Osvaldo Bertolino, Luiz Manfredini, Jorge Gregory e Bemvindo Sequeira comandam o bate-papo com seus convidados todas as tardes nos canais do Facebook, Twitter e Youtube
Nestes tempos sombrios do bolsonarismo, a luta de ideias se intensifica em todos os campos de atuação jornalística, particularmente no mundo digital, ainda pouco explorado pelos setores mais comprometidos com a democracia.
Assim como o ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, se esmerou no uso – e no abuso – das novas mídias de sua época (jornais, rádio e cinema, principalmente) para espalhar suas fake news e o seu terror sobre a Europa, o fascismo trumpo/bolsonarista atual também criou os seus “gabinetes de ódio”, a fim de cultivar pretensões golpistas e antidemocráticas.
Diversos personagens conseguiram perceber a tempo a necessidade de confrontar a onda reacionária que invadia as redes sociais, desde a eleição de Donald Trump nos EUA e a aprovação do Brexit na Inglaterra.
PIONEIRISMO
Era necessário, além de se contrapor ao obscurantismo nesta seara, propagar as ideias avançadas e desenvolver o jornalismo combativo também no mundo digital.
As atividades jornalísticas de Osvaldo Bertolino neste sentido foram, sem dúvida, pioneiras e vanguardistas. O programa Roda de Conversa, conduzido por ele e seus parceiros Luiz Manfredini, Jorge Gregory e Bemvindo Sequeira, cumpre um papel determinante nos debates no campo progressista do país.
O programa é uma novidade também em seu formato leve e descontraído, onde assuntos sérios e graves são debatidos de forma agradável, dinâmica e bastante esclarecedora.
São muitas as personalidades do mundo político, sindical, acadêmico, artístico, cultural, etc, que já passaram pelo “Conversa”. Todos saem elogiando o seu formato.
Praticamente tudo o que acontece no Brasil e no mundo é tema do bate papo de todas as tardes.
O programa é transmitido simultaneamente todos os dias de semana a partir das 13 horas nos canais (Facebook, Twitter e Youtube) do PCdoB oficial e Osvaldo Bertolino – O outro lado da notícia.
Como nos conta o próprio Bertolino, que faz a apresentação desde a pauliceia, onde reside, “o programa Roda de Conversa nasceu de uma ideia antiga – o aproveitamento do potencial da esquerda nas redes sociais”.
IDEIA ERA OCUPAR ESSA FRENTE
“A direita saiu na frente na ocupação desses espaços por ter o controle quase absoluto dos meios de comunicação, e consolidou sua presença movida pelo poder econômico. A esquerda entrou timidamente na disputa e ainda está muito aquém das suas possibilidades”, observou o âncora principal do programa.
Ele conta que, em 2008, criou seu blog “O outro lado da notícia”. “Nesta época havia pouca gente de esquerda na então chamada “blogosfera”, e muitos estavam nela mais por passatempo do que para exercer o jornalismo”, assinalou Bertolino.
“Meu blog logo decolou e chegou a ter médias de 30 a 50 mil visualizações diárias. Com o aumento do tráfego, os custos aumentaram e tive de mudar de servidor, o que me fez perder todo o arquivo”.
Osvaldo Bertolino é jornalista, historiador e escritor. Nasceu em 1962, em Maringá, Noroeste do Estado do Paraná. Foi diretor de imprensa do Sindicato dos Metroviário de São Paulo, trabalhou oito anos como editor de economia do Portal Vermelho – do qual foi um dos pioneiros –, foi ainda editor do Portal Grabois (da Fundação Maurício Grabois), assessor de imprensa na Câmara dos Vereadores de São Paulo, na Central Única dos Trabalhadores (CUT) e na Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
São dele também algumas das biografias mais importantes de integrantes da esquerda revolucionária brasileira. Ele escreveu os livros Testamento de luta — a vida de Carlos Danielli (2002), Maurício Grabois — uma vida combates (1ª edição em 2004 e 2ª edição em 2012), Pedro Pomar — ideias e batalhas (2013), Amar e mudar as coisas – trinta anos da UJS (2014), Vital Nolasco – vale a pena lutar (2016), Aurélio Peres – vida, fé e luta (2018) e Da CUT à CTB – a evolução do movimento sindical desde a década de 1970 (2021).
MANFREDINI: FORMATO AGRADOU
Na opinião de Luiz Manfredini, o programa já atingiu um formato adequado. “O ‘Roda de conversa’, ainda que sem combinação, chegou a um formato que considerado ideal”, disse ele.
“Primeiro porque rompe com os discursos sisudos, formais, prolixos que caracteriza, no geral, a esquerda, ou boa parte dela. Segundo, porque oferece, no período estressante da pandemia, uma conversa de bom nível político em meio ao bom humor, à descontração e mesmo ao pastelão”, destacou.
“As pessoas adoraram. Claro que, excecionalmente, o convidado não consegue conversar (como conversa informalmente numa roda de amigos), mas prefere o estilo convencional da palestra seguida de perguntas. Mas são minoria e a gente sabe administrar bem isso”, considerou.
“Ali a gente fala alto, gesticula, às vezes sai um palavrão, e no meio dessa confusão, surge o conteúdo consistente da análise política”, acrescentou Manfredini, que fala desde Curitiba.
NADA ESCAPA NA PAUTA DA “RODA DE CONVERSA”
Luiz Manfredini é jornalista e escritor, autor, entre outros livros, dos romances “As moças de Minas”, “Memória de Neblina” e “Retrato no entardecer de agosto”, além da biografia “A pulsão pela escrita”, narrando a vida e a obra do escritor Wilson Bueno e do livro “Vidas, veredas: paixão”, memórias da saga comunista no Brasil, escrito para a Fundação Maurício Grabois em 2012.
Curitibano nascido em 27 de fevereiro de 1950, Manfredini ingressou na luta revolucionária aos 16 anos, nas fileiras da Ação Popular e, mais tarde, do PCdoB. Colunista do portal Vermelho, presidiu em 1990 o Instituto Maurício Grabois, antecessor da atual FMG. Trabalhou em diversos órgãos de imprensa, entre os quais “O Estado de S. Paulo”, “Jornal do Brasil” e revista “IstoÉ”, com passagem pela comunicação empresarial. De 1980 a 2010 foi servidor na área de comunicação do Governo do Paraná, onde se aposentou.
GREGORY: NO INÍCIO SERIAM SÓ JORNALISTAS
Jorge Gregory também falou sobre sua experiência nesta atividade jornalística, diretamente de Brasília, onde reside. “Sobre o Roda de Conversa, como profissional e docente da comunicação, venho acompanhando com interesse a evolução das mídias eletrônicas e das redes sociais”, disse ele.
“Quando me desliguei do MEC cheguei a me aventurar a montar um blog, mas descobri que mantê-lo dava tanto trabalho quanto manter um jornal e acabei por abandonar o projeto”, prosseguiu.
“Quanto à militância”, conta ele, “desde 2010, passei a contribuir com a Direção Nacional como apoio, realizando estudos estatísticos dos processos eleitorais e eventualmente escrevendo algum artigo de opinião para o Portal Vermelho”. “Com a pandemia perdi muitos contratos de consultoria e ficando confinado em casa, passei a ser colunista do Portal, escrevendo um artigo por semana, e, ao mesmo tempo, aceitei o convite do Bertolino para participar da live”, explicou.
“A ideia inicial era para ser um bate-papo entre profissionais jornalistas de esquerda, mas a falta de adesão acabou me forçando a participar diariamente e acabamos, em um determinado momento, ficando somente nós três (Bertolino, Manfredini e eu). A partir de então, para não ficar um programa maçante, o Bertolino teve a ideia de trazer convidados e este formato atual acabou se consolidando e conquistando um público cativo”, discorreu.
“Tanto a publicação de artigos semanais quanto a participação diária nas lives têm sido muito gratificantes, pois não deixa de ser uma forma de militância, ainda que não organizada, muito efetiva e que contribuiu enormemente na formação daqueles que atuam nas mais diferentes frentes de ação política”, finalizou Gregory.
O HUMOR E A IRREVERÊNCIA DE BEMVINDO SEQUEIRA
D’além-mar diretamente para o “Conversa”, está o ator e diretor de teatro cinema e também YouTuber, Bemvindo Sequeira, um dos mais irreverentes apresentadores do grupo. Ele garante a sua presença no programa diretamente das “Cortes de Lisboa”, onde reside atualmente.
Bemvindo Pereira de Sequeira nasceu a 27 de julho de 1947, na cidade de Carangola, em Minas Gerais. Ele iniciou sua carreira como ator Rio de Janeiro, em 1966, no espetáculo: “Joana em Flor”. Depois passou a diretor de teatro, cinema e televisão. Foi perseguido durante a ditadura e, entã,o mudou-se para a Bahia onde ficou por 10 anos no Teatro Vila Velha.
Passou também a atuar no grupo do Teatro Livre e com esse grupo esteve em Festivais Mundiais de Teatro em Caracas, Bogotá e Panamá, apresentando a peça: “A Morte de Quincas BerroD’Água”, de Jorge Amado. Sequeira é criador do Teatro de Rua, em Salvador. Publicou o livro: “Humor, Graça e Comédia”. Foi secretário-geral do Instituto Nacional de Artes Cênicas, por sete anos, e já recebeu 13 prêmios nacionais e regionais.
SÉRGIO CRUZ