O Ministério da Saúde recuou da suspensão da vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos que Marcelo Queiroga havia anunciado na última quinta-feira (16). Segundo o ministro, o impedimento da imunização de jovens ocorreu por um “sentimento” de Bolsonaro.
A proibição foi alvo de críticas de especialistas, dos conselhos de secretários estaduais e municipais de saúde e até mesmo da Anvisa, que é vinculada ao governo federal. Estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Santa Catarina e Amazonas resolveram então ignorar a orientação de Queiroga e dar continuidade na imunização do público jovem.
O recuo na posição do governo foi anunciado por representantes do Ministério em coletiva de imprensa na noite desta quarta-feira (22), enquanto Queiroga permanece em quarentena num hotel em Nova York, após ter testado positivo para Covid-19, durante a ida da comitiva de Bolsonaro à Assembleia Geral da ONU.
Para justificar o veto, Queiroga chegou a vincular a morte de uma adolescente em São Bernardo do Campo (SP) à vacina que ela havia tomado uma semana antes. A informação foi desmentida pela Secretaria de Saúde de São Paulo e pela Anvisa, que apontaram que o óbito não possuía qualquer relação com o imunizante.
Na coletiva de imprensa de hoje à noite, os representantes do Ministério afirmaram que nesta semana, houve uma “investigação” do caso. “Os benefícios superam eventuais riscos”, concluiu o porta-voz.
Além disso, havia na “base de dados alguns adolescentes vacinados com imunizantes não autorizados para o grupo”. Do total de pessoas entre 12 e 17 anos e registrados no sistema do Ministério, apenas 0,7% foram imunizados com outra vacina diferente da Pfizer.
Os representantes da pasta disseram que Jair Bolsonaro está ciente da nova posição da Saúde: “Óbvio que ministro sempre conversa com o presidente sobre todas as decisões, nada é feito a revelia do ministro ou do presidente, ele tem conhecimento do que foi apresentado aqui hoje”.
Decisão descabida
O repúdio à decisão do governo foi amplo. Médicos que assessoram o Ministério da Saúde chegaram a ameaçar pedir demissão por uma decisão que foi tomada sem consulta técnica.
Na noite de terça-feira (21), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, atendeu uma ação ajuizada pelo PCdoB, PSOL, PT, PSB e Cidadania, determinou que os próprios estados e municípios devem decidir se vão ou não vacinar os jovens, seguindo evidências científicas.
São Paulo foi o primeiro estado a manter a vacinação dos adolescentes. Segundo o governador João Doria (PSDB) “coibir a vacinação integral dos jovens de 12 a 17 anos é menosprezar o impacto da pandemia na vida deste público. Três a cada dez adolescentes que morreram com Covid-19 não tinham comorbidades em São Paulo”, falou.
“Este grupo responde ainda por 6,5% dos casos e, assim como os adultos, está em fase de retomada do cotidiano, com retorno às aulas e atividades socioculturais”, completou Doria.
O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), também foi enfático: “Eles vão voltar atrás de novo. Eu acredito, e nem precisa de cartinha do presidente da República se desculpando pelas afirmações de ontem, que esse é mais um arroubo de quem não para pra pensar duas vezes sobre aquilo que diz”.
Nésio Fernandes, secretário de Saúde do Espírito Santo, classificou o caso como “estarrecedor”. “Qual a proposta, imunidade de rebanho para adolescentes? Essa é a estratégia do Ministério da Saúde?”, indagou o secretário.
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