Ministério Público Federal (MPF) abriu novo inquérito civil para investigar a atuação criminosa do ex-ministro da Saúde na pandemia de Covid-19
O ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, Eduardo Pazuello (PL), participou de um ato de pré-campanha com chope e salgadinhos grátis e falou para apoiadores que eles devem “bater” na questão da “transparência das urnas” eletrônicas para atacar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a quem chamou “inimigo”.
“Você sabe que todo inimigo tem um calcanhar de Aquiles. O do [nosso] inimigo é a transparência das urnas. Vamos bater nele”, defendeu o general da reserva.
Pazuello, pré-candidato a deputado federal, se reuniu com cerca de 100 pessoas em um restaurante na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, na última quinta-feira (9), em um evento de pré-campanha.
No evento havia chope e salgadinhos de graça, o que configura crime eleitoral por compra de votos. “O primeiro chope não precisa pagar”, diziam os garçons, que também distribuíram rodadas de salgadinhos e mini pastéis.
A fala contra as urnas eletrônicas é uma repetição dos ataques feitos por Jair Bolsonaro contra as eleições, visto que as pesquisas eleitorais mostram Lula à frente e com possibilidade de vencer em primeiro turno.
Sem apresentar nenhuma prova, Bolsonaro falou que as eleições de 2014 e 2018 foram fraudadas. Ele também contraria, sem nenhum fundamento, aos especialistas que, há 26 anos apontam a segurança das urnas eletrônicas.
Eduardo Pazuello, que enquanto ministro da Saúde cumpriu as ordens de Jair Bolsonaro e permitiu que morressem 265 mil de Covid-19 durante sua gestão, falou que se considera, “junto com os demais candidatos do PL e dos partidos da base, a tropa que o presidente vai ter pra 2022. Nós temos que estar juntos e entrar todos juntos”.
Outros pré-candidatos a deputado federal, como Waldir Ferraz, Alexandre Zibenber, e a deputado estadual, como Marcelo Bertolucci e Roberto Motta, todos do PL, também estavam no evento eleitoral.
Fiel ao lema “um manda e outro obedece” com que Pazuello se comportou à frente do Ministério da Saúde e acatou todas as ordens de Bolsonaro, como sabotar a quarentena, a vacina e propagar remédios ineficientes contra a Covid, general da reserva disparou fake news no evento.
Os apoiadores tiveram espaço no evento para conversar com os pré-candidatos. Um dos presentes falou que já recebera pelo WhatsApp a informação de que as urnas eletrônicas não vão aceitar votos em Bolsonaro nas eleições.
Outro denunciou um plano de dominação comunista a partir da cidade de Maricá (RJ), que tem um prefeito do PT. Neste momento, Eduardo Pazuello falou que falhou ao não se atentar aos planos do Foro de São Paulo antes.
“Vou fazer um mea-culpa. Eu ouvi falar do Foro de São Paulo várias vezes. Mas nunca acreditei. Senhores, eles estão trabalhando nisso há mais de 20 anos, para implantar na América do Sul o bolivarianismo. O nome da Venezuela é República Bolivariana da Venezuela. E qual é o papel do Brasil? O financiamento”, disse o aliado de Bolsonaro.
Após sair do Ministério da Saúde, Pazuello foi “presenteado” com um cargo no palácio do Planalto, saindo agora para se candidatar.
MPF
A caótica gestão de Pazuello no Ministério da Saúde é alvo de investigações.
O Ministério Público Federal (MPF) abriu novo inquérito civil para investigar a atuação do ex-ministro da Saúde na pandemia de Covid-19.
A investigação se baseia em relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) que aponta omissão de Pazuello e outros integrantes do Ministério da Saúde no enfrentamento ao novo coronavírus.
O TCU apontou que a pasta comandada por Pazuello teve responsabilidade em parte da gravidade da pandemia no país.
Pazuello e sua equipe descumpriram ordem do TCU para que fosse elaborado um plano de assistência farmacêutica na pandemia, com o objetivo de garantir e monitorar estoques de produtos de diagnóstico e tratamento da doença. O texto do tribunal aponta a “frágil, senão inexistente, política nacional de testagem” aplicada no Brasil no auge da pandemia. “Mais surpreendente ainda é o fato de que, em dezembro de 2020, o Ministério da Saúde tinha 6.887.500 testes em estoque, cujo prazo de validade expiraria entre dezembro/2020 e março/2021, se não fosse a extensão do prazo de validade deles por meio de Resolução da Anvisa”, diz o documento do TCU.
Em maio de 2021, Pazuello participou de um comício de Bolsonaro, no Rio de Janeiro, subiu no palanque e fez um discurso, agredindo do código militar que proíbe manifestações político-eleitorais de oficiais da ativa. Pazuello era general de Exército da ativa naquela ocasião.
Ele foi submetido a um processo disciplinar, que terminou com a decisão de puni-lo, apesar da evidente transgressão. O comandante do Exército era o general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, hoje ocupando o Ministério da Defesa.
Em seguida foi imposto um sigilo de 100 anos (até 2122) ao seu processo disciplinar.
A Controladoria-Geral da União alegou de forma mambembe que o sigilo era para resguardar “os preceitos constitucionais da hierarquia e da disciplina no âmbito das Forças Armadas”.
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