Entidades representativas de pesquisa, ciência, além de graduandos e pós-graduandos realizaram protestos contra cortes na ciência e na pesquisa e atraso no pagamento de bolsas permanência pelo governo Bolsonaro nesta terça-feira (26), pelo país.
A mobilização nacional é convocada pela Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), em conjunto com as entidades signatárias da Iniciativa para a Ciência e Tecnologia no Parlamento (ICTP-Br), sendo uma maneira de reagir aos novos cortes orçamentários que somam R$ 92 milhões nas verbas do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Essa luta por recursos para ciência e tecnologia ocasionou protestos em diversas cidades do Brasil, como em São Paulo. O objetivo dos protestos é pressionar o governo a repor a verba cortada do CNPq, que seria destinada ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
“A gente vem de um processo de diminuição dos recursos da ciência, e a valorização da carreira científica é fundamental para que a gente consiga ser jovens talentos capazes, formados para desenvolver ciência no Brasil”, disse Flávia Calé, presidenta da ANPG, durante a manifestação na Avenida Paulista, em São Paulo.
O ato convocado pelas entidades estudantis reuniu centenas de estudantes que protestaram contra o atraso das bolsas pelo governo Bolsonaro.
Desde 2015, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o CNPq, dois institutos que fomentam a pesquisa no Brasil, vêm sofrendo cortes no orçamento. Somados tiveram uma redução de 9,8 bilhões de reais. No último edital, o CNPq aprovou bolsas de doutorado e pós-doutorado para financiar 3 mil projetos, mas só teve condições de bancar 13% deles.
“Ciência é um investimento de longo prazo, que requer uma visão de Brasil. O que o atual governo está fazendo é matando o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos. Um país onde a política de ciência e tecnologia é definida pelo Ministério da Economia é um país que está sendo tocado de uma maneira muito, muito errada. Ciência, tecnologia e educação não são questões financeiras. São questões de estratégia futura do país”, disse Paulo Artaxo, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Em Minas Gerais, o protesto contra cortes na ciência ocorreu na porta da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
O ato também contou com temas como a interrupção do sistema de avaliação de programas de pós-graduação, realizado pela Capes, e os atrasos dos pagamentos das bolsas de 60 mil estudantes, ligados aos programas Capes e Residência Pedagógica, do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid).
Durante o protesto, o presidente da ALMG, o deputado Agostinho Patrus (PV), recebeu representantes da SBPC, da ANPG e da União Estadual dos Estudantes de Minas Gerais (UEE-MG).
De acordo com a professora da conselheira da SBPC Minas Andrea Macedo, o deputado se comprometeu a dar apoio às pautas apresentadas.
“É muito importante a gente escolher que modelo de país queremos, com ciência, com educação, com saúde, com democracia e com serviço público de qualidade, e o presidente da Assembleia, Agostinho Patrus, confirmou nesta manhã, a sua participação e o seu endosso dessa pauta em defesa do futuro de Minas Gerais e do país”, afirmou ela.
Em Pelotas (RS), dezenas de alunos da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) protestaram contra o atraso no pagamento de bolsas do Pibid e do Programa Residência Pedagógica (RP).
O integrante da coordenação geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), Cassio Lilge disse que o ato contou com a presença da União Nacional dos Estudantes (UNE) junto a outras entidades estudantis, como União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), além da ANPG. Segundo ele, o objetivo é reverter o corte orçamentário no Ministério da Ciência que comprometeria pesquisas e bolsistas.
“Cada um tem uma condição de renda, familiar, social específica, mas para muitos esses R$ 400,00 é um complemento e tanto, que ajuda a pagar contas de casa. A luta é que não haja esse corte tão grande que é destinado à pesquisa, mas também uma ação imediata para que haja o pagamento imediato desses bolsistas”, diz Lilge.
“São centenas de bolsistas da nossa instituição [UFPel] deixando de receber pelo seu trabalho. Isso prejudica a economia”, acrescenta, apontando a necessidade de apoio de deputados e senadores.
Da mesma forma, estudantes da Universidade Federal de Sergipe (UFS) se reuniram nesta terça contra os cortes na ciência e o atraso dos pagamentos das bolsas do Pibid e RP.
Segundo a estudante Sarah Cordeiro, bolsista do Pibid e Coordenadora de Ações Afirmativas e Assistência Estudantil do DCE da UFS, o atraso foi anunciado no dia 7 de outubro, deixando uma série de estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica, sem qualquer possibilidade de acompanhar as atividades da universidade. “Recebemos um e-mail da CAPES, que é responsável pelo pagamento das bolsas, informando sobre esse atraso. Mas sem nenhuma previsão de quando iríamos receber”, destaca.
“É necessário que haja essa aprovação dos recursos para que possamos receber. Mas todo esse processo demora. É preciso passar pela Câmara e pelo Senado para só então o presidente da República sancionar”, pontua.
Enquanto não vem um desfecho a curto prazo, Sarah lamenta as dificuldades que os estudantes estão passando. “Para receber as bolsas, nós não podemos ter veículo empregatício, nem receber o auxílio emergencial. Ou seja, estamos sem nossa única fonte de renda possível. Daí é difícil nos manter sem qualquer recurso. Só na UFS, por exemplo, recebem as bolsas do PIBID mais de 400 estudantes”, salienta.
TUITAÇO
Anteriormente aos atos presenciais, as entidades promoveram nesta terça atos virtuais, em conjunto com as entidades signatárias da ICTP-Br, além de uma série de debates e webinários, organizados com o apoio de diversas organizações do setor.
“Há tempos estamos todos acompanhando inúmeras matérias na mídia sobre redução dos investimentos do governo federal no setor científico nacional. O corte mais recente foi de R$ 600 milhões, sancionado pelo presidente Bolsonaro no dia 15 de outubro, comprometendo de forma grave a distribuição de novas bolsas e a atividade de fomento à pesquisa do CNPq”, afirma o manifesto de convocação para o evento.
Na manhã desta terça, foi realizado um tuitaço para lembrar sobre o tema nas redes sociais. Com a hashtag #SOSCiência, o ato alcançou os assuntos mais comentados no Twitter.
A pedido do ministro Paulo Guedes, o corte no MCTI foi aprovado pelo Congresso Nacional no dia 7. Um ofício enviado pelo ministro da Economia afirmou que o governo decidiu dividir os R$ 600 milhões com outras pastas.
O ministro da Ciência, Marcos Pontes, afirmou que foi “pego de surpresa” e diz ter ficado “muito chateado” com a aprovação do corte. Ele também disse que os cortes são “equivocados e ilógicos”.
Veja o manifesto dos atos na íntegra:
http://www.jornaldaciencia.org.br/wp-content/uploads/2021/10/Manifesto-Quanto-vale-a-Ci%C3%AAncia.pdf
Veja a repercussão do ato desta terça: