O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL) entrou na polêmica em torno da realização da Copa América no Brasil nesse momento de grande aflição do país, em razão do avanço da pandemia da Covid-19
Antes de iniciar o inquérito propriamente, nesta terça-feira (1º), em que a CPI ouve a médica Nise Yamaguchi, o relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL) fez duas ponderações relacionadas ao tema atual, a realização da Copa América no Brasil “no exato momento em que a pandemia se agrava e enchem, como nunca, os nossos cemitérios, as nossas UTI. E a terceira onda começa a chegar”.
“Seria, sr. presidente [Omar Aziz], srs. senadores, transformar essa copa em campeonato da morte, já que nós não podemos fazer um apelo ao presidente da República”, ponderou Renan.
E acrescentou: “… já que nós não podemos fazer um apelo ao ministro da Saúde, já que nós não podemos fazer um apelo à CBF [Confederação Brasileira de Futebol], que tem se transformado em negacionista e até irresponsável por querer patrocinar esse evento, eu quero, nestas poucas palavras, presidente Omar, me dirigir à Seleção Brasileira, aos seus jogadores, ao seu treinador, ao Neymar.”
“Neymar, eu queria dirigir uma palavra a você: não concorde com a realização dessa Copa América no Brasil, não concorde! Não é esse o campeonato que nós precisamos agora disputar. Nós precisamos disputar o campeonato da vacinação!”, sentenciou.
“É esse campeonato, Neymar, que nós precisamos disputar, ganhar, e você precisa marcar gols para que esse placar seja alterado. No campeonato da vacinação, o Brasil ocupa um dos últimos lugares, um dos últimos lugares, enquanto que, no campeonato da morte, nós somos campeões, o segundo país em número de mortes”, lembrou Renan.
“Não se permita entrar em campo nessa Copa América, Neymar, enquanto os seus amigos, seus parentes e seus conhecidos continuam a morrer e a vacina não chega no nosso país”, enfatizou.
QUEM É NISE YAMAGUCHI
A médica, que depõe nesta terça-feira na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid-19, que investiga se o governo federal errou no combate à pandemia.
Ela foi convidada depois de seu nome ter sido citado pelo presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, em seu depoimento aos senadores.
Barra Torres confirmou que houve reunião no Planalto na qual foi discutido alterar por decreto a bula da cloroquina, para que o medicamento passasse a ser indicado contra a Covid-19.
A reunião já tinha sido mencionada pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que afirmou ter participado do encontro, no qual minuta do decreto foi apresentada.
O presidente da Anvisa declarou que Yamaguchi estava na reunião, acompanhada por outro médico. O general Walter Braga Neto, então ministro da Casa Civil e hoje na Defesa, também participou, de acordo com Barra Torres.
Ele disse que o documento “foi comentado pela doutora Nise Yamaguchi”, embora não soubesse dizer quem havia sido seu autor.
Barra Torres afirmou ainda que rejeitou a proposta em uma reação que ele próprio classificou como “um pouco deselegante”, porque “aquilo não poderia ser”.
“Só quem pode modificar uma bula de medicamento registrado é a agência reguladora do país, desde que solicitado pelo detentor do produto”, explicou Barra Torres.
Yamaguchi disse em nota que a fala do presidente da Anvisa “não representa a realidade” e se colocou à disposição da CPI.
M. V.