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Amontoar 1 milhão de palestinos de Gaza em área menor que o aeroporto de Londres é para perpetrar outra “Nakba”, denuncia o chefe da agência da ONU para refugiados palestinos, Philippe Lazzarini.
Começa a se generalizar a percepção, no mundo inteiro, de que o depravado regime Netanyahu/Gvir se colocou, como objetivo, perpetrar uma “Nakba de Gaza”, diante dos olhos de todos, e transmitido por celular, na tentativa não cair do poder em Tel Aviv.
O ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, acusou Israel no fim de semana de “um esforço sistemático para esvaziar Gaza de seu povo”.
Por sua vez, o chefe da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, em matéria de opinião publicada no principal jornal norte-americano da costa oeste, o Los Angeles Times, advertiu que o exército israelense está preparando o terreno para a expulsão em massa de palestinos para o Egito, ao mesmo tempo em que cria condições que os impossibilitarão de retornar às suas casas destruídas em Gaza.
A “Nakba de Gaza” é uma expressão que foi cunhada por um ministro de Netanyahu. E que o premiê israelense, de uma forma ou outra, vive repetindo. Outro ministro, o da ‘Defesa’, chamou os palestinos de “animais humanos”.
OUTRA NAKBA
“Os desenvolvimentos que estamos testemunhando apontam para tentativas [de Israel] de mover palestinos para o Egito, independentemente de eles permanecerem lá ou serem reassentados em outro lugar”, afirmou Lazzarini, após destacar que a ONU e até mesmo os EUA “rejeitaram firmemente o deslocamento forçado dos habitantes de Gaza para fora da Faixa de Gaza”.
“A julgar pelas discussões políticas e humanitárias em andamento, é difícil acreditar que os palestinos de Gaza que estão deslocados hoje terão permissão tão cedo de retornar às suas casas destruídas”, assinalou.
Ele denunciou que os sobreviventes estão agora sitiados, depois de empurrados para uma “pequena área” do sul de Gaza, perto da fronteira com o Egito. Muitos – acrescentou – estão sendo deixados com apenas uma opção: “deixar completamente o enclave sitiado”.
A “pequena área” citada por Lazzarini, um lugar arenoso e inóspito, para onde o regime Netanyahu não esconde que quer forçar os palestinos a irem, é menor que metade do aeroporto de Londres, como já amplamente denunciado.
“A triste realidade é que os habitantes de Gaza não estão seguros em lugar nenhum: nem em casa, nem em um hospital, nem sob a bandeira da ONU, nem no norte, no meio ou no sul”, acrescentou Lazzarini.
Entre as vítimas palestinas estão mais de 270 pessoas que estavam abrigadas em instalações da UNRWA no momento em que foram mortas.
O artigo foi publicado após Washington dar luz verde ao genocídio e à limpeza étnica perpetrados por Israel, ao vetar a resolução de cessar-fogo imediato em Gaza, o que torna os EUA, como apontou o enviado russo, Dmitry Polyanskiy, co-responsáveis pelas mortes de milhares de palestinos, mulheres, crianças e idosos – crimes de guerra sob a lei internacional.
Sob os novos bombardeios de segunda-feira (11), como destacou a Al Jazeera, Gaza “rapidamente se torna inabitável” e “afunda no abismo”. O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que “o sistema de saúde de Gaza está de joelhos e em colapso”.
O coordenador do grupo humanitário Médicos Sem Fronteiras em Gaza, Nicholas Papachrysostomou, disse que as pessoas no sul de Gaza estão adoecendo de infecção respiratória enquanto se aglomeram em abrigos lotados ou dormem em barracas em áreas abertas.”Em alguns abrigos, 600 pessoas dividem um único banheiro. Já estamos vendo muitos casos de diarreia. Muitas vezes as crianças são as mais afetadas”, disse.
“RUPTURA DE RELAÇÕES”
Na quinta-feira o portal de notícias norte-americano Axios havia exposto a advertência do governo do Egito a Israel de que a insistência em empurrar dois milhões de palestinos para o Sinai implicaria na “ruptura de relações”.
A advertência foi também levada ao conhecimento de Washington, como confirmado ao Axios por quatro autoridades americanas e israelenses.
Diaa Rashwan, chefe do Serviço de Informação do Estado egípcio, disse na quinta-feira (7) que o deslocamento de palestinos de Gaza para o Sinai “é uma linha vermelha” para o Egito e não permitirá isso, independentemente das implicações.
Segundo Axios, Egito, Jordânia e a Autoridade Palestina temem desde os primeiros dias da guerra que Israel empurre palestinos de Gaza para o Egito e não permita que eles retornem após a guerra.
No início desta semana, o exército israelense expandiu sua operação militar para o sul da Faixa de Gaza, concentrando-se na cidade de Khan Younis, levando muitos civis palestinos a fugirem para a cidade de Rafah, na fronteira com o Egito.
Na quinta-feira, o ministro egípcio das Relações Exteriores, Sameh Shoukry, no fórum de Segurança de Aspen, em Washington, disse que seria “inapropriado e em contradição com o direito internacional” se civis palestinos de Gaza fossem deslocados para o Egito.
POLÍTICA SISTEMÁTICA, DIZ JORDÂNIA
No Fórum de Doha, o ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, reiterou que “Israel está implementando uma política sistemática destinada a remover os palestinos da Faixa de Gaza em uma guerra que está custando a vida de milhares de civis”.
Segundo ele, os objetivos da guerra israelense são “criar uma nova realidade no terreno que leve a um futuro com mais ódio e mais problemas nesta região e no mundo”.
Ele acrescentou que a “ocupação israelense ignora todas as iniciativas” e “todas as leis humanitárias”, exigindo o respeito “às regras do direito internacional e do direito humanitário internacional”.
Em entrevista à PBS NewsHour, o ministro saudita das Relações Exteriores, príncipe Faisal bin Farhan, disse que se vê em Gaza “um nível de carnificina sem precedentes, que é injustificável sob qualquer pretexto de autodefesa”.
Sobre o veto de Washington à resolução do Conselho de Segurança da ONU, Faisal disse não conseguir entender por “um cessar-fogo” passou de alguma forma a ser visto como “um palavrão”.
“Normalmente, o que vemos quando há um conflito no cenário internacional, estamos todos sempre procurando uma maneira de acabar com os combates”, disse ele.
Ele acrescentou que Riad está focada agora em acabar com a guerra e, mais adiante, em levar a causa da paz. “A paz é a resposta. E isso vai precisar de um elemento palestino. Isso exigirá que avancemos irrevogavelmente para um Estado palestino”, acrescentou.
DESTRUIÇÃO APOCALÍPTICA, DIZ BORRELL
A situação em Gaza é “catastrófica, apocalíptica”, com uma destruição proporcionalmente “ainda maior” do que a que a Alemanha experimentou na Segunda Guerra Mundial, disse o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell.
As vítimas civis palestinas representam “entre 60% e 70% do total de mortes” e “85% da população está deslocada internamente”, disse Borrell.
“A destruição de edifícios em Gaza (…) é mais ou menos ou até maior do que a destruição sofrida pelas cidades alemãs durante a Segunda Guerra Mundial”, ele acrescentou.
“O sofrimento humano constitui um desafio sem precedentes para a comunidade internacional”, assinalou Borrell, que admitiu que a operação militar de Israel em Gaza como “desproporcional em termos de mortes de civis e danos a propriedades e infraestruturas civis”.
DIE-IN DIANTE DA CASA BRANCA
Um grupo de anciãs judias, da Jewish Voice for Peace (JVP), se acorrentaram à entrada da Casa Branca, para denunciar o genocídio em Gaza. Vestindo camisetas pretas com os dizeres “Not In Our Name”, as senhoras bradavam “Cessar-fogo, não genocídio”.
“Nós, como judeus mais velhos, sabemos como é o genocídio. Sabemos o que é genocídio. Está em nossos corpos, em nossos ossos”, disse Esther Farmer, que organizou a manifestação.
“Às vezes é difícil levantar de manhã para ver isso, e está sendo feito em nome dos judeus. Então, estamos aqui – como judeus idosos – para dizer: ‘Não em nosso nome’.”
Também o grupo judaico IfNotNow denunciou a cumplicidade de Biden com a carnificina em curso em Gaza, ao passar ao largo até do Congresso para enviar para Israel 14.000 projéteis de tanques. “Na sexta-feira, o governo Biden declarou legalmente uma emergência em Gaza”, disse o grupo judeu americano liderado por jovens nas redes sociais.
“Não foram cerca de 2 milhões de pessoas expulsas de suas casas, famintas e privadas de água. Ou 18.000 habitantes de Gaza mortos, incluindo 7.000 crianças. A emergência que declararam? Os tanques israelenses estavam com pouca munição.”
Em comunicado, a diretora-executiva dos Médicos Sem Fronteiras, Avril Benoît, chamou o veto do governo Biden ao cessar-fogo no Conselho de Segurança da ONU de um “voto contra a humanidade”. “O veto dos EUA”, ela acrescentou, “torna-os cúmplices da carnificina em Gaza”.
“Ao continuar a fornecer cobertura diplomática para as atrocidades em curso em Gaza, os EUA estão sinalizando que o Direito Internacional Humanitário pode ser aplicado seletivamente – e que a vida de algumas pessoas importa menos do que a vida de outras.”