Vacina que é bom, nada. Eram 46 milhões, baixou para 38, e agora nem 25 milhões estão garantidas para março. Bolsonaro queria a cloroquina mas, afeito a um charlatanismo, agora se fixou no aerosol israelense
O ministro da Saúde Eduardo Pazuello reduziu mais uma vez nesta segunda-feira (8) as previsões [ele não acerta uma] da quantidade de vacinas que o governo disponibilizará para a população durante o mês de março. Ele anunciou que, se tudo der certo, serão de 25 a 28 milhões de doses. Não há nada garantido.
Ele já havia anunciado antes que seriam 46 milhões, depois baixou para 38, depois para 30 milhões e agora ele fala em apenas 25 ou 28 milhões de doses. Todo esse atraso é resultado da vigorosa sabotagem de Bolsonaro à vacinação da população brasileira.
Fruto dos retardos do governo federal em assinar os contratos com os fornecedores de vacinas, o Ministério da Saúde não conseguiu ainda imunizar nem 4% da população. O Brasil foi o 57º país a iniciar a vacinação dos idosos. Enquanto isso, neste período mais de 265 mil pessoas morreram de Covid-19 no Brasil.
Agora, a própria Pfizer informa que em setembro do ano passado havia oferecido 70 milhões de doses de sua vacina ao governo brasileiro, mas Bolsonaro e Pazuello rejeitaram a proposta. Não quiseram contratar as vacinas, quando o Congresso já havia autorizado o uso de recursos para adquirí-las.
Também o Secretário Executivo do Ministério da Saúde, Antônio Elcio Franco Filho, numa tentativa de livrar Bolsonaro da responsabilidade pela tragédia, procurou jogar a culpa pelo atraso na vacinação da população brasileira no Instituto Butantan. Segundo o governo, o atraso ocorre porque o Butantan vai entregar menos doses da CoronaVac do que o previsto.
A vacina CoronaVac, produzida pelo instituto de São Paulo, em parceria com a empresa chinesa Sinovac, é hoje, praticamente a única vacina a sustentar o plano nacional de imunização.
O Instituto reagiu à fala do funcionário de Bolsonaro. Em nota, disse que, em janeiro de 2021, a vinda de insumos sofreu atrasos por conta da crise diplomática entre o governo federal e o governo chinês, comprometendo com 30 dias a produção. Hoje, nove em cada dez vacinas aplicadas no Brasil são do Butantan.
O Butantan informou ainda que a assinatura do contrato do governo para a aquisição das vacinas sofreu vários atrasos, o que dificultou que os fornecedores se programassem para entregar a matéria prima necessária para a produção das vacinas.
A inépcia e a irresponsabilidade do Planalto é tamanha que agora soube-se, por exemplo, através de um e-mail tornado público, que Eduardo Pazuello havia recebido uma mensagem da empresa Withe Martins dias antes do caos, avisando do colapso da saúde de Manaus e pedindo apoio para transportar cilindros para a cidade. O governo federal não respondeu e não ajudou. Morreram dezenas de pessoas sem oxigênio. O Planalto e o MS estavam ocupados cuidando da distribuição da cloroquina.
Agora mesmo, nesta segunda-feira (8), ao falar em reunião com o representante dos governadores na sede da Fiocruz, no Rio de Janeiro, o ministro disse que “está sendo realizado um esforço diplomático para garantir o envio de 8 milhões de doses das vacinas fabricadas pelo Instituto Sérum, da Índia, ao Brasil – o que permitiria uma oferta maior ao Plano Nacional de Imunização”. De acordo com ele, os lotes foram “travados pela Índia”.
Em total contraposição a mais essa justificativa esdrúxula do ministro sobre o tal “esforço diplomático” do governo, a cúpula do Itamaraty, que deveria, sendo verdade essa afirmação de Pazuello – estar totalmente mobilizada neste esforço para a obtenção das vacinas, encontra-se nesse exato momento em Israel buscando, não as vacinas, mas um tal “spray milagroso”, alardeado recentemente.
Todos sem máscara.
O spray, assim como a cloroquina, é uma droga ainda em fase de testes e não é usada nem mesmo pelos próprios israelenses contra a Covid-19. Os israelenses estão sendo vacinados com a vacina da Pfizer que Bolsonaro se recusou a comprar.
Os episódios envolvendo a ida da delegação brasileira a Israel, além do vexame de Ernesto Araújo ser repreendido por não usar máscara, mostra bem a intensidade com que Bolsonaro sabota o combate efetivo à pandemia.
Durante boa parte dos últimos meses ele vem atacando todas as vacinas, em especial a do Butatan, aparelhou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e impede a aprovação emergencial da Sputnik V. Também se recusou a comprar a vacina da Pfizer. Ou seja, nada de vacinação.
Enquanto o país inteiro exigia a vacinação o mais rapidamente possível para deter a mortandade provocada pelo vírus, Bolsonaro só falava em cloroquina. Agora que a situação se agrava drasticamente, ele segue com sua insanidade e manda uma delegação para Israel atrás de uma droga que ainda não é solução, como a cloroquina, não tem nenhuma confirmação científica e nem eficácia checada.
Em resumo, Bolsonaro faz tudo para não fazer o que precisa ser feito contra a pandemia: comprar vacinas e acelerar a imunização dos brasileiros.
Nem as vacinas da AstraZeneca, principal aposta do governo, Bolsonaro e Pazuello conseguiram garantir. Diante de problemas no fornecimento das vacinas pela Fiocruz, o ministro falou também sobre a necessidade de superação de problemas.
“Confirmamos hoje que mais 2,5 milhões de doses de vacinas fabricadas pelo Instituto Butantan para os estados brasileiros até o final desta semana. Sem garantir nem essa remessa, ele disse que espera que a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e a Fiocruz “ajustem processos para que tenhamos, em até duas semanas, entregas semanais”. Mais uma vez, ele não garantiu nada.
S.C.