Diretor da OMS condena acusações de que a “OMS foi comprada pela China” como parte da “covardia e politização da pandemia” e diz que foco do órgão continuará “em salvar vidas”
O diretor da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, rejeitou na quinta-feira acusações dos EUA, dizendo que tais alegações são “falsas e inaceitáveis”.
“O foco de toda a organização está em salvar vidas” e combater a pandemia de Covid-19, disse o Dr. Tedros, acrescentando que “a OMS não se distrairá com esses comentários e não queremos que a comunidade internacional se distraia”.
A aleivosia foi feita pelo secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, durante visita à Grã Bretanha, em que também disse que a influência chinesa sobre a OMS levou “a mais britânicos mortos”.
Em queda nas pesquisas nos EUA em razão da recidiva da pandemia, o governo Trump tenta fugir da sua responsabilidade no escândalo que é o país mais rico do mundo ter o pior resultado no enfrentamento do coronavírus.
Para isso, reitera imputações à OMS e instiga o racismo entre seus eleitores com a conversa do “vírus chinês” e da “Kung Flu”. Com 4% da população mundial, os EUA, sob Trump, têm 25% do total de contágios e de mortos do planeta.
A situação é tal que levou o Washington Post a estampar que “o excepcionalismo americano era nossa condição pré-existente” – o “excepcionalismo” é como a plutocracia norte-americana fala do mundo unipolar sob o tacão de Washington -, acrescentando que a “a mais poderosa nação do mundo se provou vulnerável ao Covid-19 de forma única”.
Tedros advertiu que “a politização da pandemia” se tornou uma grande ameaça ao sucesso do combate à mais grave emergência de saúde pública em um século.
“A política covarde deve ser colocada em quarentena”, acrescentou, se referindo à política de culpar os outros pela inépcia e obscurantismo que levaram a tal desastre nos EUA.
Congressista de extrema-direita, Pompeo é notório pelo vídeo, do tempo em que dirigia a CIA para Trump, em que se gabava às gargalhadas das façanhas à frente da agência norte-americana de espionagem e sabotagem: “nós mentimos, nós fraudamos, nós roubamos”.
Em defesa de Tedros, a líder técnica da OMS em Covid-19, a norte-americana Maria Van Kerkhove, disse que era uma “honra e privilégio” trabalhar ao lado dele e que ela “nunca se sentira mais orgulhosa” da OMS.
Na Dinamarca, Pompeo reiterou seu intento de sabotar a agência mundial que centraliza o combate ao coronavírus. A OMS “se tornara política”, asseverou numa roda de puxa-sacos. “Tornou-se corrupta”.
É a volta de Pompeo ao país, depois do escândalo no ano passado causado pela indiscrição de Trump de que iria “comprar a Groenlândia”. O vomitório de Pompeo contra a OMS faz parte do boca de urna para ver se reverte o quadro eleitoral a tempo.
O candidato prestes a ser oficialmente nomeado pelos democratas, Joe Biden, já afirmou que no primeiro dia de seu governo irá levar os EUA de volta à OMS, revertendo a criminosa retirada imposta por Trump em plena pandemia.
Na véspera, o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, alertou que a vacina contra a Covi-19 só estará disponível no próximo ano, apesar das notícias alentadoras, e instou todos a reforçarem as medidas de testagem, rastreamento dos contatos dos casos positivos e cuidado com os doentes.
Nesta semana, várias vacinas de diversas partes do mundo, promissoramente, entraram na fase 3 de testes clínicos, abrangendo milhares de pessoas em cada estudo.