Centenas de mães de braços dados formam o que chamam de ‘muros’ para proteger os manifestantes do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam) da ação violenta de agentes federais armados, durante os protestos antirracistas em Portland, no estado norte-americano de Oregon, desde o último dia 18. Os atos já se espalham pelo resto do país.
Com camisetas amarelas e capacetes de bicicleta,o que começou como um pequeno ato simbólico foi crescendo, participando de todos os protestos, e encabeçando a enorme manifestação de sábado, 25, quando milhares de pessoas tomaram as ruas e praças próximas à prisão e o tribunal federal no centro de Portland, depois que um juiz federal negou o pedido do Estado de Oregon para restringir as ações de agentes federais que prendem manifestantes que, junto com as autoridades locais, enfrentam o governo de Trump.
Indignada após ver um vídeo no qual um rapaz era arrastado e golpeado por agentes federais e colocado numa van, Bev Barnum, mãe de dois filhos de cerca de 30 anos, publicou uma mensagem nas redes sociais convocando o protesto do dia 18.
“Eu me lembro de ter perguntado ao meu marido: Quando o suficiente é suficiente? Vou defender essas crianças, essas pessoas”, contou ela, referindo-se ao início das mobilizações.
“Como a maioria de vocês têm lido e visto nas notícias”, escreveu, “os manifestantes estão sendo feridos (sem causa). E nos últimos tempos, os manifestantes estão sendo despojados de seus direitos ao serem colocados em automóveis sem identificação pela polícia. As mães são frequentemente subestimadas. Mas somos mais fortes do que alguns pensam”, disse.
“Deixemos claro que protegeremos os manifestantes sem o uso da violência”, afirmou Bev Barnum, à frente das mães, várias delas grávidas.
Outra integrante do grupo, Katie Hunt, fornece dicas às participantes, inexperientes em protestos, sobre o tipo de óculos, máscaras e respiradores mais eficazes para protegê-las da fumaça do gás lançado pelos agentes.
Mas não é só a população em Oregon que se mobiliza contra o governo de Trump. A governadora Kate Brown e o prefeito de Portland, Ted Wheeler, ambos democratas condenam o envio de agentes federais à cidade.
Ela denuncia que o presidente quer desviar a atenção do seu descaso com a pandemia do novo coronavírus. «Este teatro político do presidente Trump não tem nada que ver com a segurança pública», frisou em comunicado citado pela NPR (National Public Radio). «O presidente não está liderando esta nação. Agora está mandando oficiais federais para patrulhar as ruas de Portland em um flagrante abuso de poder por parte do governo federal», sublinhou.
O prefeito chamou de repugnantes e inconstitucionais as medidas de Trump contra os manifestantes, particularmente que eles sejam levados por agentes à paisana em vans tampouco identificadas. Esse é um dos motivos pelos quais o procurador-geral de Oregon processa essas agências federais, sob alegação de que ultrapassam seus poderes ao ferir manifestantes pacíficos.
Outras mulheres em Nova Iorque, Filadélfia e Saint Louis seguiram o exemplo de Portland e também formam muros de proteção. Caren Geiger, uma delas, assinala em Saint Louis que “este não é o grande momento de nossa geração, é o grande momento dos jovens que têm 20 anos. Quando pedem ajuda, o nosso dever é chegar e acudir. Temos que lhes ajudar a fazer o que têm que fazer. Isso implica suportar gases lacrimogêneos, balas de borracha e ser detidas”.
Embora já tenham se passado dois meses desde o assassinato do negro George Floyd por um policial branco na cidade de Minneapollis, quando os protestos começaram, ficou claro que a repressão e a violência contra a população não só não diminuíram a revolta, mas a revigorou.
Na noite de sábado (25), na cidade de Seattle, aconteceu, segundo meios de comunicação da região, a maior marcha do movimento Vidas Negras Importam das últimas semanas. Durante confrontos entre manifestantes que participavam, e agentes federais, pelo menos 45 pessoas foram presas e 21 policiais ficaram feridos.