Em 1955, Cecília Meireles publicou “Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro”, poema escrito durante uma viagem à Itália.
Pistóia, como sabiam os brasileiros – e muitos ainda sabem – é o cemitério em que foram sepultados os nossos soldados, os pracinhas, tombados em combate na guerra contra o nazismo, no solo da península italiana.
Recentemente, Bolsonaro fez uma tentativa de conspurcar esse santuário do nosso heroísmo, levando um fascista italiano – e o seu próprio fascismo – a uma suposta homenagem em Pistóia.
Aqui, publicamos os versos de Cecília, um dos pontos altos da literatura brasileira e da língua portuguesa. Pistóia permanecerá para sempre como um símbolo imaculado da nossa coragem e amor pela liberdade. (C.L.)
CECÍLIA MEIRELES
Eles vieram felizes, como
para grandes jogos atléticos,
com um largo sorriso no rosto,
com forte esperança no peito,
– porque eram jovens e eram belos.
Marte, porém, soprava fogo
por estes campos e estes ares.
E agora estão na calma terra,
sob estas cruzes e estas flores,
cercados por montanhas suaves.
São como um grupo de meninos
num dormitório sossegado,
com lençóis de nuvens imensas,
e um longo sono sem suspiros,
de profundíssimo cansaço.
Suas armas foram partidas
ao mesmo tempo que seu corpo.
E, se acaso sua alma existe,
com melancolia recorda
o entusiasmo de cada morto.
Este cemitério tão puro
é um dormitório de meninos:
e as mães de muito longe chamam,
entre as mil cortinas do tempo
cheias de lágrimas, seus filhos.
Chamam por seus nomes, escritos
nas placas destas cruzes brancas.
Mas, com seus ouvidos quebrados,
com seus lábios gastos de morte,
que hão de responder estas crianças?
E as mães esperam que ainda acordem,
como foram, fortes e belos,
depois deste rude exercício,
desta metralha e deste sangue,
destes falsos jogos atléticos.
Entretanto, céu, terra, flores,
é tudo horizontal silêncio.
O que foi chaga, é seiva e aroma,
– do que foi sonho não se sabe –
e a dor vai longe, no vento…
Estive em Pistoia ontem. Os presidentes Bolsonaro e Fernando Collor fizeram uma visita. Foram os únicos. Quem chama Bolsonaro de fascista ou é ignorante ou é tão burro que não percebe o fascista que existe em Lula da Silva e sua turma
Nem Bolsonaro nem Collor têm nada contra soldados brasileiros mortos pelos nazistas. Pelo contrário, esses são os soldados brasileiros que eles adoram. Como, de resto, os nazistas. Inclusive aqueles que são tão burros que não percebem que são nazistas.