevista com Don Lemon na CNN no domingo, ao apresentar seu curta pela primeira vez, Lee disse: “o que estamos vendo hoje não é novo. Nós vimos isso de novo e de novo e de novo, e as pessoas estão fazendo as mesmas perguntas: ‘Por que as pessoas estão se revoltando? Por que as pessoas estão fazendo isso?’”.
A entrevista fez parte de um programa especial da CNN: “Não Consigo Respirar: Negros Vivendo e Morrendo na América”.
E é de Lee a resposta de que é porque as pessoas “estão fartas, estão cansadas do menosprezo, do assassinato de corpos negros”. “É sobre isso que este país é construído”, acrescentou.
Sobre o extravasamento de parte dos protestos contra a morte de Floyd, o cineasta disse que não queria colocar panos quentes sobre certas coisas “mas entendo porque as pessoas estão fazendo o que estão fazendo”.
“O ataque a corpos negros foi feito desde o início”, disse o diretor de cinema, em alusão à chaga aberta da discriminação e ao tóxico legado nos EUA da escravidão e da segregação, esta encerrada há apenas 50 anos.
A CNN liberou uma cópia do filme por cortesia do cineasta: