O banqueiro Roberto Setubal, copresidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco, disse que o governo de Jair Bolsonaro “é uma decepção em relação àquilo que foi prometido na campanha” e defendeu uma “terceira via” focada em “reformas”.
Bolsonaro “foi mudando radicalmente ao longo do seu mandato. A gente imaginava muito mais reformas, muito mais mudanças, e elas acabaram não acontecendo. Claro, pode-se dizer que teve pandemia, que teve uma série de coisas, mas o fato é que as coisas não aconteceram como nós gostaríamos”, afirmou Setubal.
Ele ainda comentou, em entrevista ao Estadão, as manifestações, de diversos setores da sociedade, em defesa da democracia, contra os ataques de Bolsonaro.
“É importante a sociedade civil se manifestar. Mostrar sua preocupação, a importância de se ter um ambiente político mais estável, menos extremado. É o início de uma conscientização de que precisamos fazer mudanças no País. Acho que talvez seja o início de um processo político mais amplo”, argumentou.
“Quando se olha a lista de todo mundo que se manifestou, as entidades, principalmente, é algo muito significativo”, disse.
Um dos exemplos que citou foi o da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que aderiu a um manifesto que defendia a democracia. Os presidentes da Caixa e do Banco do Brasil, indicados por Bolsonaro, ameaçaram tirar os bancos da entidade para que ela não assinasse a nota.
Na mesma entrevista, Setubal disse que “temos de acreditar” na possibilidade de um outro candidato, que não seja Bolsonaro ou Lula. “Acho que os últimos governos, alguns candidatos que estão aí, já tiveram a sua chance e não fizeram a renda per capita brasileira crescer, não fizeram as reformas necessárias”, falou.
“É muito importante que haja uma união do centro para que isso possa ocorrer, para que haja um único candidato mais forte. Eleição é o tipo de coisa que muda rápido, nós já vimos prévias um ano antes mudarem completamente… Eu acho que estamos em um ambiente de mudanças, todo mundo está querendo mudanças, porque tem muita coisa que não está andando como deveria. Acho que esse ambiente favorece uma terceira via, se for bem trabalhada”.
“Então, eu vejo, sim, chances de que ela [a terceira via] possa ganhar uma eleição. Tenho a impressão de que, se um candidato da terceira via chegar ao segundo turno, as chances de ganhar são muito grandes”, acrescentou.
Roberto Setubal disse que “gostaria de um nome da terceira via mais focado em reformas”. “Gostaria de ver um candidato com mais intenções reformistas, mais agenda de crescimento econômico, acho que seria importante para sairmos dessa inércia em que nos encontramos. O mundo anda, e nós estamos ficando para trás”, continuou.
Ele falou ainda que “não é possível” que o governo Bolsonaro consiga reverter a situação econômica.
“Na verdade, vejo a economia brasileira em decadência. Estamos há aproximadamente 40 anos sem crescimento da renda per capita”.
“Isso é gravíssimo e, de certa forma, é diferente do que aconteceu no mundo. Vários países eram pobres há 50 anos e, hoje, estão se aproximando da renda dos países desenvolvidos”, constatou.
“Nós, nos últimos 40 anos, tivemos momentos de melhora, como quando se controlou a inflação. Mas, de forma geral, continuamos no mesmo nível de renda de 40 anos atrás. Isso é um desastre do ponto de vista social. Não vamos melhorar a renda das pessoas sem crescimento. Eu acho que o País não vem focando no crescimento”, disse.