O relatório do setor externo recém divulgado pelo Banco Central (BC) mostra algo frustrante para os planos de “recuperação econômica” de Paulo Guedes: os investidores estão fugindo do Brasil.
O país perdeu, em um movimento chamado fuga de capitais, US$ 30,6 bilhões de janeiro a julho. Esse valor representa a saída liquida de recursos aplicados no mercado financeiro – ações, renda fixa e fundos -; além da redução do IDP (investimento direto no país) nas modalidades de participação no capital ou financiamento de matrizes no exterior para subsidiárias no Brasil.
Em 12 meses, diz o relatório do BC, a perda líquida chega a US$ 52,3 bilhões.
Os planos do ministro da economia de Bolsonaro para recuperar o país da grande depressão para a qual estamos caminhando é, justamente, centrada na atração de capital para investimentos. Ao contrário da reação de outros países diante da pandemia e do alerta de economistas de que o Brasil só volta a crescer com o impulso do setor público, especialmente nos investimentos, Guedes insiste que a a receita do estado mínimo fará com que, de forma orgânica, o setor privado (enfraquecido pela pandemia) dê conta do recado.
“Algo está assustando os investidores”, disseram representantes do mercado financeiro. Isso se explica, também, pelas incertezas geradas por um país que conteve mal a pandemia passados cinco meses do reconhecimento do estado de calamidade. Mas é a política rasteira e a ausência de plano para a economia determinantes para qualquer reação.
“Que bom, que vá embora”, teria dito o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, segundo o Estadão, ao comentar a fuga de capitais. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reafirmou em entrevista apoio à pauta do ajuste e de reformas. Apesar desse compromisso de uma ala do governo – há outra que já reconhece a necessidade de programas de investimento – o relatório do BC verificou também uma menor entrada de investimento estrangeiro, para além da fuga.
De acordo com o relatório, em junho, os investimentos externos despencaram 49% sobre o mesmo período do ano passado. Esse dado, segundo o BC, foi resultado de ingressos líquidos de US$ 2,3 bilhões em participação no capital e de US$ 421 milhões em operações intercompanhia. Nos 12 meses encerrados em julho de 2020, o IDP totalizou US$ 62,6 bilhões, correspondendo a 3,94% do Produto Interno Bruto (PIB), dado abaixo dos US$ 65,2 bilhões (4,01% do PIB) no mês anterior.
Transações correntes
Segundo o BC, na parcial dos sete primeiros meses deste ano, a conta de transações correntes registrou um déficit de US$ 11,798 bilhões, o que representa uma queda de 62% frente ao mesmo período do ano passado (-US$ 30,998 bilhões) de US$ 2,235 bilhões nas contas externas.
Comemorou-se o fato de, em julho, o saldo das contas externas ter sido superavitário em US$ 1,628 bilhão, dada a redução das importações, dos gastos no exterior e da menor remessa de lucros e dividendos. O resultado de transações correntes é formado pela balança comercial (comércio de produtos entre o Brasil e outros países), pelos serviços (adquiridos por brasileiros no exterior) e pelas rendas (remessas de juros, lucros e dividendos do Brasil para o exterior).