Após decretar um a limitação de circulação da população por dez dias devido à gravidade do crescimento de casos e internações provocadas pelo novo coronavírus, Araraquara viu os novos casos de Covid-19 caírem para quase um terço do total registrado antes do período de restrição total na cidade. Internações e óbitos, porém, seguem em alta.
A cidade, que fica a 273 km da capital de São Paulo decretou lockdown em 21 de fevereiro a partir da circulação da nova variante e só permitiu que farmácias e unidades de saúde abrissem. O transporte coletivo não funcionou, os supermercados só puderam atender por delivery nos sete dias seguintes e a circulação de veículos e pessoas sem justificativa foi vetada.
Apontada pelos epidemiologistas como a única cidade do Brasil a ter realizado um lockdown de fato, Araraquara entrou na fase mais rígida de isolamento no dia 21 de fevereiro, quando a ocupação de leitos de UTI e enfermaria chegou a 100% e a curva de casos e internações crescia rapidamente em razão da circulação da nova variante do coronavírus, a P.1. (conhecida como cepa de Manaus, mais transmissível e com agravamento de pacientes mais jovens).
Desde o início deste mês, mesmo sem o lockdown, o município continua na fase vermelha do Plano São Paulo (como todo o estado) e com funcionamento somente de setores essenciais, com a recomendação das autoridades de saúde para que a população só saia de casa se necessário e, se sair, use máscara e tome as medidas de higiene e prevenção.
Nos dias 18, 19 e 20 de fevereiro, que antecederam a aplicação das restrições totais, a cidade registrou 456 novos casos da Covid-19. Nos últimos três dias, o total de novas infecções despencou para 170.
Desde o início do lockdown, até a última quarta-feira (10), a média móvel diária de novos casos de Covid-19 caiu de 189,57 para 108, uma redução de 43,02%.
Outra diminuição acentuada foi verificada no número de pessoas contaminadas com o coronavírus e que estavam em isolamento domiciliar (quarentena): 1.512 no início do lockdown e 635 no boletim desta quarta, queda de 58%.
Em relação às internações, os dias 25 e 26 de fevereiro registraram o pico: 247 pacientes com Covid-19 em UTIs e enfermarias do município. Desde o início da pandemia, nunca houve tantos pacientes internados como nesses dois dias. Nesta quarta-feira, são 177 pacientes em hospitais. Número ainda alto, mas 28,34% menor que a máxima registrada.
Os casos de Covid-19 registrados por semana epidemiológica também evidenciam a eficácia das medidas de isolamento social para a contenção da pandemia. Foram 1.327 casos entre 15 de fevereiro e 21 de fevereiro (a semana com maior número de confirmações), 1.120 entre os dias 22 e 28 do mesmo mês e 945 entre 1º e 7 de março (28,78% a menos que o começo do lockdown).
Outro termômetro sobre a gravidade da pandemia é a porcentagem de amostras positivadas em relação a todos os testes enviados para análise diariamente. O dia com maior porcentagem de confirmações foi 16 de fevereiro, com 53% de testes positivos. Nesta quarta, após vários dias de queda, o índice chegou a 20%.
PELA CIÊNCIA, LUTAREMOS
O vereador araraquarense Guilherme Bianco (PCdoB) destacou que as ações mais restritivas foram pontuais, pois a situação em que avançava a doença, a cidade precisava responder. “Em 2020, as ações tomadas pelo poder público fizeram com que nossa cidade tivesse índices de mortalidade e transmissão da Covid-19 razoavelmente baixas. Infelizmente, logo em janeiro de 2021, houve um crescente absurdo na detecção de casos positivados e internações. Em Fevereiro, foi detectada a presença da cepa brasileira, e Araraquara se tornou o epicentro da crise do coronavírus no Brasil. Em algumas semanas, o sistema de Saúde, público e privado, foi ao colapso, com filas enormes para enfermaria e UTI, chegando a termos óbitos de pessoas em suas casas”, disse.
“O Lockdown foi a única alternativa, uma vez que o ritmo de vacinação ainda é muito baixo (como no país todo), mas também porque devíamos interromper o ciclo de transmissão do vírus. É uma decisão drástica, ninguém queria ter que fazer isso, impedir as pessoas de sair para trabalhar pelo seu sustento, ou mesmo ir ao mercado. A interrupção do transporte público, blitz para verificar o trânsito de carros e o fechamento de todas as atividades essenciais foram necessários para garantirmos o isolamento social”, disse.
Por fim, Bianco afirmou que é necessário continuar com as ações de enfrentamento à pandemia e continuar acreditando na ciência, pois só assim, poderemos nos livrar do epicentro dos casos mundiais.
“Devemos sempre seguir a ciência, e os especialistas nos apontaram que esse era o que devíamos ter feito, e com muita coragem fizemos. Nossa tarefa enquanto agentes públicos é de melhorar a vida das pessoas, no meio da pandemia é para salvar a vida das pessoas. Os dados divulgados mostrando que há dias não temos 100% de ocupação de leitos, que a taxa de contaminação caiu de 53% para 20% dos testes realizados e que o número de pessoas em quarentena caiu pela metade, só reforçam que a decisão do Prefeito Edinho, e que a defesa que fizemos na Câmara de Vereadores, estava mais que correta. Nossa luta agora é da ciência contra o obscurantismo, da vida contra a morte. Estamos do lado da vida”, disse Bianco.
MEDIDAS PONTUAIS
Com as medidas de restrição de circulação promovidas pela prefeitura local, as ações foram avaliadas como importantes pelo professor Paulo Inácio da Costa, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unesp e responsável pela unidade de Araraquara do Laboratório da Rede Unesp de Diagnóstico para Covid-19.
Paulo Inácio e a secretária municipal de Saúde, Eliana Honain, que também é coordenadora do Comitê de Contingência do Coronavírus de Araraquara avaliaram como corajosas e condizentes com o que a cidade passava por conta da nova cepa.
“Foi uma medida tomada com muita coragem, com apoio do Comitê e das áreas científica e clínica. A gente vinha com aumento expressivo de casos positivos da Covid-19. Isso se agravou no final de janeiro para o começo de fevereiro, o que culminou com o decreto. Vínhamos com 45% a 50% de amostras positivas no município e, a partir de março, houve redução para 30%, 20%. Uma atitude restritiva, que tem as suas consequências, mas a consequência maior foi a preservação da vida, da saúde das pessoas, e a diminuição de internações e de casos graves”, analisa Paulo Inácio.
Segundo os especialistas em saúde pública, com a vacinação ainda em ritmo lento (dependendo de remessas do Governo Federal), o isolamento social ainda é a melhor forma de conter o crescimento de contaminações e evitar a sobrecarga do sistema de saúde.
“A gente tem que pensar na exaustão do sistema. Não só em leitos de enfermaria e de UTI, mas a exaustão dos profissionais da saúde que já vêm, há um ano, em uma luta constante. Isso traz um grande problema. Não ter medidas como essa [isolamento] levaria a um caos muito grande em Araraquara”, complementou o professor.
Para Eliana Honain, o controle da pandemia deve seguir a ciência. “Quando o Comitê observou o crescente número de pessoas contaminadas e tomou ciência de que a variante de Manaus estava presente em Araraquara, e 93% das pessoas contaminadas em Araraquara estão com essa variante, o Comitê disse: ‘não tem outra alternativa’. A ciência nos diz qual é o caminho a ser feito. Existem duas alternativas para o controle do coronavírus. Primeiro, a vacina, que é uma resposta do Governo Federal. Não tendo a vacinação em massa, o outro caminho é o isolamento social”, disse.
“Hoje, com a queda no número de infectados, o lockdown nos mostra que é uma medida eficiente e que deve ser implantada sempre que houver necessidade”, complementou a secretária. Eliana ainda explicou que a queda nos óbitos levará mais alguns dias para ocorrer, pois os pacientes internados neste momento contraíram a Covid-19, em média, há mais de um mês.
Paulo Inácio e Eliana Honain defendem, com muita ênfase, a continuidade e o reforço nos cuidados com a segurança sanitária, apesar da aparente tendência de melhorias nos números de contaminação. Para eles, não é hora de relaxar nos cuidados.
O Comitê de Contingência do Coronavírus de Araraquara e a Prefeitura Municipal estão monitorando diariamente a situação epidemiológica do município.
Para que a tendência de melhora da situação se consolide, é fundamental que todas as medidas sanitárias e as regras mais restritivas em vigor continuem sendo rigorosamente cumpridas.
Não é momento de a população relaxar, porque a cepa do vírus que circula na cidade é empiricamente mais transmissível e mais agressiva. Somente com o esforço coletivo será possível reverter de vez a curva da transmissão e aliviar pressão sobre os leitos de UTI e de enfermaria que atingem Araraquara e toda a região.
A expectativa da administração é que a diminuição de internações e óbitos ocorra em um período de 10 a 12 dias.