Nesta terça-feira (2), Dia de Finados, diversas homenagens às vítimas da covid-19 aconteceram em todo o país, enquanto o presidente Jair Bolsonaro não manifestou uma única condolência às mais de 608 mil vidas de brasileiros perdidas na pandemia.
Os números do Brasil são gravíssimos. O país tem menos de 3% da população mundial, mas registra mais de 12 % das mortes pela doença.
Em Manaus (AM), onde pessoas enterradas em valas comuns durante a primeira onda da pandemia de Covid-19 e teve um dos maiores registros de enterros em 24h, chegando a 140 sepultamentos diários, o dia de finados neste ano foi de grandes homenagens pela cidade.
O Dia dos Finados neste ano teve entrada de pessoas permitida para visitas e homenagens. No ano passado os cemitérios de Manaus ficaram fechados e algumas pessoas tiveram que fazer homenagens do lado de fora.
Natália Kelvin, que perdeu o pai, Francisco Victor da Costa, de 81 anos, para a doença em abril de 2020. Ela conta que até tentou que o pai não fosse enterrado em vala comum, mas não teve sucesso.
“Lutamos muito para não enterrarem em cova coletiva, mas ele já estava envelopado dentro daquele caminhão frigorífico, não teve jeito. Infelizmente, o máximo que a gente conseguiu foi colocar meu pai em cima dos três caixões da cova, com a esperança de que daqui a quatro anos consigamos tirá-lo de lá”, diz Natália.
“Foi uma situação muito triste e difícil para a família, o que a gente não deseja para ninguém ver uma pessoa que a gente ama tanto ser enterrada indignamente, como foi o enterro do meu pai”, comenta.
Do pai, Natália guarda na memória os bons momentos e carinho que a família sentia.
“Meu pai era um homem de 80 anos muito ativo. Acordava todos os dias às 5h para abrir o bar onde ele trabalhava e não tinha tempo ruim pra ele, era esperto e inteligente. Guardamos um carinho enorme por ele, para sempre”, disse Natália que neste ano pode homenagear seu pai.
SÃO PAULO
Dezenas de blocos de carnaval se uniram em um cortejo pelas vias do Centro da cidade de São Paulo para homenagear as mais de 600 mil vítimas da Covid-19 do Brasil.
O ato foi realizado pelo grupo “Arrastão dos Blocos”, que desde 2016 organiza manifestações políticas num “carnaval fora de época”, com composições próprias, feitas de maneira coletiva.
De acordo com a Polícia Militar, a concentração aconteceu por volta das 14h30 na Praça da Sé, e o grupo planejava uma passeata até a Câmara dos Vereadores.
O Governo de São Paulo prestou homenagem às vítimas do coronavírus. O palco do ato foi o Largo do Arouche, no centro da capital.
As sirenes de 32 ambulâncias da Secretaria de Estado da Saúde foram acionadas durante um minuto em homenagem a mais de 39 mil pessoas que morreram em decorrência da COVID-19 no estado. Desde o início da pandemia, São Paulo registra 1,1 milhão de casos confirmados de coronavírus.
O ato teve início às 12h, com a participação do Secretário de Estado da Saúde, Jean Gorinchteyn, além de socorristas, paramédicos e motoristas das ambulâncias. A homenagem também contou com o apoio da Prefeitura de São Paulo.
“Não ficamos apenas com um minuto de silêncio, nós colocamos as sirenes para soarem bem alto no coração das pessoas para elas se sensibilizarem e lembrarem com respeito dos que morreram. Ainda temos que manter o distanciamento social, usar máscaras, não podemos nos aglomerar. Temos que nos lembrar da importância da prevenção e lutar por vacinas, não importa quantas. Precisamos de muitas. É isso o que vai fazer que nós possamos voltar ao normal”, afirmou o Secretário de Saúde.
No Rio, houve celebrações, missas, homenagens e outras atividades.
No Jardim da Saudade de Sulacap, por exemplo, os visitantes foram convidados a percorrer o “Túnel- Memorial de 70 mil flores”, representando as mais de 68 mil vítimas da Covid-19 no estado do Rio. O caminho florido de 10 metros levava até uma capela 3D, com experiência imersiva de filmes em memória dos entes. Houve ainda a inauguração do monumento “Mãos do Universo” com as três grandiosas mãos, pilares da pandemia: a medicina, a ciência e a fé. A pneumologista Margareth Dalcomo foi homenageada.
Inumeráveis
O Memorial Inumeráveis ocupou as redes sociais do Brasil com as histórias de vida de algumas das mais de 608 mil vítimas da covid-19.
O objetivo do memorial é não permitir que as histórias de pessoas que perderam a vida de covid se limitem a números. Para isso, a iniciativa foi convidar os enlutados a compartilhar um texto curto sobre a sua pessoa querida. A iniciativa presta uma forma de “homenagem, protesto e cura” com a hashtag #nãoéumnúmero.