Já quanto às taxas de juros da dívida pública exorbitantes, nenhuma palavra.
As Centrais Sindicais resolveram por sua conta e risco avalizar em nota conjunta a “iniciativa mobilizadora” da Folha de São Paulo de um “Pacto Nacional pelo Combate às Desigualdades”, e anunciaram que estão “juntas nessa empreitada”. Para as Centrais, “somos um país muito rico, mas a miséria aflige grande parte da população”. Segundo a nota, “as desigualdades econômicas, sociais e políticas, em suas várias formas, são obstáculos para o Brasil se tornar um país desenvolvido”. Mas quanto às taxas de juros da dívida pública exorbitantes, teto de gastos asfixiantes, câmbio flutuante anti-indústria nacional e investimentos públicos, nenhuma palavra.
O fato é que, segundo a ONU, o Brasil tem a 2ª maior concentração de renda do mundo: 1% mais rico concentra 28,3% de toda a renda do país.
DIAGNÓSTICO
Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em palestra promovida pelo HP, lançou luz sobre o complexo problema. Segundo o diretor da CNI, “o Brasil mudou a matriz econômica (de uma consistente base industrial) para um rentismo improdutivo e exportação de commodities”. Afirmou que, há 40 anos, o PIB brasileiro cresce a metade do crescimento dos países desenvolvidos. “O fosso tem aumentado”. A indústria de transformação, hoje, é 11,3% do PIB brasileiro, já foi mais de 30% no início dos anos 80. Lucchesi lembrou que, durante 50 anos, de 1930 a 1980, fomos o país que mais cresceu no mundo. Assinalou que saímos de uma pequena economia agrário-exportadora para o 7º parque industrial, no final dos anos 70. “Crescemos mais que o Japão, a uma taxa de 7% ao ano”.
RALO DA DÍVIDA
A ONG “Auditoria Cidadã da Dívida” dá uma convincente explicação para o acontecido: “em 2023, apenas até o dia 18 de julho, foram gastos R$ 1,356 trilhão com juros e amortizações (pagamento do principal) da dívida pública federal, o que representa 52% de todos os gastos federais” – e beneficia principalmente grandes bancos e investidores –, mais recursos que o montante gasto com a soma de todas as áreas sociais, as quais beneficiam toda população. Em 2022 o Brasil gastou, só nos juros, R$ 780 bilhões, equivalente a 4,4 bolsa família ou o suficiente para zerar o déficit habitacional de 5,8 milhões de moradias. Conforme relatório da Auditoria, em 2020 e 2021 o governo pagou quase o dobro em juros, mas a dívida pública cresceu R$ 708 bilhões.
Enquanto isso, segundo o Banco Central, o lucro dos cinco maiores bancos, em 2022, foi de R$ 106,7 bilhões.
TEMPO PERDIDO
Lucchesi lembrou que “a China buscou a agenda vencedora do Brasil, pegou o bastão da liderança no crescimento e se colocou como grande potência industrial focada na construção de uma moderna plataforma manufatureira”. Citou que “em 1980 o PIB da China era 1% do PIB dos EUA, e hoje é 75%”.
Para Lucchesi, da CNI, “o Brasil perdeu a 3ª revolução industrial”. Citou que “em 1980, o Brasil produzia 29 milhões de toneladas de aço e a China 36 milhões. Hoje, 40 anos depois, produzimos 34 milhões e a China 900 milhões de toneladas”. O PIB brasileiro era 4,3% do PIB mundial, hoje é 2,3%. O PIB da China, em 1980, era de U$ 305 bilhões, equivalente ao PIB brasileiro em 1980, de U$ 237,4 bilhões. O PIB da China hoje é de U$ 17,95 trilhões e o do Brasil é de U$ 2,2 trilhões
“AÇÕES PRÁTICAS”
Dia 30 de agosto serão lançadas as primeiras ações práticas do Pacto… A proposta foi apresentada às centrais no dia 2 de agosto e em matéria no jornal, dia 6 de agosto, assinada por Fabiana Pinto, Marcio Blanck, Neca Setúbal e Oded Grajew.
Quanto às ações práticas e propostas concretas a serem apresentadas, são o Observatório Brasileiro das Desigualdades; Frente Parlamentar de Combate a Desigualdades; Prêmio de Combate às Desigualdades para municípios que tiverem obtido os melhores resultados na redução desigualdades; lançamento de publicações com propostas concretas para municípios; empresas e entidades sindicais combaterem as desigualdades; apresentação de pesquisa do IPEC sobre percepções dos brasileiros sobre desigualdades e mapa das desigualdades entre capitais brasileiras.
CARLOS PEREIRA