
Trump afirma proteger “Alemanha, França e todos esses países. Então, muitos deles saem e fazem acordo de bilhões de dólares com a Rússia para obter energia. Isso não deveria ser permitido”, reclamou
Na cúpula da Otan, que está ocorrendo em Bruxelas nesta quarta-feira (11) e quinta-feira (12), o presidente dos EUA, Donald Trump, surpreendeu os ‘parceiros’ europeus ao comunicar que, agora, não teriam que pagar só os 2% do PIB de gasto militar que já vinha exigindo, mas “4% do PIB”. Em resumo, o preço da ocupação dos países europeus por bases e dezenas de milhares de soldados norte-americanos, que já dura décadas, acaba de dobrar para 4% do PIB, anunciou Don Trump.
Evidentemente, o aumento da despesa militar – que está sendo cobrado em paralelo à guerra comercial de Trump com praticamente o mundo inteiro – é para ser gasto em armas norte-americanas, senão, para que serviria? Como consta no manual da máfia, quer proteção, tem que pagar (e se não quiser, paga também, após devidamente aconselhado pelo serviço de convencimento espontâneo).
A confirmação da elevação da taxa de extorsão foi feita pelo presidente búlgaro, Ruman Radev, a repórteres: “o presidente Trump, que falou primeiro, levantou a questão não apenas de atingir 2% hoje, mas (definir) uma nova meta – 4%”. Depois de largar a nova tabela de preço da proteção na cúpula, Trump saiu.
O que foi logo confirmado pela porta-voz da Casa Branca. “Trump sugeriu que os países não apenas cumpram seu comprometimento de 2% de seu PIB com gastos em defesa, mas aumentem para 4%”, disse Sarah Sanders a repórteres. “Ele quer ver nossos aliados compartilharem mais o fardo e, no mínimo, cumprirem suas obrigações já estabelecidas”.
Na segunda-feira, milhares de pessoas marcharam em Bruxelas para repudiar Trump e o aumento dos gastos com armas e guerras, enquanto se cortam aposentadorias, salários, saúde, educação, direitos trabalhistas e se reprime a imigração, alegando falta de recursos e endividamento. Na semana passada, direto do Air Force One havia sido feita a advertência de que “os EUA costumam ser o cofrinho do mundo e isso tem de parar”.
Aliança imperialista anacrônica, criada para barrar revoluções na Europa ocidental, sob o pretexto de ameaça de invasão soviética, a Otan não se dissolveu quando a União Soviética acabou, e ainda estendeu a atuação para fora do próprio teatro de operações previsto por sua carta, como na invasão do Afeganistão e destruição da Líbia. Na frase famosa de um general ianque, a Otan é para “manter os americanos dentro, os russos, fora, e os alemães por baixo”.
Às vésperas da cúpula, a truculência de Trump sobre os 2% do PIB já havia merecido algumas respostas. Na segunda-feira, o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, afirmou que seu país “não ia” dobrar seu atual gasto militar, para 2%. O presidente do Conselho Europeu, o polonês Donald Tusk, aconselhou Trump a apreciar os aliados, porque “não são muitos”. Ele acrescentou que a União Europeia já tem um gasto militar “superior ao da Rússia e equivalente ao da China”.
No café da manhã com o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltemberg, a coisa já começara a feder, com Trump dizendo a ele que a Alemanha se tornara “prisioneira” de Moscou devido à dependência do fornecimento de energia. “Nunca deveria ter sido permitido que isso acontecesse”, disse Trump, conforme o Guardian.
“A Alemanha é totalmente controlada pela Rússia porque vai receber 60% a 70% de sua energia da Rússia e um novo gasoduto”, continuou Trump. “Além disso, a Alemanha está pagando apenas um pouco mais de 1% [do PIB para contribuição de defesa da Otan], enquanto os Estados Unidos estão pagando 4,2% de um PIB muito maior”. Ele também insistiu em que o aumento do gasto militar alemão deveria ser imediato, e não escalonado, até 2025, como Berlim quer.
Aos repórteres, Trump disse que “estamos protegendo a Alemanha, estamos protegendo a França, estamos protegendo todos esses países. E então muitos dos países saem e fazem um acordo com a Rússia, onde estão pagando bilhões de dólares para os cofres da Rússia”, disse ele. “Eu acho que isso é muito inapropriado.” Naturalmente, somente os incrédulos com o espírito humanitário de gente como Trump viu nisso a exigência de que Berlim, ao invés do gás russo, pagasse mais caro pelo gás de fracking americano…
Antes de anunciar a subida da tabela de “proteção”, Trump reclamou no plenário da Otan que somente cinco países tinham cumprido os 2% do PIB de gasto militar, e 23 não. No caso, além dos EUA, só Grã Bretanha, Polônia, Grécia e Estônia. De volta ao Twitter, antes de sair para jantar, disparou: “de que adianta a Otan se a Alemanha está pagando à Rússia bilhões de dólares por gás e energia? Por que só 5 dos 28 países cumpriram seu compromisso? Os EUA estão pagando pela proteção da Europa e depois perdem bilhões em comércio. Deve pagar 2% do PIB IMEDIATAMENTE, não até 2025”.
A primeira-ministra Angela Merkel respondeu como pôde, dizendo que viera “do leste da Alemanha” e que agora a Alemanha Federal era “independente” para tomar suas “decisões independentes”, além de “fazer muito pela Otan”. Já o presidente francês Emmanuel Macron asseverou que suas discussões com Trump haviam sido “produtivas”. Theresa May, cujo governo anda desmanchando e que será anfitriã de Trump em Londres nesta quinta-feira, disse que “pode e deve ser feito mais” em termos de gastos com defesa, mas não se comprometeu com os 4%. Na capital inglesa, um gigantesco ‘bebê Trump’, de topete louro e tudo, aguarda o presidente que separou milhares de crianças de seus pais imigrantes.
ANTONIO PIMENTA