A Justiça alemã condenou, nesta quinta-feira (28), o neonazista Stephan Ernst à prisão perpétua pelo assassinato de um dirigente democrata-cristão, Walter Lübcke, que fizera declarações em público a favor da acolhida de imigrantes fugidos da Guerra da Síria no país. O crime, cruel e covarde, foi cometido em junho de 2019.
Lübcke, que era do partido da primeira-ministra Angela Merkel e presidente do Conselho Administrativo do distrito de Kassel, foi morto com um tiro na cabeça na varanda de sua casa, à noite. Entre 2015 e 2016, mais de um milhão de refugiados foram recebidos na Alemanha, por decisão tomada por Merkel, desencadeando reações de ódio nos círculos extremistas.
Um vídeo com a fala de Lübcke foi amplamente repercutido nas redes digitais de extrema direita alemã, tornando-o alvo de ameaças. Ele foi o primeiro político assassinado no país desde 1945.
O veredito atribui extrema gravidade ao crime, o que impede revisão da sentença ou a comutação dela para liberdade condicional após 15 anos de pena, como seria habitual.
Conhecido como neonazista desde o final dos anos 80, Ernst se tornou suspeito em 1993 de ter planejado um ataque a bomba a um abrigo para requerentes de asilo. Em 2009, ele participou de distúrbios racistas em Dortmund.
Apesar dessa folha corrida, os serviços de inteligência alemã, famosos pela complacência com os neonazistas, haviam desistido de monitorá-lo nos últimos anos.
De acordo com as investigações, a polícia alemã, que sofre do mesmo vício que os serviços de inteligência, quando se trata de adoradores de suástica, ‘esqueceu-se’ de informar sua condição de membro ativo da extrema-direita, quando foi preciso uma licença para comprar pistolas e espingardas.
E não foi por falta de aviso, nem de indícios, que os serviços secretos e a polícia foram ‘surpreendidos’. Em 2015, a prefeita de Colônia, Henriette Reker, foi esfaqueada por um homem que não admitia que alguém pudesse ser a favor da acolhida de refugiados.
Ernst foi inocentado de outra acusação, a tentativa de assassinato de um requerente de refúgio vindo do Iraque, em 2016, num ataque com faca pelas costas.
Outro neonazista, Markus H, que era acusado de cumplicidade, foi condenado a uma pena de um ano e meio de liberdade condicional por posse ilegal de armas. Ele foi inocentado da acusação de cumplicidade no assassinato.
Foi ele que ensinou Ernst a atirar, sem saber de suas intenções, segundo alegou. Ernst admitiu o crime, mas apresentou três versões distintas. Na última, afirmou que Markus H. estava presente na cena do crime.