Ele falou na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, ao lado de correligionários e apoiadores
O ex-presidente Lula falou, nesta quarta-feira (10), na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, sobre a decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), tomada na segunda-feira (8), de anular seus processos no âmbito da Operação Lava Jato.
“Antes de ontem foi um dia gratificante, sou agradecido ao ministro Fachin porque reivindicávamos desde 2016 a decisão que ele tomou tardiamente”, disse ele, ao lado de correligionários e apoiadores.
Fachin aceitou o argumento da defesa do ex-presidente de que essas denúncias não estariam exclusivamente ligadas a desvios na Petrobrás. Ele determinou o envio dos processos para a Justiça Federal do Distrito Federal. O julgamento da suspeição de Sérgio Moro, que ocorreu um dia depois, foi adiado por pedido de vista do ministro Nunes Marques.
Lula disse que pretende voltar a andar pelo país para conversar com a população, a classe política e os empresários. “Estou satisfeito que tenha sido reconhecido o que meus advogados vêm defendendo”, assinalou. “Por isso”, prosseguiu, “eu quero dedicar o resto de vida que me sobra e espero que seja muito, a voltar a andar pelo país, conversar com o povo. Quero conversar com a classe política e com os empresários”.
O ex-presidente disse que o PT ainda deve decidir se haverá um candidato próprio ou de frente ampla para 2022 e que é preciso conversar sobre o tema.
Ele agradeceu aos apoiadores, como o presidente da Argentina, Alberto Fernandéz, que segundo o petista foi o primeiro a telefonar após a decisão de Fachin.
Lula agradeceu também ao ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, ao Papa, ao senador democrata Bernie Sanders e a diversas outras autoridades, além dos apoiadores que fizeram vigília em frente ao prédio da Polícia Federal em Curitiba enquanto esteve preso.
Ao falar da vacina contra a Covid-19, Lula criticou a postura do governo federal na condução da pandemia. Ele afirmou, sobre a vacina, que “não é sobre ter ou não dinheiro, mas é se eu amo a vida ou a morte”.
“É uma questão de saber qual o papel do presidente da República no cuidado do seu povo”, destacou. “Este país não tem governo, não cuida da economia, do emprego, do salário, da saúde, do meio ambiente, da educação, do jovem, da periferia, ou seja, do que eles cuidam?”, apontou.
“Semana que vem vou tomar minha vacina se Deus quiser. Não me importa de que país, se são duas ou uma só. Eu quero fazer propaganda para o povo: não siga nenhuma decisão imbecil do presidente da República ou do ministro da Saúde. Tome vacina, porque pode te livrar da Covid, mas mesmo assim não saia para o boteco, precisa de isolamento e utilizar máscara e álcool gel. Pelo amor de Deus este vírus esta noite matou quase duas mil pessoas. As mortes estão sendo naturalizadas”, afirmou.
“O presidente não é eleito para falar fake news, quem está precisando de armas são as Forças Armadas, quem precisa de arma é polícia, mas não a sociedade, fazendeiros, não são milicianos para fazer terrorismo na periferia para matar meninos e meninas negras, que são as maiores vítimas das armas e balas perdidas desse país”, disse.
Durante a entrevista, Lula foi questionado sobre as recentes críticas de seu ex-ministro Ciro Gomes (PDT), presidenciável do PDT. Segundo o petista, “Ciro precisa se reeducar e aprender a respeitar as pessoas”.
O ex-presidente ainda se disse chateado com a declaração do apresentador Luciano Huck, segundo o qual o petista será uma figurinha carimbada nas eleições de 2022. Ele disse que Huck não sabe que uma figura carimbada vale mais que o álbum inteiro.
Lula também falou sobre o desemprego em razão da pandemia e se solidarizou com famílias de vítimas da Covid-19 e profissionais da saúde. “Não tem dor maior para um homem ou mulher que levantar de manhã e não ter certeza de ter café com pão, não tem dor maior para um ser humano do que não ter um prato de feijão com farinha. Não tem nada pior que o cidadão saber que está desempregado e que no fim do mês não terá salário”, apontou.
Apesar de dizer que a liberdade de imprensa é uma das razões maiores pela manutenção da democracia, Lula voltou a criticar a imprensa pela forma como a Operação Lava Jato foi noticiada. “O jornalista tem o compromisso de dizer a verdade nua e crua, é para isso que temos imprensa livre e não aquilo que politicamente ela quer”, defendeu.
Ao comentar o JN da noite anterior ele fez elogios e também atacou a TV Globo. “Fiquei muito feliz porque depois da divulgação de tanta mentira contra mim, ontem acho que nós tivemos um Jornal Nacional épico. Acho que quem assistiu televisão não estava acreditando no que estava vendo. Pela primeira vez a verdade prevaleceu”, disse.
A TV Globo respondeu em nota e disse que “o ex-presidente está errado”. A emissora afirmou que busca a verdade dos fatos sempre e que vai continuar a fazê-lo, “mas não somente os fatos e as verdades que lhe sejam favoráveis”.