A decisão do Ministério da Saúde de excluir a CoronaVac como uma das opções para aplicação da terceira dose da vacina contra Covid-19, no plano nacional de imunização, foi vista como “uma decisão pessoal” do governo Bolsonaro pelo Instituto Butantan, produtor do imunizante no Brasil, e pelo governo de São Paulo.
Dimas Covas, presidente da instituição, afirmou que a decisão é “para atingir” o imunizante e “não está baseada em regra técnica”.
O ministro Marcelo Queiroga anunciou, nesta quinta-feira (26), a aplicação de terceira dose em idosos acima de 70 anos e imunossuprimidos transplantados a partir de 15 de setembro. De acordo com o Ministério, serão usados prioritariamente os imunizantes da AstraZeneca, da Pfizer e da Janssen.
“A CoronaVac acrescenta, como terceira dose, um aumento de até cinco vezes a estimulação de anticorpos, então isso não está baseado em regra técnica, é uma preferência do ministro para atingir a CoronaVac”, afirmou Dimas Covas.
O presidente do Instituto Butantan disse, em coletiva de imprensa, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, que são “ataques repetidos” do Ministério ao imunizante produzido pelo Butantan em parceria com a chinesa Sinovac.
“Nós convivemos com isso quase que vindo diariamente por parte do governo federal, especialmente pelo presidente da República e pelo ministro Queiroga, que está agora aí fazendo esse movimento”, declarou Dimas.
O secretário estadual de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, classificou como “abominável” a decisão do Ministério da Saúde de excluir a CoronaVac da campanha de reforço na vacinação contra a Covid-19. “Não existe motivo nenhum, de nenhuma discussão política. Nesse momento, discussão política em cima de vacina é algo abominável, disse Jean Gorinchteyn, em entrevista ao canal CNN Brasil
Segundo o secretário, há estudos na China que indicam que a CoronaVac é eficaz e que ainda não há estudos no Brasil que indiquem o contrário. “É óbvio que quando nós falamos de plataformas diferentes de vacina, nos estamos dizendo que quando eu uso técnicas diferentes de vacinação eu aumento a possibilidade de as pessoas poderem responder, o que não quer dizer que ela não seja efetiva. Não tem a justificativa da sua não utilização [da CoronaVac]”, declarou.
Desde que o governador João Doria (PSDB-SP) anunciou, no segundo semestre de 2020, a parceria entre o Instituto Butantan e a Sinovac para produzir a CoronaVac no Brasil, Bolsonaro e seu governo vem atacando o imunizante
Bolsonaro já chamou a vacina de “vachina” e desautorizou publicamente a compra do imunizante pelo ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, em outubro do ano passado, antes de finalmente realizá-la, em dezembro.
Atualmente, o Ministério da Saúde tem um contrato da compra de 100 milhões de doses com o Butantan, que o instituto paulista promete cumprir até a próxima segunda (30). Ainda faltam 17,2 milhões de unidades. “O nosso contrato com o MS vence esse mês. Vamos entregar os 100 milhões de doses e não temos programação de entregar mais doses”, declarou Dimas.