Wellington Macedo de Souza recebeu liberação do STF para permanecer em silêncio em questionamentos que implicassem autoincriminação
O terrorista Wellington Macedo de Souza decidiu ficar em silêncio na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do Golpe, em funcionamento no Congresso Nacional, nesta quinta-feira (21).
Antes, porém, de silenciar-se diante das inquirições dos parlamentares, fez um pronunciamento inicial, alegando que vai colaborar com o colegiado, em outro momento, quando a defesa tiver acesso às investigações contra ele.
Wellington Macedo foi condenado por envolvimento na tentativa de explodir bomba nas proximidades do aeroporto de Brasília, em dezembro de 2022, e foi preso na semana passada no Paraguai, onde estava foragido.
“Vou colaborar com vocês a partir do momento que os meus advogados tiverem acesso aos autos acusatórios contra essa pessoa que aqui está, que até hoje tem pago o preço tão alto, de tanta humilhação. Quando tiver acesso aos autos, vocês podem me convocar novamente aqui, que vou colaborar com vocês respeitosamente. É só isso que tenho a falar”, disse à CPI.
PEDIU AO STF PARA NÃO COMPARECER
A relatora da CPMI, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), fez questionamentos ao blogueiro bolsonarista, mas recebeu a mesma resposta citada anteriormente. A postura também foi adotada diante das perguntas de outros parlamentares.
Para a relatora Eliziane Gama (PSD), as mensagens que fazem parte da denúncia efetuada pela Procuradoria Geral da República (PGR) indicam que o acampamento localizado em frente ao Quartel General do Exército (QG), em Brasília, era um espaço de planejamento de atos terroristas.
Eliziane mostrou mensagens de conversas entre Wellington Macedo e George Washington de Oliveira Sousa, também condenado a prisão pela tentativa de atentado a bomba, havia pedidos e orientações para que Colecionadores, Atiradores Desportivos e Caçadores (CACs) fossem treinados e acionados para as manifestações.
Ainda na avaliação da relatora, os atos que ocorreram em dezembro de 2022, como a tentativa de invasão ao hotel, em Brasília, onde o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, estava hospedado (5/12); o ataque à sede da Polícia Federal (12/12) e o atentado a bomba no aeroporto foram todos gestadas e planejadas de dentro do acampamento junto ao QG do Exército, em Brasília.
“Lá estavam um acampamento montado com armas, munição de grosso calibre e também com esse tipo de discussão”, observou a senadora.
Parlamentares governistas rebateram a argumentação da defesa de Wellington de que não teve acesso ao inquérito. Eles lembraram que o advogado do apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem acesso ao processo, inclusive porque ele já foi condenado.
A defesa de Wellington Macedo apresentou pedido no STF (Supremo Tribunal Federal) para tentar impedir o comparecimento do bolsonarista no depoimento, o que foi negado pelo ministro Luís Roberto Barroso. O magistrado permitiu que o blogueiro ficasse em silêncio em questionamentos que implicassem autoincriminação.
Wellington Macedo estava foragido da Justiça brasileira até a quinta-feira (14) passada, quando operação conjunta da Polícia Nacional paraguaia com a PF (Polícia Federal) o localizou em Cidade do Leste, no Paraguai. O blogueiro foi preso e levado para o Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal.
REAÇÃO À DECISÃO MONOCRÁTICA DE MINISTROS
Diante da decisão do ministro André Mendonça, do STF, o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União Brasil-BA), cobrou que a Mesa Diretora do Senado, por meio do presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), apresente ao STF ação de descumprimento de preceito fundamental para definir se o colegiado tem poderes para ouvir pessoas convocadas.
Maia ainda criticou as decisões monocráticas recentes que impediram a presença de convocados.
A CPMI está perto de encerrar as atividades. A previsão é que Eliziane Gama apresente parecer ao colegiado até dia 17 de outubro, que vai ser lido ao grupo e, posteriormente, votado.
QUEM É WELLINGTON MACEDO
Wellington Macedo participou do governo Bolsonaro como assessor da Diretoria de Promoção e Fortalecimento dos Direitos da Criança e do Adolescente no Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, cuja ministra era a atual senadora Damares Alves (Republicanos-DF).
Segundo o Portal da Transparência, o blogueiro tinha remuneração de R$ 10.373,30. A plataforma ainda mostra pagamentos de cerca de R$ 24 mil em indenizações e pagamentos de diárias após ser exonerado. Depois da saída do Ministério, o bolsonarista ainda recebeu 4 parcelas do auxílio-emergencial, de R$ 600, que foram pagos em maio, junho, julho e setembro de 2020.
“ATO VIOLENTO E ANTIDEMOCRÁTICO”
O blogueiro foi preso pela PF em setembro de 2021 no inquérito que investigou a organização de manifestações violentas no feriado de 7 de setembro daquele ano.
Na época, ele foi apontado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) como um dos responsáveis pela divulgação de “ato violento e antidemocrático” previsto para aquela data. Em postagem no Twitter, ele registrou provável referência ao golpe militar de 1964. “Após 57 anos, serão derrotados os que se achavam donos do poder. Poder o povo dá. Poder o povo tira, só o povo é o poder”, escreveu.
Em 2022, Wellington Macedo tentou se eleger a deputado federal por São Paulo. Filiado ao PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), não teve sucesso ao obter 1.118 votos.
A campanha eleitoral do blogueiro nas redes sociais consistia na publicação de conteúdos em que ele aparecia exibindo tornozeleira eletrônica — a medida cautelar foi imposta pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes —, em substituição à prisão preventiva no inquérito das manifestações do Dia da Independência de 2021.
Com informações da Agência Senado