A Flórida tirou, neste domingo, do Estado de Nova York o sombrio recorde de novos casos de Covid em 24 horas, ultrapassando os 15 mil, contra os 12.875 lá registrados em abril. Como registrou a Reuters, “a Flórida pode se tornar o novo epicentro da pandemia nos EUA”. Além, claro, de ser o local escolhido (Jacksonville) para sua grande convenção à reeleição em agosto.
O total de novos casos na Flórida também já é maior – assinalou a Reuters – que a contagem diária mais alta de qualquer país europeu durante o auge da pandemia do outro lado do Atlântico. Se fosse um país, a Flórida ficaria em quarto lugar no mundo para maior número de novos casos em um dia, atrás dos Estados Unidos, Brasil e Índia.
A media móvel de 14 dias na Flórida registrou um acréscimo de 51% no total de casos e de 28% no de mortes. Mais de quatro dezenas de hospitais no estado reportaram que suas unidades de tratamento intensivo estão lotadas. Desde a reabertura, o total de casos de Covid foi multiplicado por 10. Ainda assim o governador republicano Ron De Santis diz que irá manter o plano de volta às aulas em agosto.
“Eu realmente acho que nós podíamos controlar isso, e é o elemento humano que é tão crítico. Deveria haver um esforço do nosso país. Nós deveríamos estar agindo juntos quando estamos em uma crise, e definitivamente não estamos fazendo isso”, disse a epidemiologista da Universidade da Flórida, Dra. Cindy Prins.
A comparação da atual situação da Flórida se torna ainda mais dramática, na medida em que nesta segunda-feira a cidade de Nova York pela primeira vez não registrou nenhuma morte de Covid nas últimas 24 horas, o que foi comemorado pelo prefeito Bill de Blasio.
A Flórida, governada por um republicano, foi um dos últimos Estados a adotar as medidas de distanciamento social, e um dos primeiros a abandoná-las, com o resultado que está à vista de todos.
Para a professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade do Sul da Flórida, Dra. Marissa Levine, “o problema de fundo é que há mais gente se movendo e não estão necessariamente tomando as precauções que achamos que ajudariam”.
Para a Dra. Levine a escalada de casos está sendo em grande parte impulsionada por jovens, o que é um fator para uma contagem de mortes mais baixa. Mas contribui para que o vírus se dissemine mais amplamente, e não é difícil que, em seguida, acabem por contaminar os pais ou outros parentes mais velhos. “Acho que é isso que estamos vendo”.
Na semana encerrada no domingo, a Flórida registrou 514 mortes por Covid – uma média de 73 por dia – mas que já é mais do dobro da média de três semanas atrás. No país inteiro, quanto às mortes, ainda está bem abaixo do horrendo patamar de 2.200 óbitos diários no meio de abril, mas em seis dias, de 5 a 11 de julho, pulou de 471 para 700. Na semana passada, oito Estados bateram seus recordes de mortes.
No sábado, um grupo de débeis mentais fez um protesto em um restaurante perto de Orlando contra o uso da máscara facial, que alegavam violar sua “liberdade individual”.
À Reuters, alguém que se identificou como ‘Tara Hill’, asseverou que o coronavírus “está muito bem contido”. “Cada um é responsável por suas próprias decisões de saúde”, alegou, acrescentando que “nós queremos que nossas escolhas também sejam respeitadas”.
Naturalmente, esse tipo de gente não teria tanto espaço não fossem os afagos de Trump à estupidez alheia, e os maus exemplos, como sua recusa, até o país chegar a 135 mil mortos pelo coronavírus, a usar a máscara facial. Além da reiterada minimização da pandemia: “é uma gripe comum”, é inofensiva em “99% dos casos”; “cura com cloroquina”; e até a ‘receita’ de “água sanitária no pulmão”.
Na semana passada, por cinco dias consecutivos os EUA superaram a marca de 60 mil casos diários de covid e a pandemia está em alta em 39 dos 50 Estados do país. Além da Flórida, a situação é especialmente grave no Texas – onde Houston, quarta maior cidade norte-americana, está à beira do colapso -, Califórnia e Arizona.
Com 5% da população mundial, os EUA se tornaram recordistas mundiais absolutos da pandemia da Covid, com 25% dos novos contágios e mortes no planeta inteiro. São 3,3 milhões de casos confirmados e 135 mil mortos, números assombrosos que, por si só, refletem toda a incúria e obscurantismo do governo Trump.
Mas como a eleição é daqui há pouco, o ex-apresentador de reality-show – e as urnas vão considerar a pandemia em seu veredicto – já se apressou em jogar a culpa pela ressurgência da pandemia sobre os infectologistas e passou a fritar, pelo Twitter, os Centros de Prevenção de Doenças (CDC) e o principal infectologista do país, o Dr. Anthony Fauci.
No fim de semana, o mundo também registrou o maior números de casos de Covid em 24 horas, 230 mil. Na entrevista coletiva da Organização Mundial da Saúde (OMS) de segunda-feira, o diretor Tedros Adanom Ghebreyesus voltou a advertiu, diante do recrudescimento da pandemia em várias regiões, que a menos que os países adotem uma estratégica abrangente, e testem, rastreiem os contatos para interromper a disseminação e tratem dos doentes, a Covid só irá ficar “pior”.
Como ele lembrou, metade dos novos casos estão nas Américas – isto é, os Estados Unidos e a América Latina, onde é terrível a situação do Brasil, enquanto o quadro se agravou no México, que acaba de ultrapassar a Itália em número de mortos. O total de casos da Covid no mundo já chegou a 13 milhões e os mortos passam de 570 mil.