Comitê 6 de janeiro, instituído na Câmara dos EUA após a invasão, aprova por unanimidade solicitação a promotores de abertura de processo criminal contra o ex-presidente Trump
O Comitê 6 de Janeiro da Câmara dos deputados dos EUA pediu na segunda-feira (19) aos promotores federais que indiciem o ex-presidente Donald Trump pelos crimes de obstrução, fraude e insurreição, por seu papel na invasão do Capitólio em 2021.
Formado por sete membros democratas do Congresso e dois oponentes republicanos do ex-presidente, o Comitê aprovou por unanimidade um relatório, fruto de 18 meses de investigações, recomendando ao judiciário o indiciamento do bilionário. O pedido não é juridicamente vinculativo.
Sobre a tentativa sem precedentes de impedir a transferência pacífica de poder, o presidente do Comitê, o democrata Bennie Thompson, advertiu que “se quisermos sobreviver como uma nação de leis e democracia, isso nunca mais pode acontecer”.
Ele também acusou o ex-presidente de minar a fé no sistema democrático. “Se a fé for quebrada, nossa democracia também será. Donald Trump quebrou essa fé”, disse Thompson. “Ele perdeu a eleição de 2020 e sabia disso, mas optou por tentar permanecer no cargo por meio de um esquema de várias partes.”
A invasão do Capitólio, em cenas que assombraram o mundo, foi cometida por hordas de apoiadores de Trump – milicianos, supremacistas brancos e negacionistas em geral -, convocados a Washington e insuflados pelas alegações de que a derrota nas eleições de 2020 para Joe Biden fora resultado de inexistente fraude generalizada.
Senadores, deputados e até o vice-presidente norte-americano tiveram de se esconder para escapar da fúria dos trumpistas, que, entre outras ameaças, pediam que “enforquem Mike Pence”, que se recusara a aderir ao esbulho. Por horas, o Congresso ficou sem qualquer proteção das forças da legalidade.
“Entre as descobertas mais vergonhosas desta comissão está o presidente Trump sentado na sala de jantar do Salão Oval, assistindo ao violento tumulto no Capitólio pela televisão”, disse a deputada Liz Cheney, filha e herdeira política do vice de W. Bush, a mais destacada republicana do Comitê. Mas, segundo Trump, o Comitê 6 de Janeiro orquestrou contra ele uma “caça às bruxas”.
Referindo-se à acusação de insurreição, o deputado democrata Jamie Raskin disse antes da votação que o comitê acredita “que existem evidências mais do que suficientes para um encaminhamento criminal” de Trump por “ajudar e confortar aqueles no Capitólio que se envolveram em um ataque violento aos Estados Unidos”.
Em um tuíte após a votação, o deputado republicano Adam Kinzinger vinculou o indiciamento de Trump ao seu futuro político. “Agora nos voltamos para o sistema de justiça criminal para garantir a Justiça sob a lei”, ele postou. “O povo americano pode garantir que ele nunca mais seja eleito.”
O ex-presidente disse em setembro que “não podia imaginar” ser indiciado, mas acrescentou que as acusações não o impediriam de buscar um retorno à Casa Branca em 2024. Em novembro, Trump anunciou sua candidatura.
Com a derrota dos democratas nas eleições intermediárias, na prática o Comitê está chegando ao fim dos trabalhos. Alguns dos fascistas mais notórios no assalto ao Capitólio foram posteriormente presos e processados; vários já estão condenados.
