Depois de enorme alarido, por semanas, sobre “a grande e massiva convenção republicana de Jacksonville”, com a Flórida transformada em epicentro da recidiva da pandemia da Covid-19 e 10.000 novos casos a cada 24 horas, o presidente Trump se viu forçado a chamar seus principais assessores e o chefe de campanha na quinta-feira para formalizar o cancelamento do evento no estado sulista.
Nesse dia, o Departamento de Saúde da Flórida registrou um recorde de 173 novas mortes. A taxa de positividade do estado, que não caiu abaixo de 10% durante um mês, atingiu mais de 12% na quinta-feira.
Trump havia chegado a transferir a convenção republicana de Charlotte, na Carolina do Norte, para Jacksonville, na Flórida, exatamente porque queria fazer um evento de arromba, com muitos cabos eleitorais e adeptos da cloroquina aglomerados, a ser exibida na Fox News durante três ou quatro noites.
“Estou feliz por Donald Trump ter tirado a cabeça da areia o tempo suficiente para perceber o desastre previsível e evitável que ele estava prestes a causar na cidade de Jacksonville”, afirmou Terrie Rizzo, presidente estadual dos democratas, em comunicado.
No comício de Trump de Tulsa – aquele que foi o maior fiasco – até o prefeito republicano da cidade pegou a Covid-19.
Agora, a cúpula republicana terá que decidir como fará a entronização de Trump à reeleição e se será um evento virtual. Na terça-feira, a repórteres, o presidente já confidenciara que “a Flórida está em uma posição um pouco difícil ou muito difícil”.
Analistas consideraram que, em algum nível, Trump caiu na real, a ponto de perceber que sua minimização da pandemia – além da inépcia e obscurantismo – estavam minando suas chances de reeleição.
Na semana passada, Trump usou pela primeira vez, uma máscara facial, as conferências diárias sobre a pandemia foram retomadas e ele até admitiu que o vírus “infelizmente, provavelmente pioraria antes de melhorar”. Uma semana antes, andara fritando no Twitter o principal infectologista do país, o Dr. Anthony Fauci.
ESTADO CAMPO DE BATALHA
As pesquisas recentes vêm dando Biden na frente nos estados campo de batalha, aqueles em que se decide de fato a eleição, já que a decisão não é no voto popular, mas no colégio eleitoral. A Flórida é um dos principais estados campo de batalha, e essa era uma das razões para a mudança da convenção republicana para lá.
Mas não são boas ali as notícias das pesquisas para Trump. Pesquisa da Universidade Quinnipac mostrou Biden vencendo por 51% a 38% na Flórida, uma vantagem de 13 pontos percentuais.
Em abril, a vantagem de Biden era de 4 pontos percentuais. Em 2016, Trump venceu no estado por uma margem de pouco mais de 1 ponto percentual. A Flórida tem uma numerosa população de latinos e de aposentados.
O PIOR AINDA POR VIR
Pesquisa da Kaiser Family Foundation mostrou que 60% dos norte-americanos acham que em matéria de pandemia o pior ainda está por vir, contra 50% em maio. Os que acreditam que o pior já passou caíram de 28% para 20%.
72% disseram que a prioridade deveria ser aumentar o financiamento federal para os esforços de limitar a propagação do coronavírus, incluindo, testar, rastrear e fornecer equipamento de proteção pessoal aos trabalhadores essenciais.
A segunda prioridade apontada, com 55%, foi aumentar o financiamento aos governos locais para ajudar as escolas a reabrirem com segurança. 63% acham que é melhor retardar a reabertura das escolas até que o risco de contrair o vírus seja o menor possível.
1 MILHÃO DE NOVOS CASOS EM 15 DIAS
Na quinta-feira, os EUA ultrapassaram a horripilante marca dos 4 milhões de infectados, segundo o centro de referência da Universidade Johns Hopkins.
Demorou apenas 15 dias para os EUA irem de 3 milhões de contágios para 4 milhões, comparado com os 28 dias que levou para subir de 2 milhões para 3 milhões de infectados. O que indica que a disseminação do vírus está acelerando.
O total de mortos pela pandemia de Covid-19 nos EUA é de 144 mil – uma carnificina. Avaliação divulgada pelos Centros de Defesa e Prevenção das Doenças (CDC) apontou que o total de mortos até 15 de agosto deverá ficar entre 158 mil e 173 mil óbitos, com número mais provável de 164 mil. Os estados mais afetados pelas mortes deverão ser Alabama, Flórida, Geórgia, Idaho, Nevada, Oklahoma e Carolina do Sul.