A secretária de privatizações de Bolsonaro, Martha Seillier, revelou, em entrevista ao portal Uol neste sábado (28), que o objetivo do governo é entregar os Correios de presente à iniciativa privada, com a venda da empresa por um valor “simbólico”.
Seillier afirmou que o preço mínimo do leilão da estatal será muito menor do que o valor dos ativos da empresa.
A justificativa da secretária é que, com a venda, a empresa privada arcaria com tributos que hoje a estatal não paga, justamente pelo seu papel estratégico de empresa estatal que garante um serviço universal aos brasileiros. Segundo ela, “essa é a conta que estamos fazendo. Vai sobrar um valorzinho, vamos dizer assim, que é o quanto a gente vai pedir no leilão”, disse.
Caso seja privatizada, a empresa teria que pagar esses impostos ao Estado, como IPTU, ICMS, ISS e IRPJ, que chegaria a cerca de R$ 2 bilhões por ano, diz o governo baseado em um “estudo”. É esse o valor que o governo que compensar à empresa compradora, cobrando um valor “simbólico” no leilão.
Para a Associação dos Profissionais dos Correios (Adcap), a máscara do governo caiu com a declaração da secretária. “Querem doar os Correios a um grupo de amigos do poder e produzir um apagão postal no Brasil”, afirma a Associação.
“A necessidade de obtenção de recursos para fortalecer o caixa da União e até para programas sociais virou um valorzinho”, disse a associação. “Quem em sã consciência pensaria em vender por um valorzinho uma empresa que produziu mais de R$ 1,5 bilhão de lucros no ano passado e que já acumulou mais de R$ 1 bilhão de lucros em 2021?”, afirma a entidade em nota.
A Adcap ressalta ainda a inconstitucionalidade da venda dos Correios, alertando que o projeto abre brecha para o aumento abusivo de tarifas, com a possibilidade de preços de cartas serem diferenciadas dependendo da origem e destino.
LUCRO
De acordo com o balanço contábil de 2020, os Correios tiveram um lucro líquido de R$1,53 bilhão com o aumento das vendas pela internet e com os serviços essenciais da empresa durante o período da pandemia. Este é o melhor resultado nos últimos 10 anos. Nos últimos 4 anos os Correios registraram lucros consecutivos: em 2019, foram R$ 102,1 milhões; em 2018 a empresa registrou lucro de R$ 161 milhões e; em 2017 de R$ 667,3 milhões.
Desses lucros, conforme o Estatuto Social da estatal, os Correios repassam 25% para o Tesouro Nacional. Recursos que podem ser investidos em outras áreas como saúde, educação e segurança.
Além dos lucros anuais, a estatal possui um patrimônio líquido de R$ 950 milhões (valor dos ativos menos os passivos), além de imóveis que valem, pelos menos, R$ 3,85 bilhões, pois o valor está defasado pelo atraso no processo de reavaliação devido à pandemia.