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Afirmação foi feita pelo tenente-brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla e compiladas pelo jornalista Marcelo Godoy. Para o militar, “a ‘PEC Pazuello’ [da deputada Perpétua Almeida PCdoB-AC], não será nenhuma ofensa à farda. Só a correção de um erro”
Em sua coluna no Estadão desta segunda-feira (19), o jornalista Marcelo Godoy, especialista em assuntos militares, traz alguma reflexões do tenente-brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla, ex-presidente do Superior Tribunal Militar (STM), sobre a crise provocada pela insanidade de Jair Bolsonaro. Reproduzimos esta seleção de falas de Sérgio Ferolla, feita por Godoy, por sua importância num momento tão grave como este pelo qual passa o Brasil e porque são ponderações de um militar que tanta coisa importante fez pelo Brasil.
Não por acaso, o título escolhido pelo colega para condensar o conjunto de opiniões de Ferolla, e que nós reproduzimos, foi: “Ex-presidente do STM diz que Bolsonaro tem “delírios psicóticos”.
No primeiro texto do militar, “Diálogos no Purgatório”, Ferolla trata dos efeitos da pandemia de Covid-19 no Brasil e o papel do governo de Bolsonaro e dos generais que o apoiam. Começa assim: “Nosso País vai sendo conduzido ao temível reino das trevas e registrando perdas de milhares de vítimas da amaldiçoada pandemia”.
“Estimulando tanta desarmonia nos três Poderes da República, o governo tornou o Brasil pária internacional, além de destacada ameaça política e sanitária no contexto das nações. Retratado pelas colocações quixotescas de um psicótico presidente, é comparado ao cenário criado por Miguel de Cervantes, no qual um pretenso cavaleiro pensava poder salvar sua Pátria brandindo armas primitivas, em plena modernidade”, prossegue o tenente-brigadeiro.
Ele acrescenta: “Para enlamear a comparação, enquanto o impetuoso personagem agia de forma estapafúrdia por reconhecida debilidade mental, nosso Dom Quixote caipira não passa de premeditado ator de picadeiro, a provocar contestações radicais num circo mambembe na Esplanada dos Ministérios”.
“De forma insana, para a satisfação de asseclas e seguidores de suas ações idiotas e demagógicas, manifesta-se e gesticula como o personagem criado pelo escritor espanhol. Mas não é justo desmerecer o histórico Dom Quixote, símbolo de ‘um personagem que, cem anos antes, teria sido um herói nas crônicas ou romances de cavalaria’. Sabiamente colocado em ação um século após, sua loucura visava refletir o anacronismo de uma época e seu criador se valeu da imagem para satirizar os novos tempos, ‘retratando uma Espanha que, após um século de glórias, começava a duvidar de si mesma’”, diz Ferolla.
Em seu segundo artigo – Nas Trilhas do Descaminho –, ele escreve: “As consequências, de conhecimento da sociedade, acabaram na demissão do caricato ministro (Pazuello) e numa CPI, que busca responsáveis por possíveis crimes contra a vida”. E prossegue: “(Bolsonaro) nos seus costumeiros delírios psicóticos, citando como ‘meu exército’ o honrado Exército de Caxias, tenta ludibriar civis e militares sobre irreal apoio na caserna. Para configurar tamanha falsidade, logrou envolver alguns contemporâneos da Academia Militar, convocando-os para postos na burocracia palaciana”.
Ferolla lembra o passado, o tempo em que outros tentaram dividir as Forças. E cita o filósofo Ortega y Gasset: “O passado não nos dirá o que devemos fazer e sim o que deveríamos evitar”. Resta, agora, ao comando das Forças a posição ingrata de, sem prejulgar os colegas, ter de afirmar que não compactua com desvios. A brecha aberta no muro que separava a caserna da política deve levar à aprovação da ‘PEC Pazuello’, que veda a participação de militares da ativa em cargos civis. Não será nenhuma ofensa à farda. Só a correção de um erro. Ora, juízes e procuradores são obrigados a deixar a carreira se nomeados para o Executivo. Foi assim com Sérgio Moro. Assim deve ser com os militares”.
“Em razão dos acontecimentos que se repetem em nosso País, tornou-se dever e modesta cooperação alertar, do soldado mais humilde ao general mais graduado, para o profundo significado da mensagem deixada pelo dr. Aldo Fagundes, ex-deputado constitucionalista e ministro do STM, recém-falecido, de que, ‘a farda é leve para quem a veste por vocação, mas é fardo insuportável para aquele que não compreendeu a missão para a qual prestou juramento solene'”, pontuou o Ferolla.