
A editora-chefe do portal Russia Today (RT), Margarita Simonyan, escreveu no Twitter que “Assange será entregue à Grã Bretanha nas próximas semanas ou mesmo dias”, segundo fontes a que tem acesso. O alerta foi republicado pelo WikiLeaks.
Há seis anos Assange, o fundador do site que expôs como ninguém antes os crimes de guerra dos EUA no Iraque e Afeganistão, está asilado na embaixada do Equador em Londres, após orquestração da justiça sueca com Washington para uma falsa acusação de estupro. O governo Obama organizou um processo judicial secreto contra Assange, continuado sob Trump. Apesar de a Suécia ter recuado da farsa, Londres manteve a perseguição a Assange, sob a pífia alegação de que faltou a uma audiência, e se recusou a se comprometer em não extraditá-lo para os EUA.
“Como nunca antes, desejo que minhas fontes estejam erradas”, acrescentou Simonyan. No início da semana, o Times informou que a Grã-Bretanha está envolvida em discussões de alto nível com o governo equatoriano em busca de remover Assange de sua embaixada em Londres. Está prevista para breve uma visita à Inglaterra do presidente Moreno, que chamou Assange de “hacker”, “pedra no sapato” e “problema herdado”.
O atual governo equatoriano submete há três meses Assange ao mais completo silenciamento, sem acesso às redes e sem poder se manifestar. No mês passado, a chancelaria equatoriana disse que o asilo não podia ser “para sempre”.
O jornalista Glenn Greenwald, do The Intercept, também assinalou que “parece ser verdadeiro” o relato de que EUA e Equador estão “se preparando para devolver Assange ao Reino Unido”. “A grande questão é se os EUA irão indiciá-lo e buscar sua extradição, como Sessions e Pompeo prometeram fazer”, apontou. “Mal posso esperar para ver quantos falsos defensores da liberdade de imprensa irão dar suporte a isso”.
Ainda conforme a RT, os EUA estão exercendo “pressão significativa” sobre o Equador, incluindo a “ameaça de bloquear um empréstimo do FMI” se Assange continuar asilado na embaixada. Painel da ONU já declarou a perseguição a Assange por parte do governo inglês como equivalente a “prisão arbitrária e ilegal”.
Na semana passada, uma vigília online em defesa de Assange contou com o mais conhecido denunciador do tempo da Guerra do Vietnã, Daniel Ellsberg, dos ‘Papeis do Pentágono’, que trouxeram ao conhecimento do povo americano todo o desastre em curso. Na época (1971), Ellsberg chegou a ser ameaçado com até 150 anos de prisão.
Como ele relatou, “esperei quase 40 anos, depois de os Papeis do Pentágono virem à luz, que alguém fizesse o que eu tinha feito”. Ele acrescentou que “Nixon planejou para mim o que Hillary Clinton e Barack Obama planejaram para Julian Assange”. Já o jornalista premiado com o Pulitzer, Chris Hedges, advertiu que dentro do aparato de inteligência americano há “um ódio maníaco a Julian e ao WikiLeaks. Querem pegá-lo para fazer dele um exemplo de modo que não haja mais Julian Assanges”.
Há também declarações colocando o WikiLeaks como uma “entidade de espionagem estrangeira hostil” e não um órgão jornalístico de denúncias – a mais estridente delas, o vídeo do “assassinato colateral”, em que um helicóptero de guerra ianque mata civis desarmados e aos que foram socorrer as vítimas. Vídeo vazado por Chelsea Manning, que lhe custou anos de prisão e quase um ano de tortura e solitária.
Assange também se tornou um trunfo da guerra sem quartel em Washington, após o papel do WikiLeaks no vazamento das manipulações nas primárias democratas nas eleições de 2016, o que aumentou a bronca dos neocons e hillaristas que se chocam com Trump, mas não impediu o procurador-geral (ou seja, chefe da Justiça de Trump) Jeff Sessions de classificar de “prioridade” sua prisão.
Ray McGovern, o ex-analista da CIA que se dedicou a investigar os crimes das agências de inteligência, assinalou que a perseguição a Assange sofreu uma escalada após a publicação, pelo WikiLeaks, dos arquivos “Cofre Forte 7”, que mostraram que a CIA tinha desenvolvido a capacidade de hackear sistemas de computadores e deixar marcas falsas para atribuir o ataque a outros países. Foi depois do “Cofre Forte 7” que Washington mandou Quito “tornar a vida realmente miserável para Assange”, denunciou McGovern.
A mídia imperial vem tentando abafar qualquer solidariedade a Assange, para facilitar o trabalho para a CIA e Washington, ao mesmo tempo em que o governo Moreno diz que Assange “atrapalha as relações com a Inglaterra e os EUA”. Como advertiu Ellsberg, se a caça a Assange for bem sucedida, “isso significaria uma mudança real na nossa constituição e no nosso regime”. “Temos estado muito longe de instituições democráticas nos anos recentes, como Ed Snowden revelou, mas a perseguição de Assange seria um passo adiante e essencialmente congelaria todo o vazamento e denúncia”. Perseguição ainda mais feroz neste momento em que o colapso do “mundo unipolar” do Pentágono & Wall Street se expressa na histeria predominante em Washington, seja na versão “russófoba”, ou nas variantes “guerra comercial a todos” e “caça aos imigrantes&muro”.
A. P.