
A repercussão do escândalo de seu principal guarda-costas espancando manifestantes no 1º de Maio em Paris, usando indevidamente capacete e insígnia policial, forçou nesta sexta-feira (20) o presidente francês Emmanuel Macron a demiti-lo, quando no parlamento já soavam os chamados à demissão do seu ministro do interior e convocação do primeiro-ministro. Inicialmente, Macron acreditou que uma mera suspensão de funções por 15 dias resolveria o caso, mas o caldo entornou. O chefe de segurança pessoal de Macron, Alexandre Benalla, e outro auxiliar, já estão presos. O ministro do Interior, Gerard Collomb, terá de depor sobre a questão nesta segunda-feira (23) na Assembleia e no dia seguinte perante o Senado.
A denúncia havia partido do jornal Le Monde, e o vídeo com Benalla, com capacete privativo da polícia e insígnia falsa, chutando um manifestante caído na Praça Contrescarpe em Paris, viralizou na quarta-feira. De acordo com a agência EFE, Benalla foi preso por “violência em grupo por parte de uma pessoa encarregada de uma missão de serviço público, usurpação de funções e posse ilegal de insígnias reservadas à autoridade pública”.
Benalla também será indiciado por “cumplicidade na apropriação indevida de imagens de um sistema de videovigilância – ou seja, tentar apagar os rastros do espancamento. Outro homem que aparece com ele no vídeo do espancamento de manifestantes também foi preso. Três policiais foram suspensos na sexta-feira, inclusive dois suspeitos de entregar a Benalla as imagens de vídeo comprometedoras.
De acordo com o Palácio Eliseu, a demissão justificou-se “pelos novos fatos” que são objeto de “um processo judicial”. As funções de Benalla, oficialmente chefe de gabinete adjunto, incluíam a segurança e organização das deslocações de Macron. Durante a campanha presidencial, era ele que chefiava a segurança do candidato.
Agora, as fontes do Elizeu asseveram que Benalla se “excedera” e só estava autorizado a “observar” as operações no 1º de Maio. Um conto da carochinha, já que foi um Dia do Trabalho excepcionalmente tenso, com os trabalhadores ferroviários em pé de guerra contra a privatização e o corte de direitos, na maior greve em uma década, estudantes ocupando universidades, aposentados sob novas ameaças de Macron e a indignação geral contra o aprofundamento da indecente reforma trabalhista. Foi nessas condições que Benalla chutou e espancou manifestantes que repudiavam o “presidente dos ricos” Macron.
O chefe da capangagem de Macron agora se arrisca a uma temporada de três anos na prisão, mais multa de 45 mil euros. No parlamento, a oposição exige um inquérito com depoimentos públicos e não a portas fechadas, como quer o governo. Surgiram novos vídeos que minam a tese palaciana de Benalla como “mero observador”, onde ele aparece em outros momentos atacando manifestantes, no caso, uma mulher.
Até o PS já não descarta a demissão de Collomb, que foi informado dos espancamentos cometidos por Benalla desde 2 de maio. No palácio, a operação-abafa está a toda. O porta-voz de Macron, Bruno Roger-Petit, asseverou que Benalla “solicitou permissão para observar as operações de policiamento no 1º de maio”. Um capanga exemplar: foi para a rua espancar no seu dia de folga.
Matéria da Euronews mostra o vídeo em que o guarda-costas de Macron espanca manifestante no 1º de Maio:
http://pt.euronews.com/video/2018/07/22/macron-enfrenta-crise-sem-precedentes