“Deter a anexação [do Vale do Jordão] é prioridade”, afirmam em declaração conjunta, divulgada na quarta-feira, dia 10, os ministros do Exterior da Alemanha e da Jordânia e o primeiro-ministro da Palestina.
Os ministros do Exterior da Alemanha, Heiko Maas, e da Jordânia, Ayman Safadi, encontraram-se na capital jordaniana de Amã e falaram por videoconferência com o primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayyeh.
O ministro do Exterior alemão esteve na Jordânia um dia depois de sua visita a Israel onde esteve com o primeiro-ministro Bibi Netanyahu, o vice-premiê Benny Gantz e o ministro do Exterior Gabi Ashkenazi.
Nos encontros com os israelenses, Maas alertou que a anexação unilateral do Vale do Jordão, prevista para o dia 1º de julho tencionaria as relações Israel/União Europeia.
Maas disse a Netanyahu que “a Alemanha não é entusiasta de sanções a Israel”, mas outras nações podem determinar medidas restritivas e também aprovar o reconhecimento unilateral do Estado da Palestina.
Na declaração conjunta, Alemanha, Jordânia e Palestina afirmam que a anexação “fere a Lei Internacional” e “reiteram que a solução deve ser negociada e de acordo com a Lei Internacional e as resoluções da ONU”.
Os três líderes também reafirmam seu “firme compromisso com a Solução dos Dois Estados e se dispõem a ajudar nas negociações que levam a ela”.
Estes movimentos por parte do governo alemão acontecem ao mesmo tempo em que o parlamento da Bélgica aprova moção pedindo ao governo o reconhecimento imediato do Estado da Palestina caso a anexação venha a ocorrer.
ROUBO E CONFLITO ESTIMULADOS POR TRUMP
À anexação do Vale do Jordão, Netanyahu quer acrescentar a dos demais assentamentos judaicos, o que significa tomar posse de 30% de todo o território da Cisjordânia.
Anexar território ocupado por força de guerra por parte da potência ocupante é considerado crime de guerra de acordo com as Convenções de Genebra e também fere todas as resoluções da ONU a respeito do conflito Israel/Palestina que determinam que Israel deve devolver aos palestinos todas as terras ocupadas desde 1967, como resultado da Guerra dos Seis Dias.
Além disso, a retirada israelense também estava assinada conjuntamente pelos líderes de Israel, Yitzhak Rabin, e da Palestina, Yasser Arafat, antes do assassinato por parte de um judeu fanático do primeiro-ministro de Israel e já havia tido início com a assinatura dos Acordos de Oslo.
A infeliz anexação destes territórios estava prevista naquilo que Trump chamou de “o Acordo do Século” que tornaria o Estado Palestino em um território retalhado sem nenhuma continuidade, algo similar aos bantustões que o governo do apartheid sul-africano impôs como locais segregados de uma vida sob cerco e sem legalidade nacional ou cidadã aos negros do país. Segundo o chefe da Casa Branca, essa seria uma oferta generosa, “um grande negócio” que os palestinos não podiam deixar de aceitar.
Com esse plano, Trump buscava conseguir os votos dos judeus norte-americanos assim como dos evangélicos fanáticos que veem uma Israel “limpa de palestinos” um desígnio divino.
Quanto aos judeus dos Estados Unidos, a grande maioria rejeita esse assalto que enterra de vez a Solução dos Dois Estados preconizada por Rabin e Arafat e está disposta a votar no adversário de Trump, o democrata Joe Biden, que também critica o belicoso “acordo”. A essa maioria judaica que se opõe ao assalto Trump/Netanyahu, o presidente norte-americano chamou de “traidores de Israel”.
EMIRADOS ALERTAM PARA TENSÃO COM O MUNDO ÁRABE
No dia 12, o embaixador dos Emirados Árabes Unidos, Yousef al Otaiba alertou os israelenses de que a desastrosa decisão de Netanyahu deve elevar a hostilidade dos árabes para com Israel.
Ele o fez em artigo não usual, em língua hebraica, publicado no jornal de maior circulação em Israel, o Yeditoth Ahronot.
Otaiba afirma que quis “falar diretamente ao público israelense”. No artigo, Otaiba alerta que “todo o progresso na aproximação de Israel com países árabes estará minado”.
“A anexação vai, certamente e imediatamente, colocar um fim às aspirações dos israelenses por melhoria da segurança e conexões comerciais e culturais com o mundo árabe”, escreveu o embaixador.
Otaiba reafirmou que ele e seu país “permanece ardentes advogados a favor do povo palestino e da iniciativa árabe [um documento elaborado após o assassinato de Rabin no qual os países da região reafirmam o apoio à Solução dos Dois Estados dentro do princípio de “terra por paz”].
Dirigindo-se ao governo israelenses, conclui que “o atual movimento unilateral diz, basicamente, da sua descrença na negociação e estão atuando no sentido de minar a Solução dos Dois Estados”.