Negligência do governo na pandemia leva mulheres ao desemprego recorde e desamparo social
O Dia da Mulher, 8 de Março, deste 2021 está sendo marcado por um dos piores índices de desemprego entre as mulheres, consequentes da crise decorrente da pandemia, e mais ainda da política de sabotagem de Bolsonaro às medidas sanitárias e econômicas que viabilizem a retomada da economia do país.
De acordo com estudo do Ipea, baseado nos dados do IBGE, foram justamente os setores que abrigam mais mulheres os mais afetados pela pandemia e, consequentemente, os que mais perderam ocupação:
Em alojamento e alimentação, categoria em que 58,3% dos profissionais são mulheres, a queda foi de 51%; os serviços domésticos, em que 85,7% dos profissionais ocupados são mulheres, a queda foi de 46,2%; na educação, saúde e serviços sociais, em que 76,4% dos profissionais são mulheres, a queda foi de 33,4%.
Os dados são referentes ao terceiro trimestre de 2020, comparados com o mesmo período do ano anterior. Os números mostram que a taxa de desocupação entre as mulheres atingiu 16,8%. A taxa entre os homens foi de 12,8%.
Em 2019, a taxa de desocupação, que já era alta – registrou 13,9% entre as mulheres. O dado deste ano (16,8%) representa, assim, 7,17 milhões de mulheres desempregadas, e que não encontram emprego.
As pessoas classificadas como desocupadas são as que estão desempregadas, mas que estão procurando trabalho. Ou seja, não inclui ainda aquelas pessoas inseridas no subemprego ou desalento (pessoas desempregadas que desistiram de procurar emprego).
Considerando essa taxa de subutilização – que inclui os desempregados, os desalentados, os subocupados (trabalham menos de 40 horas semanais), e os que poderiam estar ocupados, mas não trabalham por motivos diversos – a taxa entre as mulheres fica em 36%. O índice, 10 pontos à frente da taxa entre os homens, que ficou em 25,5%, registra recorde histórico da série da Pnad Contínua do IBGE, iniciada em 2012.
Outro fator que atingiu diretamente a atuação das mulheres no mercado de trabalho foi suspensão das aulas presenciais. De acordo com o estudo, entre as mulheres com filhos de até dez anos, a parcela que trabalhava caiu 7,8 pontos percentuais, passando de 58,2% para 50,4%, na comparação entre o terceiro trimestre de 2020 e o terceiro trimestre de 2019. Entre os homens, a redução foi menor, de 4,2 pontos percentuais no mesmo período.
“A divisão desigual no cuidado das crianças impactou a taxa de participação de diversas maneiras. Muitas mulheres se demitiram para conseguir cuidar dos filhos. Outras ficaram sem tempo para conseguir focar na busca por um emprego, dada a responsabilidade extra em casa. Ainda, uma parte optou por não procurar emprego porque se dedicou aos cuidados domésticos”, afirma Marcos Hecksher, pesquisador do Ipea.
Além da mulher ser mais atingida pela política de desemprego, a situação de desigualdade também se reflete no mercado de trabalho.
De acordo com estudo do IDados, com base na Pnad, e também referentes ao terceiro trimestre do ano passado, a remuneração das mulheres foi menor do que a dos homens em todos os estados e no Distrito Federal, com o pior índice observado no Mato Grosso do Sul, onde a remuneração média das mulheres equivale a apenas 65,4% da recebida pelos homens.
Enquanto o país vivencia recorde no desemprego e falta de assistência social, o governo segue sem qualquer planejamento de combate à pandemia. Ao contrário, tem sido o principal patrocinador de todas as medidas anti-ciência e medidas que vão na contramão das orientações internacionais no combate à disseminação do coronavírus. Além de estimular aglomerações, o não uso de máscaras, o governo não fez esforço algum para garantir as vacinas necessárias para a imunização da população.
Agora, ainda que o quadro aponte para uma situação mais dramática nesse início de 2021, quando milhões de mulheres se encontram sem emprego e sem o auxílio emergencial, abrem-se expectativas a partir do movimento de governadores e prefeituras em busca de uma solução para um plano de imunização.
No entanto, as mulheres, e principalmente no caso das mães chefes de família, que viram o auxílio emergencial inicial de R$ 1.200 ser reduzido pela metade, seguem sem garantia de assistência que, se depender de Bolsonaro, poderá chegar ao valor ínfimo de R$ 375. No entanto, ainda nada está definido.
Isso porque a aprovação do auxílio foi envolvida em projetos e chantagens do governo Bolsonaro que, para aprová-lo, condicionou uma série de alterações na Constituição com o objeto de arrochar ainda mais o Estado, os serviços públicos e povo brasileiro.
JÚLIA CRUZ