A invasão do Congresso norte-americano por turbas fascistas insufladas pelo derrotado Donald Trump, para impedir a certificação da vitória do eleito, Joe Biden, foi repudiada no mundo inteiro por governos e pela imprensa internacional como “deplorável”, “perigoso” e “chocante”.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, denunciou o “assalto sem precedentes à democracia, às instituições dos EUA e ao Estado de Direito” e pediu que se respeite o resultado da eleição presidencial. “Foi um choque testemunhar as imagens em Washington”, tuitou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
“Manifestamos nosso repúdio aos graves atos de violência e o atropelo ao Congresso ocorridos hoje [ontem] em Washington DC. Acreditamos que haverá uma transição pacífica que respeite a vontade popular e expressamos nosso mais firme apoio ao Presidente eleito JoeBiden”, tuitou prontamente o presidente argentino Alberto Fernández.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, denunciou “cenas vergonhosas” e pediu uma “transição pacífica e ordeira” do poder para o eleito, Joe Biden. “Nada pode justificar essas tentativas violentas de frustrar a transição legítima e adequada do poder”, afirmou seu ministro das Relações Exteriores, Dominic Raab.
Em nome da França, o ministro das Relações Exteriores Jean-Yves Le Drian rechaçou a violência perpetrada como “um grave ataque à democracia”, dizendo: “Eu a condeno. A vontade e o voto do povo americano devem ser respeitados”.
Para o presidente Emmanuel Macron, o que aconteceu em Washington “não foi a América, definitivamente”. “Nós acreditamos na força de nossas democracias, acreditamos na força da democracia americana”, acrescentou.
“CLIMA QUE TORNOU POSSÍVEL”
Após se dizer “furiosa e triste” com a invasão do Capitólio pela turba ensandecida, a primeira-ministra alemã Ângela Merkel atribuiu responsabilidade ao presidente Trump, ao assinalar que “as dúvidas sobre o resultado das eleições” criaram o clima “que tornou possível os eventos de ontem à noite”.
O presidente alemão – um cargo honorífico -, Frank-Walter Steinmeier, sublinhou que o caos em Washington é “o resultado de mentiras e ainda mais mentiras, de divisão e desprezo pela democracia, de ódio e de demagogia, inclusive do mais alto nível”.
“A violência é incompatível com o exercício dos direitos e das liberdades democráticas”, registrou o chefe do governo italiano, Giuseppe Conte, que se disse confiante “na força e na solidez das instituições dos Estados Unidos”.
O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, classificou como “horríveis” os acontecimentos de Washington e pediu a Trump que “reconheça Joe Biden como o futuro presidente”.
“ATAQUE À DEMOCRACIA”
O premiê Justin Trudeau tuitou que as cenas no Capitólio foram um “ataque à democracia”. “Os canadenses estão profundamente preocupados e tristes com o ataque à democracia nos Estados Unidos, nosso aliado e vizinho mais próximo”, enfatizou.
O porta-voz do governo japonês, Katsunobu Kato, disse que Tóquio estava “esperando por uma transferência pacífica do poder” nos EUA. Por sua vez, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, se disse “angustiado por ver tumultos e violência em Washington DC”. Ele conclamou à continuidade da “transferência ordenada e pacífica do poder”. “O processo democrático não pode ser subvertido através de protestos ilegais”, acrescentou.
“A democracia – o direito do povo de exercer um voto, ter sua voz ouvida e depois ter essa decisão mantida pacificamente – nunca deve ser desfeita por uma turba”, afirmou a primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, sobre a tentativa de putsch nos EUA.
O ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Simon Coveney, disse que as cenas deploráveis “devem ser chamadas pelo que são: um ataque deliberado à Democracia por um presidente em exercício e seus apoiadores, tentando anular uma eleição livre e justa”.
Através da porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, a China reiterou sua expectativa pela “volta à ordem” nos Estados Unidos. A porta-voz Hua Chunying comentou, ainda, a familiaridade das cenas vistas ontem em Washington com as imagens presenciadas em Hong Kong no ano passado. Já “a reação de algumas pessoas nos Estados Unidos, incluindo alguns veículos da imprensa, é completamente diferente”, observou Hua.
Embora a Rússia, como de costume, haja evitado se manifestar sobre questões internas dos Estados Unidos, o embaixador russo na ONU, Dmitry Polyanskiy, não conseguiu deixar de notar a semelhança com o golpe da Praça Maidan, e consequente derrubada do governo legítimo na Ucrânia para instauração de um regime fascista. “Muitas fotos no estilo Maidan vêm de (Washington) DC”, ele postou no Twitter.
O presidente iraniano, Hassan Rouhani, reagiu aos acontecimentos em Washington, assinalando como a democracia anda “frágil e vulnerável” nos países ocidentais, nos quais constatou que “infelizmente, o terreno está fértil para o populismo, apesar dos progressos da indústria e da ciência”.
“VERGONHA E CAOS”
A condenação ao putsch se estendeu aos principais jornais do mundo, com manchetes como “Democracia Sitiada”, “Trump ateia fogo em Washington”, “Dia de Vergonha e Caos para a Democracia Americana” e “O Golpe da Loucura”.
Para o jornal britânico Guardian, a invasão do Capitólio constitui “o desafio mais importante para o sistema democrático americano desde a Guerra Civil” (1861-1865).
“Os Estados Unidos experimentaram sua primeira tentativa de golpe de Estado”, e “o presidente, suas mentiras e um partido republicano invertebrado são politicamente responsáveis”, escreveu em editorial o Die Zeit alemão.
Já o jornal italiano La Repubblica fez um paralelo com o assalto ao poder de Mussolini nos anos 1920: “Os Estados Unidos, todos os Estados Unidos, viveram com horror ao vivo na televisão o equivalente a uma marcha sobre Roma em Washington, a invasão do Capitólio, um ataque à própria sacralidade de sua democracia”.