O reverendo William Barber, que é também integrante do conselho da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NCAAP, principal entidade antirracismo do país), chamou de “obsceno” o uso que Trump fez da Bíblia, dizendo que este deveria, ao invés de encenar com o livro sagrado, “tentar ler o que está escrito nele”
“Acho desconcertante e reprovável que um lugar católico possa ser usado e manipulado de maneira a violar os princípios religiosos mais básicos”, disse o arcebispo de Washington, Wilton Gregory, ao repudiar a atitude do presidente Donald Trump de posar com uma Bíblia em frente à igreja de Saint John, perto da Casa Branca, minutos após ordenar a repressão a um protesto.
O protesto que se realizava entre a Casa Branca e a igreja St. John era mais um entre as centenas que têm acontecido de norte a sul e de costa a costa dos Estados Unidos há nove dias em repúdio ao racismo que levou à violenta morte do cidadão negro George Floyd, cujo assassinato por policiais brancos que o asfixiaram sacode o país.
A encenação com a Bíblia diante da igreja, na segunda-feira, dia 1º de junho, provocou a rejeição de destacados líderes religiosos norte-americanos.
O presidente usou “o poder simbólico do nosso texto sagrado, segurando-o na mão como se fosse uma reivindicação de suas posições e sua autoridade”, assinalou na rádio NPR, Mariann Budde, episcopisa da diocese de Washington, à qual pertence a igreja que Trump visitou. “Foi traumático e profundamente ofensivo no sentido de que algo sagrado foi mal utilizado para um gesto político”, acrescentou.
“Naquele momento, o protesto era totalmente pacífico”, disse Budde. “Não havia justificativa para repressão”, acrescentou, afirmando que “precisamos de liderança moral, e ele faz de tudo para nos dividir”.
A Igreja de Saint John é um templo episcopal protestante que localizado perto da Casa Branca e vidraças estilhaçadas no domingo à noite ao final dos protestos daquele dia.
Trump caminhou por alguns metros entre a sede do governo e o templo, onde posou para fotos erguendo um exemplar da Bíblia. Os manifestantes que protestavam pacificamente foram dispersados com bombas de gás lacrimogêneo e cavalaria para que Trump se exibisse cercado de dezenas de seguranças Mas, o protesto e a repressão foram transmitidos ao vivo em muitas emissoras, deixando exposta a desnecessária agressão.
O presidente da comunidade episcopal, o bispo Michael Curry, repudiou o ato de Trump, apontando que “é um tempo de profunda dor em nosso país, e sua ação não fez nada para nos ajudar ou para nos curar”. “Pelo bem de todos nós, precisamos de líderes para nos ajudar a ser ‘uma nação, sob Deus, com liberdade e justiça para todos’”, destacou.
Na segunda-feira, antes de visitar o templo, Trump ameaçou mobilizar os militares para reprimir os protestos contra o racismo, os maiores acontecidos no país desde os anos 1960.
“Simplesmente pelo fato de segurar uma Bíblia fechada, ele acreditou que ganharia o apoio dos cristãos”, disseram os bispos da Nova Inglaterra, uma região na costa leste dos Estados Unidos, em comunicado.
Na terça-feira, Trump prosseguiu a encenação e fez uma incursão ao santuário da fé católica João Paulo II, acompanhado de sua esposa, Melania. O arcebispo de Washington, Dom Wilton Gregory, taxou tal ida de “desconcertante e repreensível”.
O pontífice, que morreu em 2005, “certamente não toleraria o uso de gás lacrimogêneo e outros elementos para silenciar, dispersar ou intimidar” antes de se fotografar em um local de culto, acrescentou.