Uma enfermeira do Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, revelou que pacientes intubados com Covid-19 estão acordados e amarrados aos leitos devido à falta de remédios sedativos na unidade de saúde.
Atualmente o hospital tem 78 pacientes internados nas UTIs Covid e outros 40 na emergência.
“Na sala vermelha, os pacientes estão intubados e amarrados, estão vivenciando tudo acordado e sem sedativo, pois não tem nenhum sedativo, acabou tudo. Só para o CTI e mesmo assim estão sendo rediluídos e mesmo assim não dá para todos os pacientes”, contou a enfermeira ao jornal RJ1, da TV Globo. “Eles ficam todos acordados, sem sedativos, intubados, amarrados e pedindo para não morrer”, completou a enfermeira, que não teve a identidade revelada.
Sem o “kit intubação” necessário para manter os pacientes sedados, médicos se desdobram procurando alternativas, dentre elas a chamada ‘contenção mecânica’, que segundo os profissionais intensivistas, mesmo assim, o doente precisa de pelo menos uma sedação leve.
Além disso, os médicos têm recorrido a drogas mais antigas e com mais efeitos colaterais. No Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, também Zona Oeste, onde 67 pacientes estão internados com Covid-19, isso também é realidade.
“E assim não seda como o Dormonid os pacientes fazendo 15, 20 ml hora de dripping de Diazepam não funciona direito, só deixam eles um pouquinho sedados, mas não apaga da forma que precisa (…). A maioria tendo que fazer contenção mecânica, porque não tem Dormonid na casa”, contou um enfermeiro ao RJ1.
A situação no Rio é grave. No Hospital São José, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, 21 pessoas morreram entre sábado (10) e domingo (12). Segundo uma enfermeira em um plantão parte das mortes foi causada, justamente, pela falta de remédios sedativos.
“Não tinha medicações, não tinha sedativos para os pacientes do CTI e então, infelizmente, eles vieram a óbito. Nós vimos, assim, os profissionais desesperados, chorando, porque não tinha o que fazer pra ajudar, né? Tá com falta de seringa, tá com falta de agulha”, contou a enfermeira que não teve a identidade revelada.
Segundo médicos intensivistas, a falta desses medicamentos pode levar um paciente a morte, pois a falta de sedativo atrapalha no tratamento dos outros problemas enfrentados pelo doente. Sem esses remédios, o paciente não economiza energia. explica por que a falta dessas medicações pode causar a morte da pessoa. “Com certeza vai prejudicar em muito o tratamento dele, além de ser um desconforto e uma situação desumana”.
No Hospital Anchieta, o único que atende só pacientes com covid-19, na capital fluminense, faltam sedativos, mas também outros materiais.
“No Anchieta, a gente já chegou a perder pacientes por falta de equipamento, por falta de equipo de bomba infusora e não tinha para poder botar, para manter pressão do paciente, e paciente chocou e paciente morreu, foram três pacientes nessa situação. Está complicado, está difícil (…) Eu não tenho como aliviar esse sofrimento do paciente porque isso é um grande sofrimento. É só você imaginar você deitado com o tubo grosso enfiado na garganta que vai até o pulmão, que tá tentando te ajudar a respirar, e você tentando respirar junto com ele, é muito difícil para a gente ver isso, é muito triste”.
O secretário Municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, afirmou que “tem sido um processo muito difícil para comprar esses sedativos. O Ministério da Saúde centralizou essa compra e tem distribuído semanalmente, para não deixar ter falta. Todos os hospitais públicos e privados estão com estoque no limite, para não se realizar estoques muito altos em algumas unidades e faltar em outras. (…) Mas até o momento garantindo aí esse cuidado, essa medicação para os pacientes que precisam”.
A centralização da compra de medicamentos pelo governo federal colocou todos os estados em alerta crítico. Em São Paulo, o secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, alertou na quarta-feira que os estoques de 643 hospitais necessitava de reposição em no máximo 24 horas, sob o risco de os pacientes não poderem ser mais intubados.
Uma nota técnica do Ministério da Saúde, obtida pelo jornal Estado de S. Paulo aponta que o governo tentou comprar cerca de 186 milhões de doses dos medicamentos, o suficiente para para seis meses, mas só conseguiu 32,48 milhões de unidades, 17% do planejado.
O ministro da Saúde alega agora que há dificuldade em realizar compras internacionais dos medicamentos. Segundo o ministro Marcelo Queiroga, a pasta deve receber mais lotes em até dez dias.