O presidente da Argentina, Alberto Fernández, afirmou durante encontro do Conselho das Américas, na terça-feira, 21, que seu governo não aumentará o valor da última proposta de pagamento que fez a seus credores para a reestruturação da dívida externa, que está em um montante de 66,2 bilhões de dólares e que o país acumulou principalmente durante o governo de Mauricio Macri.
No foro que reúne empresários e políticos da América Latina e dos Estados Unidos, Fernández assinalou que sua administração busca pagar as dívidas, mas “com seriedade e sem prejudicar mais o povo”, em um país que “tem 40 % de pobreza”. E acrescentou: “Acreditem que isso é o que podemos pagar; e não é um capricho, é sensatez”.
A dívida total da Argentina está em 323 bilhões de dólares, cerca de 90% de seu PIB. E na última auditoria do FMI foi classificada como insustentável até pelo próprio organismo. Desse valor, 20% corresponde a dívidas com fundos financeiros externos que administram investidores estrangeiros que possuem títulos da dívida pública argentina que equivalem a US$ 66 bilhões. Por outro lado, o país possui uma dívida similar com organismos internacionais, como o FMI, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento.
A última oferta do governo argentino é pagar juros a partir de setembro de 2021 – a proposta anterior era começar em maio de 2023 –, e estabelece um pagamento de 59 dólares por cada 100 recebidos nos empréstimos, a maioria deles retirados ilegalmente do país. O próximo 4 de agosto vence o prazo para que os credores respondam se aceitam ou rechaçam a troca.
“Quando chegamos ao governo (em 10 de dezembro de 2019), a Argentina estava em terapia intensiva e com um respirador automático. Chegou a pandemia e desconectou o respirador automático e assim enfrentamos a situação que enfrentamos”, descreveu Fernández o quadro que atravessa o país, e insistiu: “A Argentina sofre uma paralisia da economia que nos últimos quatro anos se aprofundou de um modo muito perigoso, mais de 34 mil empresas fecharam. O desemprego e a pobreza se converteram em um problema social”.
Nesse contexto, o presidente chamou a aproveitar a lição da pandemia e começar a “construir um sistema econômico mais sólido, que inclua, que não deixe ninguém fora, que distribua mais equitativamente. Não é uma tarefa que cabe somente à Argentina”. “Há que repensar a lógica financeira do capitalismo. O que mais a Argentina necessita é investimento, produção, trabalho e desenvolvimento. Não há outro modo de mudar as estruturas de um país que não seja através do desenvolvimento”, propôs.
A posição de Buenos Aires foi apresentada no dia 20, depois que um grupo de credores emitisse um comunicado manifestando que apresentaria una contraoferta conjunta à proposta anterior de Argentina, formalizada no dia 6 de julho. Trata-se do Grupo Ad Hoc de Acionistas de Bônus Argentinos, o Comitê de Credores de Argentina e o Grupo de Acionistas de Bônus de Intercambio, que não têm aceitado as condições do governo argentino.
Entre os principais credores não há nomes muito conhecidos, além do banco HSBC e do Allianz. Entre os 10 principais credores estão empresas especializadas em investimento especulativo. São eles: 1. Allianz: 1.670 milhões de dólares, 2. Fidelity: 1.650 milhões de dólares, 3. BlackRock: 1.500 milhões de dólares, 4. Northern Trust: 800 milhões de dólares, 5. AllianceBernstein (AB): 700 milhões de dólares, 6. HSBC: 470 milhões de dólares, 7. Prudential Financial: 440 milhões de dólares, 8. Ivesco: 400 milhões de dólares, 9. Ashmore: 400 milhões de dólares, 10. Eaton Vance: 350 milhões de dólares.
O presidente Fernández manifestou que é “impossível” que sua administração possa “se mover” em relação à sua última oferta de pagamento, já que aumentar esse valor colocaria “em risco o amanhã” dos setores mais vulneráveis da Argentina.
O ministro de Economia, Martín Guzmán, afirmou no canal de notícias TN que a ideia dos credores de aumentar o valor dos pagamentos “significa, entre outras coisas, ter que ajustar as aposentadorias”, variável que rechaçou de maneira categórica: “Isso não será feito”.
“Esse grupo de credores que rejeitou nossa oferta já o tinha feito antes e não entende quais são as restrições da Argentina. A oferta que fizemos é definitiva e tem nosso máximo esforço”, asseverou Guzmán.