
Depois do fracasso da trapalhada da campanha de Bolsonaro contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro das Comunicações, Fábio Faria, falou que se “arrependeu” de ter realizado a entrevista coletiva que apresentou dados falsos sobre a diferença nas inserções de rádio de Lula e de Bolsonaro.
O ministro disse que não sabia que os aliados de Jair Bolsonaro, como seu filho, Eduardo Bolsonaro, usariam a acusação que ele fez para tentar um golpe contra as eleições.
“Me arrependi profundamente de ter participado daquela entrevista coletiva. Se eu soubesse que [a crise] iria escalar, eu não teria entrado no assunto”, disse.
“Eu fiquei imediatamente contra tudo isso. Fui o primeiro a repudiar. Isso prejudicaria o presidente Bolsonaro”, apontou. Faria disse que decidiu “sair de cena” quando percebeu que a situação “escalou”.
Depois da “denúncia” que Faria realizou ao lado de Fabio Wajngarten sobre as inserções de rádio, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, determinou que a campanha de Bolsonaro deveria enviar provas concretas.
A campanha, porém, enviou um relatório com dados frágeis e que foram rapidamente contestados. Alexandre de Moraes recusou a denúncia e determinou que o Ministério Público Federal investigue a campanha de Bolsonaro por crime eleitoral “com a finalidade de tumultuar o segundo turno do pleito em sua última semana”.
Fábio Faria admite, depois do fracasso da suposta “denúncia” que “a falha era do partido [PL], que percebeu o problema tardiamente, e não do Tribunal. Como havia pouco tempo para o TSE fazer uma investigação mais aprofundada, eu iniciei um diálogo com o tribunal em torno do assunto”. Faria não está entre os investigados.
Jair Bolsonaro também fez uma entrevista coletiva para insistir na fraude que sua campanha estava tentando produzir. Ele falou que iria “às últimas consequências” para “fazer valer aquilo que as nossas auditorias constataram”.
“OPERAÇÃO TABAJARA”
Até mesmo aliados de Jair Bolsonaro têm falado que a campanha sobre as inserções de rádio é uma “Operação Tabajara” porque está “repleta de erros” e é uma “demonstração de amadorismo”.
Referência às “Organizações Tabajara”, empresa fictícia criada pelo programa humorístico “Casseta e Planeta”, que vendia produtos de qualidade duvidosa.
“Foi uma Operação Tabajara, uma trapalhada do início ao fim, ninguém parou para analisar os dados”, disse reservadamente um aliado ao blog de Valdo Cruz no G1.
FAMÍLIA
No relatório usado por Fábio Faria e pela campanha de Bolsonaro para acusar as rádios de serem desiguais na distribuição de inserções de propaganda eleitoral, o ministro colocou uma rádio cujo sócio é seu próprio pai.
A Agreste FM tem como sócio Robinson Faria (PL), ex-governador do Rio Grande do Norte e pai de Fábio Faria. Mesmo assim, segundo a campanha de Jair Bolsonaro, teria agido para favorecer Lula.
A empresa Audiency, contratada pelo PL para fazer o monitoramento das rádios, diz que a Agreste FM veiculou cinco inserções do PT e apenas duas de Bolsonaro entre os dias 7 e 11 de outubro.
O ministro Fábio Faria acredita que essa “é mais uma prova de que eu não tenho nada a ver com isso”. “Meu pai é um dos sócios dessa rádio, mas quem comanda a rádio é o Cid Arruda, que foi prefeito da cidade pelo PSB”.
SERVIDOR DEMITIDO MUDA VERSÃO
O ex-servidor do TSE, Alexandre Gomes Machado, exonerado por assédio moral, mudou sua versão sobre supostos alertas que deu à Corte depois das eleições de 2018.
À Polícia Federal, Machado tinha dito que “desde o ano 2018″ informou “reiteradamente ao TSE de que existem falhas de fiscalização e acompanhamento na veiculação de inserções de propaganda eleitoral gratuita”.
Em entrevista ao Estadão, deu um passo atrás. “Eu alertei que o TSE deveria criar alguma maneira para saber se as decisões de suspensão das inserções seriam cumpridas considerando o poder de polícia da Justiça Eleitoral”, falou.
O ex-servidor foi usado pelos apoiadores de Jair Bolsonaro como uma peça que reforçava a campanha que tentou levantar suspeitas sobre a lisura das eleições.