A Organização das Nações Unidas (ONU) denunciou o “uso desproporcional” da força contra os manifestantes antirracistas nas cidades dos Estados Unidos, ação que afeta também os jornalistas que trabalham cobrindo os protestos que se multiplicam no país desde o assassinato de George Floyd no fim de maio.
A porta-voz do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Elizabeth Throssell, assinalou em reunião informativa virtual que “as manifestações pacíficas que acontecem em cidades dos EUA, como Portland, realmente devem poder continuar sem que aqueles que participam nelas corram o risco de serem detidos ou presos de forma arbitrária, estejam sujeitos ao uso desnecessário, desproporcionado ou discriminatório da força ou sofram outras violações de seus direitos”.
Em comunicado publicado no portal do organismo, a porta-voz expressou também sua preocupação pelos informes sobre oficiais policiais em veículos sem distintivos que prendem manifestantes sem dar explicações, afirmando que essa prática “pode deixar os detidos fora da proteção da lei e dar lugar a detenções arbitrárias e outras violações dos direitos humanos”.
Os manifestantes vítimas do “uso desnecessário ou excessivo da força” por parte das forças de segurança devem ter o direito de levar a cabo “investigações rápidas, independentes, imparciais e transparentes sobre qualquer denúncia de violações dos direitos humanos”, ressaltou.
Enquanto as manifestações em várias cidades do país ganham força, Throssell informou que o Comitê de Direitos Humanos da ONU emitirá na próxima quarta-feira, 29, um documento que trata questões como “protestos físicos, a ordem pública e o trabalho dos meios de comunicação”.
Entre as dezenas de cidades norte-americanas que nas últimas semanas foram palco de protestos contra a injustiça racial, a desigualdade social e a brutalidade policial, Portland (Oregon) tem atraído a maior atenção, incluída a do presidente Donald Trump que, inconformado com as manifestações, enviou agentes federais para reprimir a população.
Longe de tranquilizar a cidade, essa atitude acirrou ainda mais a situação de Portland, que vive mais de 50 dias consecutivos de protestos e enfrentamentos com a polícia. Os manifestantes se opõem à presença das forças governamentais e exigem sua retirada.
Trump qualificou os que se manifestam de “anarquistas” e “terroristas”; e perdeu a compostura diante do apoio do prefeito de Portland, Ted Wheeler, à população nas ruas.
“Ele fez papel de bobo. Ele queria estar entre as pessoas, então ele foi para a multidão e bateram nele”, disse Trump sobre a ida do dirigente da cidade a uma manifestação contra a violência policial na última quarta-feira, onde foi exposto a uma bomba de gás lacrimogêneo.
A alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, também criticou, na sexta-feira, 24, os países que se aproveitam da atual crise da saúde para prender jornalistas e calar a imprensa independente.
“A imprensa livre é sempre essencial, mas nunca foi tão necessária quanto nesta pandemia, pois há tantas pessoas isoladas que temem por sua saúde e por seus meios de sobrevivência”, disse Bachelet em um comunicado.