O candidato a presidente da República, Ciro Gomes (PDT), declarou, durante discurso na 74ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Brasília, nesta sexta-feira (29), que “temos uma caricatura trágica na Presidência da República”.
A reunião da SBPC está sendo realizada na Universidade de Brasília (UnB), desde o dia 24 até este sábado (30).
“Temos uma caricatura trágica na Presidência da República. Bolsonaro, essa tragédia que ascendeu à Presidência da República, não caiu de Marte por acaso”, afirmou.
A SBPC convidou os três candidatos que lideram as pesquisas de intenções de voto na corrida presidencial para debater com os cientistas.
Jair Bolsonaro (PL) recusou participar e não irá ao evento. Na quinta-feira (28), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou e fez uma palestra onde criticou os cortes de recursos da Ciência. Ele se comprometeu a recompor o orçamento do setor e investir mais na pesquisa científica.
Bolsonaro desprezou o convívio com os cientistas sob a alegação fajuta de que tinha “compromissos preestabelecidos em sua extensa agenda”. Os cortes do governo no orçamento da ciência e tecnologia são brutais.
Ciro atribuiu o governo Bolsonaro a um “colapso histórico do pensamento progressista” do que “propriamente a causa desse momento trágico em diversos aspectos, que o nosso país está vivendo”.
Na opinião de Ciro, o problema do Brasil não é propriamente “nos libertar do fascismo tropicalizado e imbeciloide do Bolsonaro”, mas derrubar esse fascismo e formular com a população brasileira o dia seguinte. “Senão, replicaremos as bravatas que fizeram com que o fascismo boçal do Bolsonaro ascendesse à Presidência da República”.
Ciro discursou para jornalistas, estudantes, docentes, pesquisadores e comunidade acadêmica sobre a crise econômica e institucional que o país enfrenta. Ele classificou a situação atual como a “mais grave crise da história”. “O Brasil está vivendo hoje a mais grave crise da sua história”, afirmou.
O candidato disse ainda que o modelo econômico – adotado no país desde o governo Fernando Henrique e, segundo o pedetista, mantido nas gestões dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, e agora com Bolsonaro – é a razão para a estagnação no crescimento econômico.
O candidato também defendeu o fim da famigerada emenda constitucional do teto de gastos, aprovada no governo Michel Temer, que ele chamou de “excrescência’, e que impede investimentos em educação, saúde e ciência e tecnologia por 20 anos. “Ou a gente tira essa excrescência, ou isso revoga a Constituição de 88”, disse. “Hoje as instituições brasileiras estão engessadas, cristalizadas, para proteger o interesse do financismo”, criticou.
“O Brasil precisa discutir finalmente, de forma imediata, um modelo econômico. Essa é a razão pela qual eu tento pela quarta vez ser presidente do Brasil”, disse.
Ele criticou a elevação da taxa básica de juros como suposto instrumento de combate à inflação e prometeu destituir a diretoria do Banco Central no 1º dia de mandato, caso eleito, sob aplausos da platéia.
Após os aplausos, Ciro comentou: “palmas, mas eu estou em 3º lugar na pesquisa”.
Questionado por jornalistas sobre o motivo de ter reagido aos aplausos lembrando sua colocação nas pesquisas atrás de Lula e Bolsonaro, Ciro afirmou que há “uma imensa maioria calada”.
“O ambiente de lacração, de cancelamento, de grosseria política não é só o Bolsonaro que promove, não. O comportamento da militância do gabinete de ódio do Lula é um dos mais fascistas e execráveis do Brasil”, declarou.
O candidato expôs para os presentes o seu Plano Nacional de Desenvolvimento.
No evento, uma participante pediu que ele não desistisse de se candidatar em futuras eleições. “É muito lisonjeiro. Vou morrer brigando pelo Brasil, é o amor da minha vida, é a minha paixão, é a minha vocação. Mas tenho que compenetrar que [ser] 4 vezes candidato [a presidente da República] e não ser escolhido… Talvez não seja esse o meu destino”, respondeu Ciro.
“Desta vez, chega. Se eu não ganho agora, eu coloco minha viola no saco. Porque também eu viro um grilo falante, um chato, um destemperado, porque falo em números”, brincou.
Durante o evento, foi entregue ao candidato do PDT o Projeto Brasil Novo, elaborado por especialistas e assinado pelo ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro. O documento traz propostas de políticas públicas em diferentes áreas para a próxima gestão.
LULA
Apesar de tecer críticas a Lula, o pedetista tratou o ex-presidente como “boa pessoa” em certo trecho do seu discurso. “Isso é um debate conceitual. Nós não vamos dizer que o Ciro atacou o Lula na reunião do SBPC. Eu cansei de dizer que são boas pessoas, eu andei com eles o tempo todo. Eu estou atacando ideias, políticas, equívocos grosseiros”, disse.