
No seu depoimento diante da comissão de inquérito da Assembléia francesa sobre o escândalo do chefe da guarda pessoal do presidente Macron espancar manifestantes no 1º de Maio – surrou um manifestante caído e bateu em uma mulher -, o ministro do Interior, Gérard Collomb, fez de tudo para eximir-se de qualquer responsabilidade. Alexandre Benalla, que estava oficialmente alocado como vice-chefe de gabinete do Palácio Eliseu foi detido e indiciado no domingo.
Macron segue mudo, mas foi obrigado a demitir na sexta-feira o benquisto capanga. No fim de semana, ele se reuniu com o primeiro-ministro Édouard Philippe e com Collomb, para combinarem uma versão sobre o caso, perdão, uma linha de contenção do estrago. Conforme as fontes do palácio, o “presidente dos ricos’ está possesso porque o flagra no seu capanga está atrapalhando suas “reformas estruturais” pró-bancos e o desmonte de direitos, além de dificultar sua misancene nos fóruns internacionais”.
O chefe de polícia de Paris, Michel Delpuech, também depôs na segunda-feira (23), e o ritual será repetido nesta terça-feira diante do Senado. Bennalla, de 29 anos, que sempre era visto bem próximo a Macron, seja no 14 de Julho, data nacional, ou na comemoração da Copa vencida pela França, e que cuidou da segurança pessoal do agora presidente francês durante a campanha, vai ter que achar outra ocupação, se não pegar três anos de cadeia por espancamento, usurpação de função e posse ilegal de insígnia policial.
O vídeo do espancamento foi divulgado pelo Le Monde na quarta-feira. Antes, Benalla havia sido suspenso por apenas 15 dias. A oposição está exigindo a demissão de Collomb, a punição de Benalla e que o Eliseu explique porque demorou tanto a agir e porque o guarda-costas detinha tantas regalias.
Para quem estava no seu dia de folga, e supostamente pedira para ser “observador” da repressão aos manifestantes, Benalla demonstrou muito gosto pela coisa, bateu com mais vontade do que até a tropa de choque. No vídeo, se ouve o rapaz, caído, implorando para que ele pare. Outras imagens o mostram arrastando uma mulher.
O indiciamento inclui “cumplicidade na apropriação indevida de imagens de um sistema de videovigilância”. Três policiais foram suspensos por entregar a Benalla as imagens comprometedoras. Outro funcionário do partido de Macron, que participou da agressão, também já foi detido e indiciado.
O ministro alegou sequer saber antes do episódio que Benalla era segurança de Macron, embora tenha admitido que este estava na reunião de comando que preparou a ação policial no 1º de Maio. Segundo ele, pelo código penal, a responsabilidade por tomar providência era do Palácio Eliseu.
Quando Benalla foi suspenso, ele reteve o carro oficial, com luzes azuis e motorista, e manteve o apartamento de graça em local nobre. Também foi a pedido direto do palácio que ele recebeu permissão para porte de arma.
Collomb disse aos deputados que a presença de Benalla nas manifestações como observador era “legítima”, mas seu comportamento violento fora “inaceitável”. Acrescentou “não ter ideia” de como ele tinha conseguido uma braçadeira de polícia, capacete de tropa de choque e rádio. Um deputado não se conteve: “temos a impressão de que tudo aconteceu sem que você soubesse… parece que você não tem conhecimento de nada”.
O problema de Macron é se a operação abafa vai colar. Com tantos descontentamentos represados nas ruas da França, às vezes basta uma pequena fagulha. “Está aberta uma crise política, a assembléia está paralisada”, afirmou o líder da França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon. “O ministro do interior está desmoralizado, mentiu demais. Claro que irá renunciar, e não será o único”.