O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, usou as redes sociais para anunciar que excluiu o nome da ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva da lista de Personalidades Negras da instituição.
Segundo Sérgio Camargo, a ex-candidata à Presidência da República, uma das principais líderes ambientalistas do país, foi excluída da lista porque “não tem contribuição relevante para a população negra do Brasil”.
“Disputar eleições não é mérito. O ambientalismo dela vem sendo questionado e não é o foco das ações da instituição”, escreveu o racista no Twitter. Segundo ele, Marina Silva “autodeclara-se negra por conveniência política”.
Sérgio Camargo também atacou os deputados David Miranda e Talíria Petrone (ambos do PSOL-RJ), o ex-deputado Jean Wyllys e a cantora Preta Gil, que para ele, declaram-se negros “por conveniência”.
“Não é um caso isolado. Jean Willys, Talíria Petrone, David Miranda (branco) e Preta Gil também são pretos por conveniência. Posar de ‘vítima’ e de ‘oprimido’ rende dividendos eleitorais e, em alguns casos, financeiros”, disse.
Horas depois, o bolsonarista fez novos ataques contra Marina e afirmou que a exclusão do seu nome foi feita considerando os critérios de “decência, dignidade, reputação ilibada, relevância histórico-cultural e mérito do homenageado”. “Eram escolhas políticas q (sic) não refletem a verdadeira história do negro”, disse.
Sergio Camargo também afirmou que nada justifica que um político seja homenageado em vida pela fundação.
LIDERANÇA AMBIENTAL
Nascida em uma comunidade de seringueiros na localidade de Breu Velho, no Acre, Marina Silva foi empregada doméstica e só conseguiu se alfabetizar aos 16 anos. Desde a juventude atuou na defesa dos trabalhadores dos seringais e na luta ambiental. Formou-se em história, foi vereadora em Rio Branco, deputada estadual e duas vezes senadora, ministra do Meio Ambiente por cinco anos e disputou a eleição para presidente do país três vezes.
A ex-senadora foi às redes sociais se manifestar sobre as declarações de Camargo. “Temos que encarar isso com a altivez de quem sabe que a história não é feita por aqueles que têm uma visão autoritária e que eventualmente estão no poder, mas por aqueles que persistem na democracia e nos valores da civilização”, disse Marina.
Agradecendo pelas “inúmeras mensagens de solidariedade e apoio”, Marina disse: “Quem julga o valor da contribuição de uma pessoa à sociedade é a própria sociedade e a sabedoria da história. Todas as pessoas excluídas não o foram por serem irrelevantes, mas exatamente pela importância das causas que defendem”.
Depois do anúncio de Sérgio Camargo, o partido de Marina Silva, Rede Sustentabilidade, divulgou uma nota de repúdio às afirmações feitas por ele.
“A Rede Sustentabilidade vem a público repudiar tal ataque a nossa história, em especial à história dos negros no país, à nomeação de pessoas a quem falta competência para compreender e cumprir a missão institucional dos órgãos para os quais foram nomeados”, diz um trecho da nota.
O partido destacou o currículo de Marina Silva: “É uma brasileira que tem em seu currículo mais de 60 honrarias: prêmios, títulos, reconhecimentos”. Disse ainda que a opinião de Camargo “não tem a menor relevância para os critérios de quem a reconheceu como digna dos prêmios”.
No final de setembro, a deputada federal Benedita da Silva (PT), que é candidata à prefeitura do Rio de Janeiro, também foi retirada da lista.
A Fundação Palmares foi criada em 1988 com objetivo de preservar a cultura negra no país.
Sérgio Camargo tem histórico de atacar o movimento negro e suas lideranças. Ele já chamou Zumbi dos Palmares de “filho da puta” e o movimento negro de “escória maldita”. Ele também já defendeu o fim do feriado da Consciência Negra e afirmou que a escravidão foi “benéfica para os descendentes” de escravos no país.