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Nesta segunda-feira (14), o atentado que assassinou a vereadora Marielle Franco (PSOL) e o motorista Anderson Gomes completou quatro anos, sem que as investigações tenham revelado os mandantes do crime.
“Posso garantir que faz quatro anos que não tenho uma noite de paz na minha vida”, disse Mônica Benício (PSOL), a viúva de Marielle, em entrevista ao portal Metrópoles.
Os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz que foram presos em 2019 como executores do crime, mas a pergunta: Quem mandou matar Marielle Franco? Segue sem resposta.
“Não cogito a possibilidade de esse assassinato não ser elucidado. Mas é desanimador, cansativo e muito preocupante chegar ao marco de quatro anos sem a resposta de quem foi que mandou a Marielle e por quê”, ressaltou Mônica.
Segundo ela, que se elegeu vereadora no Rio de Janeiro em 2020, o objetivo agora é manter o legado da ex-companheira “para que Marielles possam florescer e viver suas vidas plenas e não as terem ceifadas por uma política machista”.
“Estou cansada de fazer reuniões protocolares, para instituições dizerem que estão trabalhando, mas que não podem me apresentar resultados. Quatro anos depois, o sentimento pra mim é que o governador Cláudio Castro é muito incompetente ou que há muita má-fé nisso”, desabafou.
Para marcar os quatro anos do assassinato da vereadora, a Anistia Internacional organizou um ato nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro, chamando atenção para a impunidade em que permanece o crime.
A Anistia Internacional montou uma intervenção urbana com uma instalação com mais de dois metros de altura, em frente à Câmara dos Vereadores, no Centro do Rio de Janeiro. A instalação simula o processo judicial inconcluso até agora, destacando a falta de acesso das famílias das vítimas e seus advogados às informações.
O objetivo é que os pedestres possam “folhear o processo” e ler mensagens sobre a luta das famílias e das organizações da sociedade civil por justiça.
“Já se passaram quatro anos desde o assassinato. Cinco delegados se revezaram na investigação e até agora não responderam quem mandou matar Marielle, nem julgaram as duas pessoas que foram presas e acusadas de serem os autores do crime”, disse diretora-executiva da Anistia Internacional para o Brasil, Jurema Werneck.
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Segundo a Anistia Internacional, as decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos garantem aos familiares deste crime o acesso às investigações e sua participação em todas as etapas do processo, algo que as autoridades não cumpriram.
“Respeitar o sigilo não significa falta de transparência. A falta de justiça pela morte de um defensor de direitos humanos gera um efeito ameaçador contra outras pessoas que defendem a dignidade e a vida. E há consequências imediatas e de longo prazo para toda a sociedade”, afirmou Werneck.
Para marcar a data e cobrar das autoridades celeridade e transparência nas investigações, foi organizada uma série de ações e encontros ao longo do dia na cidade do Rio de Janeiro, além do ato organizado pela Anistia internacional.
Pela manhã, os advogados das famílias da parlamentar e do motorista vão protocolar um mandado de segurança no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro para que as informações dos autos de investigação sobre os mandantes do assassinato sejam compartilhadas.
“Entendemos que o Estado brasileiro tem a obrigação de fazer cumprir o direito das famílias das vítimas participarem de maneira formal e efetiva da investigação”, dizem o defensor público Fábio Amado, representante das famílias de Marielle e de Anderson, e a advogada Luciana Pivato e Giane Álvares, representantes de Mônica Benício, todos responsáveis pelo caso.
Houve uma missa celebrada na Igreja da Candelária, e durante a tarde e a noite, no Circo Voador, importante casa de show da capital carioca, acontecerá o Festival Justiça por Marielle e Anderson, organizado pelo Instituto Marielle Franco, criado e dirigido pela família.
Primeiro uma Roda de conversa com o tema “Estamos prontas: A radical Imaginação Política das Mulheres Negras”, com Anielle Franco (diretora do Instituto Marielle Franco), Bianca Santana (Casa Sueli Carneiro) e Tainah Pereira (articulação Mulheres Negras Decidem). Além disso, haverá uma oficina de escrita para a produção de cartas de pedido de Justiça por Marielle e Anderson.
Apresentações musicais, abrindo com o maracatu do Cortejo Baque Mulher, seguido pela DJ Tamy, MC Martina e MC Zuleide. Também participam artistas como Karol Conká, BK, Juçara Marçal, Marina Iris, Jéssica Ellen, Lellê e Doralyce. O encerramento será com o Bloco Malunguetu.
JULGAMENTO
Em março de 2020, a 4ª Vara Criminal do Júri do Rio de Janeiro decidiu que havia provas de culpa para que Lessa e Queiroz fossem julgados em júri popular, no chamado tribunal do júri, que não foi marcado até agora.
O policial reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz, acusados de envolvimento com milícia, executaram o crime. A investigação apontou que Lessa teria efetuado os disparos, enquanto Queiroz teria conduzido o veículo que seguiu Marielle.
Uma série de políticos do Rio de Janeiro figuraram como suspeitos de terem ordenado o assassinato, como o vereador Marcelo Siciliano (PHS), o ex-vereador Cristiano Girão e o ex-deputado Domingos Brazão, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Todos negam qualquer envolvimento.
A possiblidade de ligação do presidente Jair Bolsonaro (PL) com o crime ainda é questionada. Além de um de seus vizinhos ter sido apontado como executor da vereadora (Ronnie Lessa), a família Bolsonaro tem ligações com outro nome que figurou entre suspeitos de envolvimento no crime, o ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega, um notório miliciano do Rio.
Segundo o Ministério Público, a família de Adriano participava do esquema de desvio de dinheiro público do filho mais velho de Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro. Adriano foi morto num cerco policial na Bahia em fevereiro de 2020, quando estava foragido.