Assassinato de dirigente petista em Foz do Iguaçu, ataques a pesquisadores do Datafolha, morte por facadas em bar, paulada na cabeça de jovem eleitora de Lula e tiros disparados por PM à paisana em deputado federal do PT são alguns dos fatos que preocupam a ONU
O Alto Comissariado da ONU (Organização das Nações Unidas) para Direitos Humanos se manifestou sobre os ataques contra o processo eleitoral brasileiro e aponta estar “muito preocupado” com a violência política às vésperas da eleição deste domingo (2).
Em declaração feita nesta terça-feira (27), em Genebra, o Alto Comissariado fez alerta sobre essa preocupação contra a violência política, que tem se mostrado mais frequente e mais virulenta à medida que o dia das eleições vai se aproximando.
“Estamos cientes dos informes sobre a violência política e estamos fortemente preocupados com o relato de violência contínua que envolve partidos políticos, apoiadores e candidatos”, disse a porta-voz do escritório da ONU para Direitos Humanos, Ravina Shamdasani.
Não é para menos. Uma espiral de violência toma conta do noticiário político nos últimos dias. São pesquisadores do instituto Datafolha atacados por simpatizantes/eleitores bolsonaristas no último domingo (25). Entre outros tipos de violência e terror praticados por simpatizantes e ativistas que defendem Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição.
‘TOTAL IMPLEMENTAÇÃO DE DIREITOS POLÍTICOS’
A porta-voz destacou que os Estados “têm a obrigação de garantir a total implementação de direitos políticos de seus cidadãos, em toda sua diversidade”.
“E isso inclui criar um ambiente no qual eles podem fazer uma troca livre de informação e ideias, e onde a imprensa possa de maneira segura fornecer controle sobre o processo eleitoral”, afirmou.
Sem citar o nome de Jair Bolsonaro (PL), a porta-voz criticou os ataques realizados contra as urnas eletrônicas e as ameaças de não reconhecimento dos resultados da eleição.
‘CREDIBILIDADE DO SISTEMA ELEITORAL’
“Notamos também que existem tentativas repetidas de colocar dúvidas sobre a credibilidade do sistema eleitoral e ameaças de não reconhecer os resultados da eleição. Isso representa um sério risco para o processo democrático”, alertou.
Num apelo, a ONU recomendou a “todos os líderes políticos e candidatos”, às vésperas da eleição de 2 de outubro, que tomem ações para não incentivar “o uso da violência contra oponentes políticos”.
Na semana passada, em comunicado inédito na história da recente democracia brasileira, oito relatores da ONU se uniram para pedir às autoridades, candidatos e partidos políticos no Brasil a garantia de que as próximas eleições sejam “pacíficas e que a violência relacionada com as eleições seja prevenida”.
A declaração ocorre poucos dias após Jair Bolsonaro usar a tribuna da ONU para fazer campanha política: um gesto que deixou governos estrangeiros indignados com a postura do brasileiro.
ATAQUE A COMITÊ DE CAMPANHA
Comitê de campanha do deputado estadual Emídio de Souza (PT-SP), coordenador da campanha de Fernando Haddad (PT) ao governo de São Paulo, foi alvo de ataque nesta terça-feira, por volta do meio-dia.
Segundo o deputado, candidato à reeleição, um homem que se identificou como apoiador de Jair Bolsonaro (PL) invadiu o espaço, disse que acabaria com o PT, destruiu materiais de campanha e agrediu a única apoiadora que estava no comitê localizado em Novo Osasco, bairro situado no município do mesmo nome.
A apoiadora relatou ter sido empurrada algumas vezes, o que a levou a se machucar ao bater o peito. Ela se dirigiu à delegacia para fazer boletim de ocorrência. O agressor fugiu do local.
TIROS CONTRA DEPUTADO
O deputado federal Paulo Guedes (PT-MG) foi alvo de ataque com arma de fogo durante comício, na noite do domingo (25), em Montes Claros (MG). O responsável pelos tiros foi o soldado da Polícia Militar Dhiego Souto de Jesus, de 30 anos, que acabou preso.
De acordo com Guedes, o policial atirou três vezes contra ele e outras pessoas que estavam no local. “Acabei de sofrer um atentado. Bolsonarista disparou três tiros contra o carro de som em que eu estava, durante carreata em Montes Claros. Até onde vai esse ódio?”, questionou o deputado.
Segundo o boletim de ocorrência, o policial disse que, quando passou pela carreata, acompanhado de amiga no veículo sentada no banco de trás, ela teria gritado “Bolsonaro”. O militar afirmou que, neste momento, três pessoas de motocicleta teriam fechado o carro dele.
PAULADA NA CABEÇA
Estefane Laudano, 19 anos, foi agredida com uma paulada na cabeça depois que a irmã fez críticas ao bolsonarismo em um bar em Angra dos Reis (RJ), no litoral sul do Rio de Janeiro, na tarde da última sexta-feira (23).
O agressor, cujo nome não foi divulgado, foi autuado por lesão corporal e liberado. Estefane levou pontos no local e teve alta do hospital no mesmo dia. “O que aconteceu foi um livramento porque eu poderia ter morrido”, disse a vítima em entrevista à imprensa.
FACADAS EM BAR
Apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) matou eleitor de Lula na cidade de Cascavel, no Ceará. De acordo com a Polícia Civil do Ceará, o criminoso entrou no bar, no último sábado (24) e, visivelmente transtornado, teria gritado “quem é eleitor do Lula aqui?”.
A vítima, Antônio Carlos Silva de Lima, 39 anos, caseiro de um sítio da região, pai de garoto de 10 anos, sem nenhum antecedente criminal, disse: “Eu sou!”
O criminoso de 59 anos, com passagens por lesão corporal dolosa, golpeou o caseiro com facadas. A vítima foi socorrida, mas não resistiu aos ferimentos e morreu durante atendimento no hospital.
A Polícia Civil informou que o caso é investigado pela Delegacia Metropolitana de Cascavel e que está em diligências para prender o homem já devidamente identificado. Esses são os fatos mais recentes de violência política, que preocupa a ONU.
M. V.