As equipes de resgate continuam as buscas por vítimas e desaparecidos nesta quarta-feira (22), após o histórico temporal que devastou o Litoral Norte de São Paulo no último fim de semana. De acordo com balanço atualizado pelo governo paulista, 26 corpos já foram identificados e liberados para o sepultamento: 10 homens, nove mulheres e sete crianças.
As buscas pelos desaparecidos foram retomadas na manhã desta quarta. A Defesa Civil deixou de atualizar o número de pessoas procuradas, devido às oscilações nos dados, mas a estimativa é que sejam ao menos 38.
Segundo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, 38 pessoas estão desaparecidas. Mais cedo, o tenente-coronel Hengel Ricardo, coordenador da Defesa Civil estadual, afirmou que eram 57. “Esse número de desaparecidos pode flutuar, pode ser que a gente encontre mais gente, menos gente”, afirmou Tarcísio.
Os trabalhos de buscas acontecem especialmente em bairros da costa sul da cidade de São Sebastião, como a Vila do Sahy, área que concentra a maioria das vítimas da tragédia, e Juquehy.
Na terça-feira voltou a chover forte em São Sebastião e as buscas chegaram a ser suspensas momentaneamente por questões de segurança devido ao risco de novos deslizamentos de terra. Os trabalhos foram retomados a partir das 22h e seguiram pela madrugada, diferente do que aconteceu nos primeiros dias, quando em alguns pontos não havia luz para que a continuidade das buscas nos locais afetados.
CENAS ASSUSTADORAS
Na costa sul de São Sebastião, moradores ficaram ilhados e aguardam a chegada de doações e atendimento médico. Com os deslizamentos, diversas casas foram arrastadas e levadas pela terra. Muitos locais tiveram o abastecimento de água, luz e internet prejudicado.
O número de desalojados e desabrigados no litoral paulista não foi divulgado, mas, em todo o estado de São Paulo, o governo informou que há 1.730 desalojados (que precisaram deixar suas casas e foram para a residência de amigos ou parentes) e 766 desabrigados (que perderam as suas casas e não têm para onde ir) em decorrência das chuvas.
Segundo o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), 50 casas desabaram na cidade: “Cena assustadora”.
Desde domingo (19), o governador Tarcísio de Freitas está em São Sebastião. Ele mudou temporariamente o gabinete dele para a cidade, enquanto a situação crítica persistir. Um comitê de gerenciamento de ações foi montado para atender aos desabrigados.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também esteve em São Sebastião. Ele se comprometeu a implementar um programa habitacional para as vítimas da chuva e disse que o governo federal está à disposição para atuar nas áreas atingidas.
OPERAÇÃO DE RESGATE
As buscas são feitas por bombeiros, agentes da Defesa Civil e os próprios moradores. No domingo, helicópteros da PM tiveram dificuldade para chegar nos pontos mais críticos devido ao mau tempo. O Exército enviou aeronaves para ajudar nos trabalhos. A operação envolve mais de 600 pessoas.
Uma das vítimas é uma menina de 7 anos que morreu soterrada após a sua casa ser destruída por uma pedra de duas toneladas durante o temporal em Ubatuba. Em São Sebastião, uma mulher de 35 anos morreu depois que a casa dela foi atingida por uma árvore.
Ainda em São Sebastião, uma criança de 2 anos foi salva após ter ficado horas sob os escombros. Equipes também resgataram uma mulher em trabalho de parto que estava isolada — mãe e bebê passam bem.
Em Juquehy, outro bairro bastante afetado pelas chuvas, o Corpo de Bombeiros registrou um novo deslizamento de terra de segunda para terça, mas sem registro de vítimas.
ESTRADAS
Segundo o último balanço divulgado pelo governo paulista na manhã desta quarta-feira (22), o Departamento de Estradas de rodagem (DER) liberou parcialmente o tráfego em pontos que antes estavam totalmente obstruídos na rodovia Rio Santos (SP-055), no trecho entre São Sebastião e Ubatuba.
A subida da serra pode ser feita pelo Sistema Anchieta-Imigrantes ou pela Rodovia dos Tamoios, dependendo do ponto na Rio-Santos onde o motorista se encontra.
Caso esteja na altura da Praia de Juquehy (km 176), sentido Bertioga, a rota alternativa é somente o Sistema Anchieta-Imigrantes. Já para o motorista que estiver do outro lado da interrupção total da Rio-Santos, no km 174, a rota alternativa é a Rodovia dos Tamoios.
A rodovia Mogi-Bertioga segue totalmente interditada na altura do km 82 e parcialmente bloqueada em outros pontos.
Os mercados chegaram a ter filas de clientes preocupados em estocar mantimentos. Enfrentando falta de água potável, limitação na venda de combustíveis e escassez de alimentos, moradores relatam que encontraram um litro de água sendo vendido por R$ 40: “Um absurdo”.
No bairro do Itatinga, no complexo da Topolândia, a lama desceu do morro e interditou uma das principais vias: “Andei nessa rua minha vida inteira e nunca tinha visto uma coisa dessas”, conta uma moradora local.
SAÍDA DO LITORAL
Por conta da situação das estradas e do fluxo intenso de veículos tentando deixar o litoral, os turistas têm enfrentado trânsito intenso.
De um lado da estrada, carros de passeio com famílias encaravam uma jornada sem previsão de término pelas estradas do litoral, totalmente congestionadas. As ruas ainda seguiam alagadas e cobertas de lama, tornando o trânsito escorregadio e perigoso.
Do outro lado da estrada, na descida para o litoral, a via era ocupada por caminhões do Exército, retroescavadeiras, caçambas de terra e entulho, além de veículos de operadoras de telefonia.
Na saída de Caraguatatuba, outra cidade litorânea, para a Rodovia dos Tamoios, o anda e para dos veículos era constante. A via era a única acessível para quem tentava deixar o Litoral Norte.
Isolados, turistas chegaram a gastar até R$ 30 mil por voo para deixar o local de helicóptero. Enviados ao local, os repórteres André Catto e Fábio Tito, do g1, registraram um desses resgates no heliponto próximo à Vila do Sahy, uma das mais atingidas.