A decisão do ministro da Justiça, André Mendonça, de pedir à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República (PGR) que abram um inquérito para investigar uma charge de Renato Aroeira, reproduzida pelo jornalista Ricardo Noblat, foi repudiada pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e por diversas outras entidades da sociedade brasileira.
“É estarrecedor que o ministro da Justiça, André Luiz Mendonça, anuncie a abertura de um inquérito policial contra o chargista Aroeira e o colunista Ricardo Noblat, devido a uma ilustração criada pelo primeiro e reproduzida pelo segundo, associando Bolsonaro ao nazismo”, afirma a nota assinada pelo presidente, Paulo Jerônimo.
A charge de Renato Aroeira mostra Bolsonaro com um pincel e um balde de tinta preta nas mãos após pintar as pontas de uma cruz vermelha, que remete ao símbolo usado em hospitais e ambulâncias. A cruz, então, se transforma em uma suástica, símbolo do regime nazista. A charge também mostra Bolsonaro falando “bora invadir outro”, fazendo alusão à ocasião em que o presidente incentivou apoiadores a entrar em hospitais e verificar se os leitos estavam realmente ocupados.
As simpatias de Bolsonaro pelo regime nazista já são notórias há muito tempo – principalmente se levarmos em conta declarações dele do tipo: “Pau-de-arara funciona. Sou favorável à tortura, tu sabe disso” ou “o erro da ditadura foi torturar e não matar. Tinha que ter matado uns 30 mil” (TV Bandeirantes -1999)”.
Assista ao vídeo onde Bolsonaro defende a tortura
Mas, elas só começaram a se tornar mais conhecidas do público quando seu secretário de Cultura, Roberto Alvim, se fantasiou de Joseph Goebbels, chefe de propaganda de Hitler, para fazer um discurso citando frases inteiras do guru de Hitler ao anunciar os planos do governo Bolsonaro para o setor.
O secretário de Cultura não aquilatou adequadamente a correlação de forças na sociedade, achou que tinha espaço para fazer apologia nazista, e caiu. Bolsonaro, que na véspera tinha rasgado elogios ao débil mental, foi obrigado – a contragosto – a demiti-lo, tal foi a reação da sociedade brasileira.
Ou, mais recentemente, quando a Secretaria de Comunicação concluiu uma peça com o slogan que os nazistas inscreveram no portão de entrada do campo de Concentração de Auschwitz, na Polônia, onde mais 1 milhão de pessoas foram mortas. “O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil”, disse a Secom. “O trabalho nos torna livres”, diziam os alemães aos escravos que foram esfolados e mortos por eles.
O ministro da Justiça publicou a decisão persecutória do governo pela internet. “Solicitei à @policiafederal e à “MPF_PGR abertura de inquérito para investigar publicação reproduzida no Twitter ‘Blog do Noblat’, com alusão da suástica nazista ao presidente Jair Bolsonaro. O pedido de investigação leva em conta a lei que trata dos crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social, em especial seu art. 26”, justificou Mendonça em uma rede social.