Logo após a chuva que causou a tragédia em Petrópolis, a campanha eleitoral teve largada dada nos grupos Bolsonaristas no WhatsApp e Facebook, com a propagação de fake news para difamar opositores de Jair Bolsonaro na cidade da região serrana do Rio de Janeiro.
Três dias depois do temporal, em grupos de WhatsApp e páginas de Facebook, a maioria bolsonarista, começou a circular a informação que o prefeito Rubens Bomtempo (PSB) havia recusado receber máquinas escavadeiras enviadas pela Prefeitura de Magé. Por esta informação, o chefe do executivo de Petrópolis foi muito criticado e os ataques também se estendiam ao deputado federal Marcelo Freixo, pré-candidato ao governo do Rio pelo PSB.
As fake news ganharam repercussão na cidade e a Prefeitura foi à público esclarecer que havia aceitado a ajuda de Magé. Porém, pouco depois, outra fake news foi propagada. Desta vez, as redes bolsonaristas afirmavam que o prefeito Bomtempo estava dispensando voluntários que haviam ido para Petrópolis dar assistência de saúde a moradores, o que também não aconteceu.
“É esperado que nas primeiras horas haja desencontro de informações em situações de desastre, mas, depois do terceiro dia, qualquer tipo de informação truncada e tentativa de desinformação é crime. Isso atrapalha a assistência, a ajuda humanitária. É inadmissível que um grupo político possa de forma sádica produzir fake news para prejudicar as pessoas”, disse o prefeito de Petrópolis, que chegou a acionar a Justiça para retirar do ar postagens com mensagens falsas.
Um levantamento do NetLab, laboratório de estudos da internet vinculado à Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mostra como os aplicativos de mensagens foram um dos principais meios para espalhar fake news, em Petrópolis.
Segundo o Net Lab, 38 mensagens com informações falsas sobre as ações da prefeitura de Petrópolis foram encontradas em uma base com 268 grupos bolsonaristas monitorados no WhatsApp.
O laboratório conseguiu descobrir que a maioria dos posts usavam links do site bolsonarista “Jornal da Cidade Online”, com afirmações de que a prefeitura dispensou voluntários ou de que as máquinas cedidas por Magé teriam sido devolvidas. Ainda de acordo com o levantamento, os links do portal foram compartilhados, também, por 118 páginas no Facebook, a maioria bolsonarista.
As mensagens com informações falsas também circularam em grupos locais do estado do Rio, voltados para a região serrana, Niterói, Saquarema e páginas de bairros da capital fluminense. Em muitos casos, o texto compartilhado era o mesmo.
O Instagram não ficou de fora. Seis vídeos circulam afirmando que a prefeitura estava expulsando voluntários. Eles somaram mais de 203 mil visualizações.
O professor de Estudos de Mídia da Universidade da Virgínia, David Nemer, que é especialista nas redes bolsonarista, destacou em entrevista ao jornal O Globo, que “se parecia que a desinformação estava mais voltada para uma agenda nacional, fica claro que os gabinetes do ódio locais também passaram a atuar. Vimos algo semelhante acontecer com a Manuela D’Ávila em 2020. Essa prática não é um problema sobre o qual apenas o Tribunal Superior Eleitoral vai ter que ficar de olho. Os tribunais regionais também terão que ficar atentos”.