Roberto Jefferson (PTB), o mais novo apoiador de Bolsonaro, já havia sido condenado e preso por roubar dinheiro público, agora é a vez da filha, Cristiane Brasil, ir para a cadeia. Junto com ela foi o Secretário de Educação do estado, Pedro Fernandes (PSC)
Uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio, batizada de “Operação Catarata”, cumpriu na manhã desta sexta-feira (11) cinco mandados de prisão preventiva e realizou seis buscas em endereços dos bairros de Copacabana, Recreio dos Bandeirantes e Barra da Tijuca. Os principais alvos foram ex-deputada Cristiane Brasil (PTB), filha de Roberto Jefferson, novo integrante da tropa bolsonarista, e o secretário estadual de Educação Pedro Fernandes (PSC).
O MP-RJ acusa os dois de fazerem parte do núcleo político de uma organização criminosa que fraudou licitações de quase R$ 120 milhões. Cristiane, que pretendia disputar a prefeitura do Rio, se apresentou na tarde de sexta na sede da Secretaria de Polícia Civil, no Centro da capital fluminense. Pedro Fernandes vai cumprir prisão domiciliar pois apresentou um atestado médico comprovando que testou positivo para a Covid-19.
Além deles, foram alvos das ordens de prisão o empresário Flavio Salomão Chadud, seu pai, o delegado da PCERJ Mario Jamil Chadud e o ex-diretor de administração financeira (DAF) da Fundação Leão XIII, João Marcos Borges Mattos. A denúncia apresentada contra os cinco alvos da ‘Catarata 2’ e mais 20 investigados já foi aceita pela 6ª Vara Criminal da Capital do Rio de Janeiro, segundo informou o Ministério Público do Rio. Entre os outros acusados estão os ex-presidentes da Fundação Leão XIII Sergio ‘Fernandes’ e Erika Yukiko Muraoka, o sócio da Rio Mix Marcus Vinicius Azevedo da Silva, além de servidores públicos e representantes de empresas e organizações sociais.
A denúncia do Ministério Público do Rio, que investiga desvios em contratos de assistência social no governo do estado e na Prefeitura do Rio, diz que o secretário estadual de Educação do Rio de Janeiro, Pedro Fernandes, e a ex-deputada federal Cristiane Brasil receberam propina em dinheiro. A suspeita é que o esquema tenha desviado R$ 30 milhões dos cofres públicos entre 2013 e 2018.
A Promotoria imputa ao grupo crimes de organização criminosa, fraudes licitatórias, peculato, corrupção ativa, corrupção passiva, lavagem de capitais, além do crime de embaraçar investigação de organização criminosa.
Os contratos sob investigação, firmados entre 2013 e 2018, custaram quase R$ 120 milhões aos cofres públicos. O MP-RJ afirma que sobre os serviços contratados eram cobradas vantagens indevidas que variaram de 5% a 25% do valor acertado. O total desviado chegaria, segundo a denúncia, a R$ 30 milhões
Segundo o MP, as “propinas eram recebidas de três formas, dependendo do político envolvido”: em espécie, na maioria das vezes, na sede a Servlog Rio, sede do “QG” do grupo criminoso; através de depósitos bancários em dinheiro em contas correntes bancárias de terceiros; através de pagamento de despesas pessoais do próprio político, como locação de bens imóveis.
Os promotores citam ainda que duas assessoras políticas de Cristiane – Vera Lúcia Gorgulho Chaves de Azevedo e Suely Soares da Silva – também denunciadas, eram as “mulheres da mala”, ou seja, recebiam as vantagens indevidas “a fim de blindar” a ex-deputada.
“Vera Lúcia Gorgulho Chaves de Azevedo e Suely Soares da Silva eram as “mulheres da mala” de Cristiane Brasil, ou seja, quem recebiam as vantagens econômica indevidas (“propinas”), ora através de entregas de dinheiro em espécie, pessoalmente; ora através de depósitos de dinheiro, em espécie, em contas correntes; ora através cobrança do pagamento dos valores da locação (título do “e-mail: “FWD: Aluguel Cris”), a fim de blindar a ex- vereadora carioca e ex- deputada federal”, diz o documento.
Cristiane Brasil já é bastante conhecida da Justiça brasileira. Ela é filha de Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, já condenado e preso por corrupção. Foi nomeada ministra do Trabalho em 2018 pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) e teve a posse suspensa na Justiça. A decisão aconteceu após vir à tona o fato de que a ex-deputada, que queria ser ministra do Trabalho, foi condenada pela Justiça a pagar uma dívida trabalhista.
Em 29 de janeiro de 2018, foi publicado um vídeo da deputada, num barco em meio a quatro amigos sem camisa, defendendo-se das acusações nos processos nos quais ela era ré na Justiça do Trabalho. O vídeo causou uma grande repercussão negativa nas redes sociais. “Estamos com a senhora para o eu der e vier, doutora”, diziam os rapazes. O vídeo não agradou o Planalto que cancelou a indicação.
Além de ter sido condenada pela Justiça do Trabalho, Cristiane já foi citada em um depoimento de um executivo da Odebrecht, mas o STF (Supremo Tribunal Federal) não abriu inquérito para investigar as acusações. Ela também foi acusada de coagir servidores a votarem no seu nome para o cargo de deputada federal, sob a ameaça de demiti-los.
Em um vídeo ela disse que é inocente. “Estou indo me apresentar agora. É um absurdo que uma denúncia antiga, de 2012, 2013, esteja sendo cumprida agora, um mandado de prisão preventiva contra mim, faltando dias para as eleições, contra mim e os outros dois principais candidatos. Isso, num momento em que a minha candidatura se fortalece”, iniciou ela, em vídeo.
“Sabemos que há interesses políticos por trás desses atos todos que acontecem. Mas estou com consciência tranquila que a Justiça será feita e os fatos serão esclarecidos a meu favor. Então podem contar que, em breve, novamente estarei em liberdade e pronta para competir e ser prefeita do Rio de Janeiro”, completou, em seguida.
A defesa de Pedro Fernandes também alegou inocência no caso. “Pedro Fernandes ficou indignado com a ordem de prisão. O advogado dele vinha pedindo acesso ao processo desde o final de julho, mas não conseguiu. A defesa colocou Pedro à disposição das autoridades para esclarecimentos na oportunidade. No entanto, Pedro nunca foi ouvido e só soube pela imprensa de que estava sendo investigado por algo que ainda não tem certeza do que é. Pedro confia que tudo será esclarecido o mais rápido possível e a inocência dele provada.”